A presença de Lula nas manifestações contra o governo Bolsonaro é uma necessidade política e um anseio popular. Enquanto o PT hesita em destacar seu principal dirigente, diversas figuras políticas artificiais procuram se apresentar como “líderes” do movimento Fora Bolsonaro, para fins exclusivamente eleitorais.
O aspecto eleitoral, não por acaso, foi usado pela esquerda pequeno-burguesa para tentar inibir a participação do político mais popular do país nas manifestações. Segundo esses setores, Lula exploraria eleitoralmente os atos e estabeleceria uma polarização entre ele e o atual e ilegítimo presidente.
Essa regra, no entanto, parece valer apenas para Lula e para o PT. O que mais se viu nos atos foram “lideranças” identitárias se autopromovendo, manobra que abraçou inclusive um grupo LGBT de dentro do PSDB, o partido que levou a fome a milhões de brasileiros nos governos FHC.
Lula e PT precisam superar essa política de dar ouvidos demais a setores que apoiaram toda a campanha de perseguição sofrida ao longo dos anos por parte da imprensa burguesa. Lula não é uma liderança artificial, o alicerce da sua figura política foi erguido pela mobilização de massas, com características revolucionárias, que enterrou a ditadura militar.
A polarização entre Bolsonaro e Lula não é uma criação da imprensa. Ela expressa uma tendência real de polarização que tem de um lado toda a direita golpista, incluindo a extrema-direita, e do outro as reivindicações populares, identificadas pela ampla maioria da população na figura de Lula, aquele que já neste século implementou programas de combate à fome em nível nacional.
Na ausência de Lula, sobra espaço para toda sorte de oportunistas. Em São Paulo, por exemplo, o PDT verde e amarelo levou bandeiras exaltando Ciro “Abutre” Gomes. A campanha cirista nas ruas entra num beco sem saída diante da presença de Lula, pois ficam em evidência os contrastes entre o líder sindical e o oligarca de Sobral, acentuados no último período.
O mesmo vale para o PSDB. Os principais representantes da terceira via mantém relações com alas direitistas do PT, mas encontram em Lula e na ala “lulista” um claro limite. Não é possível para quem está ligado aos trabalhadores dividir o palco com quem representa os interesses dos patrões. Para que isso aconteça, é preciso excluir Lula e os setores mais combativos da esquerda, como o PCO.
Lula não só deve liderar as manifestações, como não precisa ter pudor algum em se beneficiar eleitoralmente disso. A diferença entre Lula e os demais candidatos que estão participando dos atos é que ele não é uma liderança artificial e tem amplo apoio popular e, por isso, tem mais legitimidade para fazê-lo.
Ao invés de procurar o apoio de políticos que já traíram o PT, quando o partido mais precisou de apoio, é preciso mobilizar o povo, que é de onde emana a principal força do PT na política. Sem base popular e sem Lula, o PT seria um partido qualquer da esquerda pequeno-burguesa, ao estilo de um PSOL, por exemplo. O que mete medo na burguesia não é a capacidade conciliatória de Lula, mas seu respaldo popular. Mesmo se puder participar das eleições em 2022, Lula não pode ser iludido, para ganhar terá que travar uma verdadeira guerra. Sem o povo nas ruas ao lado de Lula, fica fácil demais para a burguesia, inclusive se decidir deixá-lo de fora novamente.