Pedro Castillo se elegeu no Peru com 50,2% dos votos contra os 49,8% de Keiko Fujimori. Foi uma eleição muito acirrada que repetiu, em menor escala, a bizarrice estadunidense, durando quase uma semana para contabilizar todos os resultados. Logo após os resultados ficarem empacados, a distância entre os dois começou a diminuir e a prole fujimorista logo começou a alcançar o candidato da esquerda. Quando ficou mais ou menos evidente que não seria suficiente para dar a vitória para a direita, Keiko Fujimori começou a acusar de fraude as eleições. Castillo venceu nas urnas, mas em que medida esse resultado será suficiente para os trabalhadores peruanos ainda não sabemos.
A direita está pedindo recontagem dos votos, e com uma margem tão apertada, seria muito difícil imaginar que o resultado pode ser revertido? É um cenário possível, uma vez que fica claro que a burguesia já fraudou as eleições – Castillo deveria ter ganho com maior facilidade. O imperialismo deu um série de golpes no continente, derrubou regimes e colocou a extrema-direita no poder, não será de mãos beijadas que deixará de exercer a mais completa manipulação dos regimes locais. Castillo venceu, sim, mas não quer dizer que esse resultado permanecerá o mesmo, ou que conseguirá governar. É uma equação simples, sem uma força contrária ao imperialismo, sem uma resistência, não tem porque o imperialismo ceder espaço e se retirar da política. Caso não haja uma mobilização de massas no Peru torna o governo da esquerda extremamente frágil.
Atualmente o país já está sendo controlado pela direita. O congresso, por exemplo, já se articula para impedir Castillo de governar. Sua eleição foi graças às massas populares que o apoiaram, e sua permanência dependerá do apoio nas mesmas. O presidente da esquerda nacionalista deve apoiar nelas para que possa ter um governo popular e garantir a governabilidade e mesmo impedir um Golpe de Estado.
Na Bolívia em 2019, mesmo com a vitória nas urnas, Evo Morales foi deposto por um Golpe Militar de extrema-direita. Mesmo que seu partido, o MAS, um partido conglomerado de elementos pequeno-burgueses e operários, vencendo as eleições subsequentes, não foi capaz de reverter completamente o Golpe dado em Evo, e não fez absolutamente nada com os militares que orquestraram o golpe, nesse sentido é um governo de mãos atadas, tutelado e permitido pela direita que apenas espera uma nova oportunidade para reverter a situação.
Uma coisa que ficou clara durante as eleições no Peru é que a burguesia e o imperialismo estiveram o tempo todo com Keiko, portanto é de se esperar que a resposta à derrota eleitoral deve ser enérgica, aos moldes que vimos no Brasil contra Dilma.
Outra coisa que depõe contra Castillo é sua postura demasiado conservadora. O atual presidente se declarou contra o aborto, a reestatização da empresas e outras pautas à esquerda quando foi indagado durante o período eleitoral. Certamente deve-se considerar que o imenso apoio popular que teve durante as eleições vai pesar no momento de traçar um plano de governo, porém não se pode ignorar que é um candidato pequeno-burguês, logo sujeito a ser influenciado pela burguesia, foi o que o levou a acenar para a esquerda diversas vezes na esperança de um acordo com a burguesia para poder governar sem muitos problemas.