Em um país do mundo, uma mulher foi vítima de uma injustiça tão terrível quanto chocante. Poderia ser nos EUA, em 13 de março de 2020 quando a negra Breonna Taylor, de 26 anos, fora assassinada pela polícia de Louisville (estado americano do Kentucky), que invadira seu apartamento e executara a jovem. Infelizmente para mulheres, negros e o proletariado mundial (inclusive americano), o caso se deu na China. Tendo ocorrido em um país atrasado e em confronto direto com o imperialismo, logo foi usado como propaganda para campanha pró-imperialista.
No caso chinês, a mulher identificada como Xu, moradora da Shantou (Cantão), fora condenada por matar o marido após anos sofrendo com as agressões e ter o divórcio seguidamente dificultado pelas leis chinesas. Naturalmente não é uma situação apoiada em si. O que coloca a notícia no radar das discussões políticas é o fato dela aparecer na imprensa brasileira, onde o jornal golpista Folha de S. Paulo trouxe a notícia, tratando de acrescentar que o caso gerou ampla discussão no Weibo (rede social chinesa), onde uma maioria de comentários apareceram “culpando a morosidade do sistema legal chinês pela tragédia” (“Condenação põe em xeque regras da China para dificultar divórcios”, Igor Patrick, 17/12/2021).
O sítio de notícias chinesas em inglês SupChina tratou da questão também, indo além no uso demagógico da tragédia para fazer a propaganda. Além da repercussão nas redes sociais supracitada, a matéria informa:
“Sob a pressão do governo para ajudar a manter a estabilidade social e preservar a harmonia familiar em um momento em que a China luta contra o declínio das taxas de casamento e natalidade, os tribunais chineses tendem a minimizar o abuso de mulheres e empurrar as vítimas para a mediação em vez de lhes fornecer justiça” (“She was found guilty of murdering her abusive husband; an enraged Chinese public says the verdict is unfair”, Jiayun Feng 14/12/2021). O sítio ostenta o apoio de Max Baucus, ex-senador democrata e embaixador americano na China durante o governo Obama.
Campanhas demagógicas tendem a ser mais eficientes quanto mais se aproximam de problemas reais e o sofrimento das mulheres no capitalismo, torna essa importante parcela da sociedade um alvo fácil para operações desse tipo. Contudo, por pior que seja a situação da mulher chinesa sob o governo do PCCh, trata-se de um grave erro deixar-se confundir com a questão (como é comum à esquerda pequeno-burguesa) e apoiar toda sorte de arbitrariedades do imperialismo contra a nação asiática. O único resultado possível de um ataque bem sucedido das nações imperialistas contra a China, ainda que amparado por um véu de defesa das mulheres, é a deterioração da situação da mulher chinesa. E do mundo.
Devemos lembrar ainda a absoluta falta de moral da propaganda imperialista para portar-se como defensores dos direitos das mulheres. Isso porque o caso da jovem Breonna Taylor está longe de ser um evento isolado. Em 22 de agosto deste ano, a polícia da Filadélfia (Pensilvânia) respondeu a uma troca de tiros entre dois adolescentes disparando a esmo perto de um estádio de futebol americano, ferindo três pessoas e matando uma criança negra de 8 anos. Surpreendentemente, a promotoria abriu acusação contra os dois adolescentes pela morte causada pela polícia, valendo-se para isso de um malabarismo no mínimo cínico (“intenção transferida” foi a alegação).
Em meio a tantos exemplos da brutalidade alucinada da “democracia” americana contra o povo negro no próprio país, é igualmente cínica a tentativa de querer apontar o dedo aos desvios de qualquer “ditadura” no mundo. Além de não ter moral alguma para tal, é justamente a burguesia dos EUA e a das demais nações imperialistas, a fonte da qual se deriva toda a cadeia de opressão que atinge as mulheres, na China e em qualquer outro lugar. Uma luta decidida contra o fim dessa opressão e pela libertação da mulher passa, em primeiro lugar, pela morte dessa classe social parasitária.





