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A farsa do movimento “Povo na Rua”

PSOL, UP e PCB decidem parir a articulação "Povo na Rua", emulando o movimento bolsonarista "Vem pra Rua", que foi utilizado pelos capitalistas para sequestrar atos de 2013

Neste momento de grande mobilização, em que um segundo ato nacional já está sendo convocado, e que a burguesia claramente está contra as manifestações, um grupinho político descobriu que o mundo não é o aquário e que era o último setor da sociedade a sair debaixo da cama. O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que já, em si, uma amálgama de correntes internas em constante conflito entre si, cujo único interesse em comum é um lugar ao sol no regime político, arranjou para si duas outras siglas, ou correntes externas, por assim dizer, para cumprir com seu papel ridículo de face esquerdista do golpe de Estado: a UP e o PCB.

Curiosamente, seriam o partido mais novo e o mais antigo do Brasil. Seriam, se alguém estivesse disposto a cair nas ladainhas que os stalinistas contam de si próprios… A UP não representa nada de novo — não é um racha de uma organização, não vem de um movimento real, nem mesmo tem um programa diferente de qualquer legenda da esquerda pequeno-burguesa. Não é à toa que o partido ficou a reboque do PSOL nas eleições de 2020, apoiando o candidato desse partido em quase todas as capitais em que lançou candidato. E o PCB, por sua vez, não é tão velho assim… Foi fundado em 1996, por professores universitários e esquerdistas que não expressavam nada de importante. É por isso que tão facilmente se sujeitam a uma sigla reformista e com tradição golpista como o PSOL.

PSOL, PCB e UP conseguiram se unir umbilicalmente não por causa da tal “unidade na luta” que tanto pregam. Até porque não contribuíram com o dia 29 em coisa alguma. E mesmo um ou outro dirigente desse trio tenha participado do ato, nenhum deles convocou de fato o ato. Não colou cartazes, não distribuiu panfletos, nem mobilizou as pessoas para que estivessem nas ruas. Apresentam-se como grandes lideranças dos atos do dia 29 por pura “vontade”: basta dizer umas palavrinhas mágicas, gritar e arregalar os olhos em suas falas que o trio psolista já teria transformado a realidade. Basta dizer que quer derrubar o governo, que defende a igualdade, que os colocaria como lideranças do movimento. Se for assim, organizar o movimento não seria necessário: bastaria escrever uma carta de intenções que o governo cairia num precipício.

Apresentar-se como expressão do ato, como donos dos atos, é, no mínimo, uma desonestidade. Mas o problema vai muito mais além…

O que verdadeiramente unifica o trio é que são o setor antipetista da esquerda. São aqueles que não acordam nem mesmo com os terremotos das mobilizações populares, mas que pegam uma espingarda e saem atirando na hora em que ouvem falar no nome do PT. E, embora não sejam exatamente funcionários da burguesia, como são o PSDB e o DEM, sua política fica a reboque da burguesia. É uma cópia mal feita das pilantragens da direita, que entra em choque com os interesses da classe operária, ao mesmo tempo em que não consegue conquistar o prestígio da burguesia.

O debute do trio se deu no dia 1º de junho, quando decidiu chamar uma nada pretensiosa “assembleia geral” para decidir os próximos passos das manifestações de rua. Na “assembleia”, o trio apresentou o nome que resolveu dar para si: “Povo na Rua”. Para quem não tem memória de parlamentar safado, “Povo na Rua” é um desses nomes demagógicos e abstratos que apareceram nas manifestações de 2013. Uma das principais entidades da extrema-direita que surgiu em 2013 se chamava “Vem pra Rua”. Um grupo que apoiou o presidente fascista Jair Bolsonaro, pariu figuras como Joice Hasselmann e, junto com o MBL, foi usado para dizer que as reivindicações das mobilizações seriam de direita!

Não é por acaso. O que uma organização que se chama “Vem pra Rua” quer? O que um movimento chamado “Revoltados Online” quer? O que uma organização chamada “Povo na Rua” quer? É um mistério. Até o MBL, na medida em que se chama Movimento Brasil Livre, é mais transparente na sua política: a defesa de um suposto liberalismo econômico. E “Povo na Rua”, seria apenas uma tentativa de redenção por terem defendido tanto o genocida “fique em casa”? Pode ser qualquer coisa, desde “Povo na Rua” para derrubar o governo e convocar eleições gerais até “Povo na Rua” por um golpe militar.

O “Vem pra Rua” defende o golpe militar e o governo Bolsonaro, mas há uma certa realidade nisso. Na medida em que a polarização política aumenta, o uso das Forças Armadas para reprimir o povo se torna uma necessidade cada vez maior. A campanha de extrema-direita dos grupos bolsonaristas corresponde a uma política que está colocada na ordem do dia. Mas a demagogia do “Povo na Rua” não corresponde a nada, não leva a nada. É uma política que só leva à confusão.

Qual seria a melhor maneira de a esquerda proteger as manifestações para que não sejam sequestradas pela direita, para que elas levem a um enfrentamento contra a burguesia de conjunto? Ora, seria armá-las com aquilo que são os métodos e símbolos de luta da classe operária e que mais a burguesia hostiliza. Seria não um discurso vazio contra Bolsonaro — coisa que até Joe Biden é capaz de fazer —, mas uma crítica contundente ao regime golpista de conjunto: abaixo o STF, o Congresso golpista e a Polícia Militar! Seria não a bandeira do Brasil, explorada largamente pelos bolsonaristas, mas sim a bandeira vermelha, que é uma declaração de intenções. Queremos guerra contra a burguesia, não abraçarmos os “compatriotas” que estão entregando todo o patrimônio nacional para os países imperialistas. Seria, por fim, a defesa do patrimônio que a luta contra a ditadura militar nos deixou: Lula, uma liderança operária que influencia dezenas de milhões de pessoas e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). O “Povo na Rua” ignora tudo isso.

Comecemos pela bandeira do Brasil.

Parece ridículo, mas é o que é. O “Povo na Rua” usa o mesmo símbolo das manifestações bolsonaristas, apenas com a diferença de que não usa as cores verde e amarela. O efeito é o mesmo, é uma tentativa de dizer que não são bolsonaristas, quando somente descoloriram um dos símbolos que mais usam. Até porque não só usam a bandeira, como se recusam a usar o vermelho. No fim das contas, é apenas uma cópia mal feita, de baixo orçamento, das organizações golpistas.

Aos incautos, a bandeira do Brasil é empurrada como um artigo para “atrair” os setores que não seria ativistas da esquerda. Trata-se do exato oposto. O povo está nas ruas, e não é por uma bandeira. É por suas reivindicações, pela sua situação material. A bandeira do Brasil é uma garantia para os setores da direita saberem que quem está na direção do movimento não irá declarar guerra contra ela.

Passemos, agora, à questão do regime. Todas as falas da “assembleia geral” foram iguais. E por qual incrível coincidência? Seria por que a assembleia representou perfeitamente os sentimentos do povo na rua? Não, mas pelo motivo oposto. As falas foram iguais porque a “assembleia geral” foi mais um golpe de DCE do trio psolista: só participou quem tinha o carimbo dos organizadores. Na assembleia, conforme denunciado neste Diário, embora 5 mil pessoas supostamente tenham se inscrito, sendo que 800 pediram a palavra, nem 30 pessoas falaram. E a grande “solução” para isso foi intercalar as falas de representantes das “forças” — leia-se a esquerda antipetista — com sorteados, que, também, por muita coincidência, eram todos da esquerda antipetista!

E as falas, todas, tinham um mesmo sentido: “Bolsonaro é um genocida, um monstro, racista, que matou 450 mil pessoas etc.”. Tudo bem, Bolsonaro é um fascista e é responsável pelas mortes na pandemia. Mas ninguém, em 3 horas de plenária, deu um pio sobre os crimes do PSDB, do Judiciário, da Polícia Militar. Por isso, em si, não têm condições de expressar o que de fato são as mobilizações: um grito contra o regime golpista de conjunto. Partem do princípio de que Bolsonaro seria o único culpado por tudo. Estão, na verdade, passando pano para João Doria, que mentiu para todo mundo e não vacinou a população, para uma das polícias mais sanguinárias do mundo, para o STF, que abriu a porteira da Lei de Segurança Nacional… É um mundo maravilhoso, de fantasia, em que apenas Bolsonaro seria inimigo do povo. Sob esse critério, quem mais chegou perto de salvar a humanidade teria sido Adélio Bispo.

Não é por falta de informação que a esquerda antipetista não critica o regime. É porque se acostumou a ser uma esquerda que defende o regime. É o mesmo setor da esquerda que se recusou a sair às ruas contra o golpe, que se acha mais à esquerda que o PT, mas que é, na verdade, a face esquerdista da ofensiva golpista. Não denunciam o regime golpista porque acreditam, até hoje, que não houve golpe. O único golpe que teria havido no Brasil, para eles, teria sido a eleição do PT…

Uma das figuras públicas do PSOL que mais atacaram abertamente Lula, Dilma Rousseff e o PT foi a ex-presidenciável Luciana Genro, dirigente da corrente MES. E a corrente que mais apareceu na “assembleia” foi — olhem só — o MES! Em sua fala, a deputada gaúcha Fernanda Melchionna citou diretamente Luciana Genro. A principal moderadora da “assembleia” era, ela própria, do MES. Mas as relações com o antipetismo vão muito mais além…

Em várias falas, apareceu o discurso de que os atos do dia 29 aconteceram “a contragosto da velha esquerda que insistiu em desmobilizar o 29M por muitas vezes, não se manifestando, não se posicionando”. Ora, quem tanto fala em velha esquerda é Luciana Genro! E quem mais tentou desmobilizar os atos foi a própria esquerda antipetista. De quem então estariam falando?

É obvio que as críticas a “setores que querem esperar 2022”, entre todas as outras indiretas, são intrigas contra Lula e sua ala no PT. Lula não esteve no ato, nem o PT convocou de maneira intensa os atos. Resultado das contradições internas do partido, que vive uma guerra civil interna, entre o setor que quer derrubar o governo e eleger Lula presidente e o setor que quer permanecer agarrado ao regime político.

A indireta, inclusive, se revela como uma intriga contra o PT por outros aspectos que mostraram claramente o propósito dessas declarações. Um deles é a participação, muito celebrada pela esquerda antipetista, do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que é o único — e provavelmente permanecerá como único — pré-candidato a presidente da esquerda que está disposto a concorrer com Lula. É, portanto, neste momento, a expressão, em forma de candidatura, do antipetismo de esquerda. Em nenhum momento do chat do YouTube onde estava sendo transmitida a “assembleia”, a palavra de ordem de “Lula presidente” apareceu. Já “Glauber 2022” era o que mais aparecia. Em que assembleia minimamente democrática no planeta Terra, o povo estaria mais empolgado com o desconhecido Glauber Braga do que com o maior líder popular do País?

Outro aspecto importante é que toda vez que era feita uma crítica “aos setores que não se mobilizaram”, o chat do YouTube se revelava como um verdadeiro criadouro de ciristas e bolsonaristas com camisa do PSOL: “PT nunca mais”, dizia um. “PT tem seu palanque estabelecido, não se manifesta porque não quer”, dizia outro. “O PT pode ir, ninguém vai impedir, mas caiu a máscara já”. Entenderam bem o recado: a esquerda antipetista, em códigos esquerdistas, estava atacando o PT.

Por que alguém que está em uma verdadeira guerra contra o governo pela sobrevivência estaria tão preocupado em enterrar o maior líder do País para apoiar alguém que não tem vínculo algum com os trabalhadores? Ora, porque a preocupação não é derrubar o governo, é promover alguém que se coloca acima das manifestações. Alguém que tem como grande horizonte não a vitória do conjunto do povo, mas sim um cargo no regime político.

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