A esquerda pequeno-burguesa brasileira parece estar se aperfeiçoando na habilidade do auto engano. A maior parte dos grupos da esquerda estão encarando as manifestações bolsonaristas do dia 7 de setembro como um fracasso de Bolsonaro. A capacidade de se enganar fechar os olhos para os reais perigos da política é realmente incrível.
É fato que Bolsonaro usou toda a máquina de que dispunha para encher os atos principalmente em São Paulo, em Brasília e Rio de Janeiro, além dos atos espalhados pelo País. Usou a máquina dos empresários que o apoiam, dos latifundiários e do governo. Tudo esse esforço foi necessário e é imprescindível para entender o número expressivo de pessoas nos atos.
Relativamente ao apoio popular de Bolsonaro, ele conseguiu mobilizar boa parte de sua base, que é minoritária. Mas é minoritária em relação à popularidade da esquerda e das forças populares. Mas é majoritária em relação a todo o restante dos agrupamentos burgueses que estão contra ele. E é bom que se diga, estão contra ele pois querem uma alternativa eleitoral, mas não estão dispostos a de fato enfrentar o governo, inclusive porque foram eles que elegeram e sustentam Bolsonaro.
Nesse sentido, Bolsonaro mobilizou uma enorme quantidade de gente que é parte de sua base social. Mobilizou sem a ajuda dos setores mais importantes da burguesia.
Uma comparação importante para entender a diferença é a evolução em relação aos atos golpistas pelo impeachmnt de Dilma Rousseff. Os atos do dia 7 foram, se não maiores na totalidade das cidades, maiores ou iguais na principais cidades. Isso significa que Bolsonaro conseguiu mobilizar uma quantidade de pessoas da direita sem a ajuda da rede Globo e do restante da imprensa, que foram as reais convocadoras daqueles atos do impeachment. Ou seja, as manifestações do dia 7 colocaram na rua apoiadores ideológicos de Bolsonaro, uma extrema-direita muito mais coesa do que os atos artificiais do impeachment.
Sem uma apreciação real da situação a esquerda coloca em risco sua própria sobrevivência. Se os apoiadores de Bolsonaro são minoria – e de fato são – isso não significa que eles não representem um perigo real. A extrema-direita bolsonarista ostrou força e capacidade de mobilização.
Para o esquerdista pequeno-burguês, ávido por cargos, a política é apenas um problema eleitoral. Bastam as pesquisas que mostram que Bolsonaro tem pouco apoio e isso já seria suficiente para dizer que ele está acabado. Tal é uma concepção infantil do problema
Se a esquerda e os movimentos populares não mostrarem nas ruas sua força real, que seja capaz de enfrentar a capacidade de mobilização do bolsonarismo, este pode crescer. Inclusive os setores da burguesia que procuram uma alternativa a Bolsonaro podem apoia-lo caso não consigam emplacar sua alternativa. Nesse momento, Bolsonaro está em vantagem sobre os demais setores da burguesia, mesmo sem o apoio do setor mais forte dela.
Ao invés de fechar os olhos para a realidade, a esquerda precisa colocar nas ruas a mobilização, que é sua única arma. De fato, nesse momento, o apoio de Bolsonaro é menor do que sua impopularidade. Mas esse sentimento oposicionista precisa se transformar em mobilização real, capaz de combater as hordas bolsonaristas, essas sim, mobilizadas e perigosas. Não será uma política eleitoral nem uma aliança com os setores da direita que resolverá o problema, se não apenas agrava-lo.