A menos de uma semana de mais uma das importantes manifestações do movimento Fora Bolsonaro, um fator político é o que tem marcado o debate e as tensões ao redor do dia dois de outubro. Esse fator é a articulação da esquerda oportunista com a direita tradicional “civilizada” para compor nas manifestações a chamada frente ampla, uma manobra política que não tem como propósito o fortalecimento do movimento pela derrubada do governo do fascista Jair Bolsonaro, e pela luta contra o golpe de estado de 2016, mas sim a ressurreição de setores falidos do centro político, de modo a encontrar uma alternativa para a burguesia à polarização política expressa no conflito entre o bolsonarismo/direita e a classe operária, que se vê representada na figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A esquerda, que antes de sair às ruas, se opunha até à ideia de fazer manifestações, hoje, após a pressão das bases se tornar insuportável, cedeu, mas ainda é muito relutante e em diversas oportunidades chega a sabotar as manifestações de diversas maneiras, sendo a mais marcante dessas o convite aos partidos falidos da burguesia a participar das manifestações ao seu lado, sob a alegação de estes estarem contra Bolsonaro, achando que isso agregará algum tipo de popularidade ao movimento, concepção essa que não poderia estar mais errada.
Em primeiro lugar é preciso deixar mais do que claro que estes partidos como Solidariedade, NOVO, PSB, PSDB, Rede e vários outros não são contra Bolsonaro. Se estes estão tendo essa política agora, não passa de puro oportunismo, pois poucos meses atrás estavam todos fechados com o bolsonarismo, e se a iniciativa de uma terceira via fracassar é bem capaz que voltem para o time de Bolsonaro, já que, como representam a burguesia, sabem que entre Lula e Bolsonaro, a escolha dos capitalistas é óbvia: Bolsonaro.
Em segundo lugar, é necessário entender que estes partidos, mesmo que apoiassem de fato as reivindicações levantadas pelo movimento, são cúmplices do golpe de estado, que tem o ódio da população que estará nas ruas e acima de tudo, não mobilizam ninguém, algo que ficou mais que provado com o fracasso retumbante da manifestação do dia 12 de setembro, organizada por alguns dos mais direitistas desses grupos, como MBL e Vem pra Rua.
Outro fator a ser levado em consideração para não aceitarmos a presença desses partidos no dia 2, é a sua posição contra o PT, partido predominante nas mobilizações e que tem o dever de estar à frente desse movimento. Todos os partidos da direita são radicalmente contra o PT e já estão levantando a bandeira do apartidarismo e do movimento “puro” e cívico “pela democracia”, um posicionamento que não é mais do que uma maneira cínica de se colocar contra a liderança do PT das manifestações. E mais do que apenas se colocar contra a dianteira do PT, essa posição aparece para afastar Lula dos atos, coisa que já vem sendo feita através de depoimentos que dizem que as manifestações não podem ser “um palanque eleitoral”, algo que parece não se aplicar para João Dória, do PSDB, que cada vez que abre a boca para falar, é para fazer campanha eleitoral como candidato da terceira via em 2022.