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Luta contra o imperialismo

A posição correta dos revolucionários sobre a guerra na Síria

É preciso uma política independente que em primeiro lugar chame o povo sírio a derrotar o imperialismo

No último mês de março completou-se 10 anos da Guerra Civil na Síria. Como desenvolvimento da chamada Primavera Árabe, uma sequência de levantes que tomou conta de quase todos os países do Oriente Médio e do Norte da África, a guerra civil na Síria é produto de muita confusão por parte da esquerda até hoje.

Prova disso é que um grupo de intelectuais sírios e de outros países publicou uma carta aberta criticando aqueles que, segundo eles, defendem um “anti-imperialismo dos imbecis”. A carta foi publicada no último dia 31 de março, intitulada “O ‘anti-imperialismo’ dos imbecis: fazer desaparecer o povo sírio através da desinformação”.

Grosso modo, a carta denuncia atrocidades que teriam sido cometidas pelo governo sírio de Bachar el-Assad não apenas durante os 10 anos de guerra, mas anteriormente:

“Aquelas e aqueles de nós que se opuseram diretamente ao regime de Assad, muitas vezes pagando um preço muito pesado, não o fizeram por causa de uma conspiração imperialista ocidental, mas porque décadas de sevícias, de brutalidade e de corrupção eram e continuam a ser intoleráveis. Fingir o contrário e apoiar Assad é tentar privar os sírios de qualquer poder político e aprovar a política assassina de longa data de Assad que privou os sírios de qualquer poder significativo sobre o seu governo e sobre a sua situação.”

Segundo os signatários da carta, quem se coloca no campo de defesa do governo sírio contra o imperialismo estaria sendo, portanto, conivente e cúmplice desses crimes de Assad. Mais ainda, essa posição, segundo eles, retira do povo sírio a autonomia necessária para a tomada do poder.

Em primeiro lugar é preciso esclarecer que defender determinado governo que sofre com a ofensiva do imperialismo não significa apoiar as ações políticas desse governo menos ainda uma concordância programática com ele. Tampouco significa apoiar possíveis atrocidades cometidas pelo governo.

A luta contra o imperialismo

A grande questão que se coloca para os revolucionários nesse caso é saber qual o sentido do desenvolvimento da luta de classes mundial. Se na Síria concordamos que há uma luta entre interesses imperialistas, em particular o norte-americano, em contradição com o governo, devemos entender em primeiro lugar que uma derrota do imperialismo é uma questão essencial para o desenvolvimento da classe operária em escala global. Ao contrário, uma vitória dos norte-americanos seria um retrocesso na mesma proporção.

Sobre esse problema fundamental da luta de classes, a carta, que no Brasil é assinada por integrantes do PSTU/Conlutas, não fala um só instante.

Quem lê o documento acha que simplesmente o que existe na Síria é apenas uma guerra entre o “povo”, representado pelas oposições, e o governo Assad, apoiado por russos, iranianos e chineses. Inclusive, tem-se a impressão que as únicas nações estrangeiras que participam na guerra são essas. Dá até mesmo a impressão de que os signatários da carta querem esconder a participação do imperialismo na guerra.

De fato, quem lê a carta fica com a impressão de que a presença do imperialismo é uma invenção daqueles que apoiam Assad, um pretexto para apoia-lo: o “anti-imperialismo dos imbecis”. Assim, passa-se a impressão de que na realidade é o bloco Rússia-Irã-China quem exerce interferência “imperialista”, mesmo tais países não sendo imperialistas.

A participação dos Estados Unidos na guerra, no entanto, é mais do que conhecida. Mais claros ainda são os interesses do imperialismo na derrota de Assad. Essa desorientação é a principal causa da posição dessa oposição, que acaba se alinhando aos interesses imperialistas contra o governo sírio.

Bastante esclarecedor é o exemplo da Guerra das Malvinas, de 1982, durante a sangrenta ditadura militar argentina. Naquele momento, mesmo sob um governo de tipo fascista, a esquerda argentina e sul-americana em geral se colocou a favor do povo argentino contra a agressão imperialista. Note que nesse exemplo, não apenas havia um regime sangrento na argentina, como de fato se tratava de um governo pró-imperialista como eram todas as ditaduras militares da América o Sul.

Ficar contra o imperialismo britânico não significava apoiar o governo militar. A maior parte dos grupos de esquerda, naquele momento, consideravam necessária uma política independente, que se opusesse claramente ao imperialismo e ao mesmo tempo mostrasse o caráter entreguista dos militares argentinos.

A oposição síria que assina a carta acusa o governo Assad de torturas e barbaridades, será possível que elas sejam piores do que as da ditadura militar argentina? Mesmo se fossem, porque a posição dos revolucionários deveria ser diferente em um caso e no outro? Não deveria.

No caso sírio há ainda um agravante: o regime de Assad não é aliado do imperialismo como eram os militares argentinos.

É por esse motivo que os signatários da carta ocultam a presença do imperialismo na guerra e atacam os que denunciam o imperialismo. Para justificar sua posição, é preciso mostrar uma realidade em que apenas o que existe são os supostos crimes de Assad e dos russos, ignorando o problema da luta contra o imperialismo, que segundo eles é apenas “propaganda perniciosa e desinformação que visa privar as sírias e os sírios de qualquer papel político.”

Autonomia do povo

Por fim, é preciso dizer uma palavra sobre essa questão da autonomia do povo sírio. Trata-se de outra deformação política. Sem primeiro derrotar e expulsar o imperialismo da Síria não haverá autonomia nenhuma.

Não existe uma “terceira via”. Até mesmo para fazer uma oposição coerente e revolucionária a Assad, é preciso em primeiro lugar colocar em marcha a luta contra o imperialismo. É preciso fazer isso com uma política independente, mostrando até mesmo que a política do governo burguês de Assad não dá conta de combater o imperialismo adequadamente e chamar a população, incluindo é óbvio, a base do governo, a uma mobilização revolucionária contra o imperialismo.

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