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Primeira tarefa é derrotar o golpe

As crenças do identitarismo no regime político antidemocrático

Ativista e militante do PT, Vilma Reis mostra as ilusões nas instituições da burguesia para a resolução dos problemas dos oprimidos

Diante da possibilidade real de que Lula seja candidato à presidência da República, depois que ele obteve seus direitos políticos de volta, a burguesia ataca em vários flancos diferentes para gerar confusão na esquerda sobre a política que se deve tomar. Esse é um dos pontos de vista sob o qual deve ser analisada a entrevista com a ativista do movimento negro e feminista, Vilma Reis, para a Folha de S. Paulo, na edição dessa segunda-feira do jornal.

De tudo o que a entrevistada falou, o jornal golpista destacou justamente aquilo que aparece para o público como uma espécie de crítica a Lula e ao PT. “Não dá para o PT voltar sem repartir o poder com mulheres negras, diz socióloga”, eis o título da entrevista. No entanto, se há alguma crítica a ser feita às posições de Vilma Reis, que é militante do PT, elas não têm a ver com sua concepção sobre Lula.

Em boa parte das perguntas, a socióloga é instigada a criticar Lula e os governos do PT, mas evita cair na armadilha. O trecho destacado para a manchete da entrevista soa crítico isoladamente, mas de fato não é no contexto geral do que diz a entrevistada. A Folha quer passar a impressão de que a ativista coloca a questão de mais mulheres negras no governo como uma condição para apoiar Lula, o que é simplesmente uma falsificação.

Feito tal ressalva, podemos analisar algumas concepções da ativista e socióloga que demonstram as ilusões do identitarismo e que dá margem a confusões que são exploradas pela direita.

Vilma Reis defende “mecanismos institucionais formais. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) precisa se dar conta de que não é da Suécia ou da Alemanha. Ele é do Brasil, e tem tido uma postura blasé em relação à carnificina da não representação. O Brasil é dos poucos países que tem um tribunal para cuidar do processo eleitoral. Essa estrutura nos custa bilhões, e não tem favorecido a democracia popular.”

Aqui fica claro que a ativista acredita que o Tribunal seria capaz de resolver o problema dos negros e das mulheres com uma simples reforma, um projeto de lei, ou nas palavras dela, “mecanismos institucionais”. Essa ideia mostra uma profunda ilusão no regime político e pior ainda no que há de mais antidemocrático deste regime que é o poder Judiciário em particular suas instâncias superiores.

O problema não apenas dos negros e das mulheres, mas de todo o povo oprimido, não será resolvido por meio de reformas nesses Tribunais. Trata-se de órgãos criados para oprimir o povo, esse é o objetivo do TSE, assim como é o STF. Uma política democrática e que visa a fazer evoluir a participação dos setores oprimidos na política, incluindo aí a política institucional, eleitoral e parlamentar, passa em primeiro lugar por defender a extinção do TSE. O TSE é parte do problema, não uma via possível para solucioná-lo.

Tal ilusão nas instituições antidemocráticas são parte de uma ideologia profundamente influenciada pelo imperialismo, como fica claro na crença nas eleições nos Estados Unidos. Ela afirma que “as eleições americanas viraram tabu entre players da política brasileira, garotos espertos da esquerda e da direita, porque, para debatê-las é preciso olhar para o Brasil, seu racismo e sua misoginia.” Para a socióloga, a vice-presidência dos Estados Unidos ocupada por uma mulher negra, Kamala Harris, é um exemplo a ser seguido no Brasil.

Bastaria, portanto, dar o poder para uma mulher negra que boa parte dos problemas estariam resolvidos. Tal concepção, que repete exatamente toda a demagogia imperialista repetida durante as eleições nos Estados Unidos, é também extremamente despolitizada. Nesse sentido, não importa a política de Kamala Harris, não importa que ela é parte de um governo genocida que inclusive é especializado em atacar países pobres, em sua maioria com população negra.

Por isso também Vilma Reis coloca no mesmo saco a esquerda e a direita na hora de criticar o que ela considera ser uma política que não dá espaço para as mulheres negras. Se a esquerda tem problemas nesse âmbito, e é inegável que tenha, de nenhuma maneira é correto comparar com a direita. Por mais críticas que se tenha aos partidos da esquerda oportunista no que diz respeito à sua política em relação aos negros e mulheres essa crítica deve ser diferenciada ao que faz a direita. “A gente combate o negacionismo da extrema-direita e também de uma esquerda tradicional que nega a potência do feminismo e da luta antirracista. O país tem cerca de 35 partidos, todos controlados por homens, brancos ricos ou de classe média. A política não se torna um lugar de criatividade se você pensa com um único grupo”.

A direita é inimiga declarada das mulheres e dos negros, assim como é inimiga declarada de toda a população explorada e oprimida. Tal como é colocada a crítica tem-se a impressão que tanto a direita quanto a esquerda seriam exatamente a mesma coisa no que diz respeito à política para o povo oprimido.

Em última instância, tal concepção leva à ideia de que Kamala Harris, mesmo sendo uma representante do imperialismo, é mais progressista do que a esquerda brasileira. Tal concepção não é correta e serve para confundir o panorama político.

A esquerda deve ser criticada, mas as coisas devem ser colocadas em seu devido lugar. No Brasil, estamos diante de um governo de extrema-direita, que foi colocado aí por um golpe de Estado impulsionado pelos aliados de Kamala Harris. É preciso ter muito claro que em primeiro lugar devemos combater essa direita golpista. Sua política é muito mais nefasta para as mulheres negras do que qualquer ausência ou não de representatividade na política nacional.

Tal representatividade na política só terá algum efeito real na medida em que o regime político golpista seja alterado. Em grande medida, querer representatividade sem modificar esse regime, ou seja, sem derrotar o golpe de Estado, é tentar começar as coisas pelo final.

A ilusão dos identitários reside justamente nisso. Como eles acreditam que a resolução dos problemas não está na política, mas em reformas superficiais na cultura, na representatividade, na linguagem etc., há uma crença no próprio regime político burguês, que é, em essência, o principal mecanismo de opressão. O exemplo de Kamala Harris deixa muito clara essa ilusão: a presença de uma mulher negra no segundo posto mais poderoso do país mais poderosos do mundo não vai transformar esse país e esse governo em democrático. Pelo contrário, Biden e Harris já demostraram sua política genocida contra os povos do mundo.

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