No último domingo (28), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) publicou, em sua página na internet, a Resolução de Conjuntura do II Encontro de Negritude do PSOL. Ao contrário da ideia que buscou-se apresentar através do título O povo negro vai derrotar a extrema-direita, a política contida no seu interior não liberta, mas sim se opõe aos seus interesses gerais do povo negro.
O oportunismo diante das lutas sociais e a conivência com a repressão estatal
Ao invés de apresentar o assassinato da líder quilombola Mãe Bernadete e da líder indígena Nega Pataxó como resultado da luta pela terra e defender uma reivindicação concreta de expropriação contra os latifundiários, a “negritude” psolista busca utilizar esses mártires para enaltecer o mito de Marielle Franco para fins meramente eleitorais, como o próprio documento destaca o significado de sua morte.
Considerando a tese do próprio PSOL de que o assassinato de Marielle foi executado por milicianos ligados à extrema-direita, nenhuma política é apresentada no sentido de enfrentar a situação. Muito ao contrário disso, a única coisa que o PSOL sabe fazer é recorrer à justiça para “condenar todos os envolvidos”. Não há a reivindicação pelo armamento do povo e tampouco pela organização de comitês de autodefesa.
Até mesmo o “recrudescimento da violência policial no Brasil” é utilizado em favor da figura mitológica de Franco, nada de pedir o fim dessa máquina mortífera voltada contra a população pobre e preto do país, nem do aparato repressivo que inclui o judiciário e tampouco a legalização de todas as drogas como forma de combate à repressão.
Não existe a reivindicação pelo fim dos infernos na Terra representados pelos presídios, verdadeiros campos de concentração nazista, onde os prisioneiros do Estado são brutalmente torturados. No lugar disso, um comentário sobre a PEC da Privatização dos Presídios, que se trata de uma forma de fazer demagogia com um setor golpista da esquerda, que fica excitado com qualquer crítica ao governo Lula.
A defesa dos povos oprimidos e a luta contra o imperialismo
Apesar de citar e somente citar a Palestina, apresenta o suposto movimento de luta do povo negro norte-americano, “Vidas Negras Importam”, como responsável pela derrota de Donald Trump nas eleições. Deixando implícito o apoio ao candidato dos identitários, Joe Biden, que mantém há décadas relações com “Israel”, um regime colonial, racista e de apartheid. O atual presidente dos Estado Unidos está financiando o genocídio do povo palestino, que assassinou mais de 40 mil pessoas, das quais 70% eram mulheres e crianças.
O identitarismo levou setores do PSOL a defender “Israel” e atacar a resistência armada palestina liderada pelo Hamas, foi esta política que conduziu este partido a apoiar a OTAN contra a Rússia e também a não defender o Irã neste momento. No período recente, o partido apoiou também as operações imperialistas no Brasil, como a farsa do Mensalão e da Lava jato contra o PT. O líder do PSOL, Guilherme Boulos, também foi contra pedir o “Fora Bolsonaro” e não apoiou a declaração de Lula sobre o Holocausto na Palestina.
A questão material do povo negro e a ausência de um programa de desenvolvimento
As resoluções concretas para os problemas sociais dão lugar a patacoadas como a questão climática e o “racismo ambiental”. A questão climática se opõe à exploração do petróleo, uma política impulsionada pelo imperialismo, já a opressão do povo negro está relacionada com o desenvolvimento histórico da sociedade brasileira. É a defesa de que o negro permaneça acorrentado para sempre.
O petróleo brasileiro é uma fonte de riqueza imensurável que permite investir em saneamento básico, em moradia, na infraestrutura do País como um todo, problemas que atingem mais fortemente os negros. Além disso, pode ser utilizado alavancar o desenvolvimento industrial do país, que resulta na criação de empregos como forma de superação da miséria que a população se encontra.
O Encontro também aprovou ataques às empresas públicas. Foi aprovado apoia à condenação do Banco do Brasil, uma estatal bicentenária, como uma instituição racista, por ter sido utilizada no passado para movimentar dinheiro de pessoas ligadas ao escravagismo, e também incluir a Caixa Econômica Federal neste processo.
A reparação histórica que exigem é adoção da política de representatividade e financiamento de ONGs identitárias, medidas que não resultam em nenhuma mudança nas condições de vida da população negra do país. Os ataques aos bancos públicos somente contribuem para a entrega do patrimônio público justamente para os maiores inimigos de povo negro, que são os banqueiros.
Por outro lado, exaltaram o reconhecimento do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o papel de seu país na escravidão. Uma declaração que não muda absolutamente e que não passa de demagogia barata, uma vez que apoia o genocídio promovido pelo regime nazista israelense contra a população palestina na Faixa de Gaza.
O programa do PSOL para os negros se resume a esmolas do Estado, a única política apresentada é a dita representatividade, aumento das cotas para negros nas universidades e no serviço público. Não há defesa de um programa que resolva o problema do ingresso ao Ensino Superior como ingresso livre para todo cidadão nas Universidades, não há um programa de combate à pobreza com base na criação de empregos e na defesa de um salário vital para os trabalhadores.
Uma política demagógica para os negros
Finalmente, o PSOL se importa somente com identitarismo e formulações vazias. Contra racismo ambiental, reparação histórica etc. e etc. Não colocam as questões centrais do movimento negro. Não tem resolução sobre a palestina, só generalidade sobre a questão internacional. Do ponto de vista do sistema penal, não tratam absolutamente nada. Não abordam a questão da “saidinha” e tampouco das centenas de milhares presos.
A política identitária produziu uma verdadeira confusão no interior do movimento de luta do povo negro, que necessita ser orientado por um programa de luta contra a repressão estatal, contra os banqueiros, contra o imperialismo, em defesa da estatização petróleo nacional, pela reestatização completa da Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, entre outras empresas públicas como a Vale.
É preciso abandonar a demagogia e lutar por salário, emprego, moradia e terra.