Em um artigo da Carta Capital, dois atores de uma série da Netflix, em entrevista defendem que é preciso parar de matar negros nos filmes. Os dois jovens chegaram a essa conclusão, não sem terem sido influenciados pelo identitarismo, após receberem mensagem de pessoas que assistiram a série e ficaram abaladas devido ao personagem interpretado por um dos atores ser assassinado. Para eles, o fato de negros deixarem de ser apresentados como traficantes, por exemplo, mudaria até o quadro de diretores e produtores de séries, que é majoritariamente formado por brancos.
Esse é um pensamento esdrúxulo. Se o negro não for mais assassinado nos filmes, a realidade dele irá mudar? Claro que não. A arte apenas imita a vida. O negro, na vida, na realidade, é assassinado todos os dias. Deixar de representar essa realidade nas telas de cinema não vai modificá-la em nada. Vai, no máximo, escondê-la. Ou seja, vai servir ao sistema de opressão contra os negros. Vai impedir que ao menos seja denunciado e exposto o que o negro sofre nos “bastidores”.
A questão fundamental é que dadas as condições reais do negro na sociedade capitalista, a vida não teria como imitar a arte. A realidade se impõe e o negro vive numa realidade absurdamente violenta, resultado de uma sociedade de classes. E é a maior vítima da polícia militar, por exemplo. O braço armado do estado burguês age sistematicamente contra os negros, maioria da população pobre, para mantê-los sob controle e não se revoltarem contra a burguesia.
Por isso, podem apagar todas as cenas de violência contra o negro, podem nunca gravar mais nada. Porque enquanto essa for a realidade, o negro será a maior vítima do estado burguês, que não só assassina, mas mata pela exploração do trabalho, pela fome, pela falta de saneamento básico, moradia e tantas outras desgraças promovidas pela burguesia contra as massas.
Infelizmente, devemos revelar um segredinho aos identitários, idealistas: a vida não imita a arte. E é precisa modificar a realidade partindo dela.