Os capitalistas do Brasil estão negociando a compra de vacinas para uso próprio e comercial, mesmo sabendo que isso pode significar a falta destas no sistema público de saúde. Clínicas particulares estão negociando 5 milhões de doses da vacina Covaxin, produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech.
O presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacina (ABCVac), Geraldo Barbosa, defendeu-se dizendo que a acusação é uma falácia, dizendo que as clínicas particulares apenas servirão como elemento complementar ao sistema público de saúde. Em outras palavras, usou uma meia verdade para alegar que algo é falacioso.
Em um cenário onde, talvez pela primeira vez na história da humanidade, há demanda universal por um determinado produto farmacêutico e uma incapacidade do sistema capitalista em atender plenamente esta demanda, a procura pela vacina por entes privados em sobreposição à demanda dos sistemas públicos é uma clara tentativa de expropriação da população para atender aos interesses dos já bilionários monopólios da saúde.
Um ponto levantado é a questão do aumento da desigualdade. A vacinação de pessoas fora do plano nacional de imunização servirá apenas para aumentar a desigualdade e a sensação de injustiça social. Enquanto alguns poucos serão imunizados, as massas ficarão à margem do processo.
Entretanto, a grande sacada dos capitalistas não é apenas vender vacinas para os mais ricos, mas garantir que as vacinas serão usadas na imunização dos operários de algumas indústrias, de modo que estas possam voltar a produzir os lucros para os patrões. É óbvio que a industrias como a de alimentos e a mineração têm problemas para produzir, mesmo em um cenário econômico que lhes beneficia, por causa da pandemia.
Mais cedo este ano, os frigoríficos, que batem recordes de lucros com a exportação, tiveram um verdadeiro tsunami de casos de COVID-19 dentre seus trabalhadores. Isto fez com que alguns tivessem suas atividades suspensas por algum período. O objetivo, agora, é garantir que não haverá mais paralisações e isto só pode ser resolvido com a imunização dos trabalhadores.
A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) avaliar arcar parte dos custos da campanha de vacinação. Então, fica a dúvida de quem pagará o restante. Pelo histórico brasileiro, fica óbvio que os custos recairão ou para o governo ou para o trabalhador.
Se, porventura, o governo pagar, tem-se uma completa ilegalidade. Um criminoso uso do recurso público direcionado para o benefício, direto e indireto, de entes privados (clínicas e a indústria) e com intuito de lucro.
Entretanto, o mais provável é que os operários paguem de alguma maneira. As empresas farão todo tipo de artimanha para cobrar dos trabalhadores, seja por ameaça de demissão a quem não aceitar se vacinar por este modelo, seja pelo corte de algum benefício.
Deve ser lembrado o caso dos carteiros que, no início do ano, tinham de pagar testes para COVID-19 do próprio bolso, pois a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), chefiada pelo fascista General Floriano Peixoto, recusava-se a pagar o teste e criou gigantesca resistência para dar, aos funcionários, equipamentos básicos como máscaras e luvas.
Seja qual for o modo, certamente o trabalhador pagará a conta. Como ocorre de maneira corriqueira no Brasil, o trabalhador pagará para trabalhar.
Não deve-se, entretanto, cair na falácia de que o setor privado está agindo porque o estado é incompetente. Não se trata disto. Pelo contrário, o governo federal do ilegítimo e fascista Jair Bolsonaro, age em claro conluio com a iniciativa privada.
Bolsonaro, hoje, é o único líder mundial que se opõe à vacina. No Brasil, não existiu, na história recente, movimento de massas contra vacinas. O oposto é a verdade. O brasileiro, especialmente a classe trabalhadora, sempre levou seus filhos aos postos de vacinação. Tanto isto é verdade, que campanhas de vacinação levaram a erradicação de algumas doenças no país, como a paralisia infantil, não havendo nem a necessidade de leis que obrigassem a população a tomá-la.
Em todo período pós-golpe, o sistema público de saúde foi posto em risco tanto pela desorganização proposital quanto pelo corte sucessivo de recursos. A destruição paulatina do Sistema Único de Saúde (SUS) só beneficia a empresas privadas de saúde, que tornam-se “obrigadas” a suprir a demanda que o sistema público não consegue atender. Todavia, isto não pode ser feito abertamente. É necessária toda uma operação que coloque setores da população, especialmente a classe média, que ainda pode pagar pela saúde privada, contra o SUS. Por isso, a vacina é uma das etapas.
A concorrência entre os setores públicos e privados levará não apenas à escassez de vacinas, mas à inflação destas no setor privado, garantindo ainda mais lucros para os capitalistas. Em outro espectro, a população será induzida a achar que o público é ruim, quando, na verdade, é roubado por larápios engravatados.
A solução verdadeira para o problema da vacina é a mobilização popular pela vacinação universal e gratuita. Sem isto, não é possível garantir a erradicação do vírus. Pelo contrário, pode tornar toda campanha de vacinação inútil, pois como dito pela professora Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santos (UFES), se não houver vacinação em larga escala, haverá sempre o perigo da mutação do vírus, o que poderá tornar as vacinas ineficazes.
Outro ponto importante para a universalização da vacinação é a derrubada das patentes destas. As empresas produtoras receberam imensos aportes de dinheiro público pelo mundo a fora. Agora, receberão lucros quase infinitos. Os países que não puderem pagar verão sua população morrer como moscas.
Portanto, é hora de ir à luta pela vacinação de todo povo! É hora de dar um basta em quem usa a doença para lucrar!