No próximo dia 09 de dezembro completam-se 40 anos da prisão ilegal de Mumia Abu-Jamal, militante do Partido dos Panteras Negras e jornalista, preso e condenado à morte por supostamente ter matado um policial em 1981 na cidade da Filadélfia. Desde então, sua prisão, uma vida inteira praticamente, gerou uma campanha internacional de denúncia da prisão política mais longa da história dos Estados Unidos.
Em 09 de dezembro de 1981 Jamal foi preso após socorrer seu irmão que estava sendo espancado pelo policial Daniel Faulkner. Segundo testemunhas, um homem que estava no tumulto e fugiu antes do reforço policial chegar, teria efetuado um disparo que matou Faulkner. Mumia entretanto, estava armado mas não teria utilizado, foi preso sem que os policiais apurassem minimamente o que avia acontecido. Daquele dia em diante até hoje está preso, tendo sido condenado à morte, ficado no corredor por boa parte de sua prisão, atualmente em prisão perpétua.
Em 1996, Jamal escreveu um livro contanto sua trajetória e vida na prisão (Ao vivo no Corredor da Morte) o que tornou público seu caso, gerando todo um movimento internacional de denúncias e pela revogação da sua condenação. Os advogados de defesa continuaram a recorrer contra a decisão, encaminhando inúmeros recursos, contra todo o processo, como: falta de investigação e interrogatório de todos os presentes na cena, falta de perícia na arma que estava com Jamal (não disparada), falta de investigação para encontrar o acusado pelas testemunhas de ter feito os disparos, a ameaça dos policiais às testemunhas para que não pronunciassem ou que para que mudassem as versões do caso, além do próprio juiz que o condenou em 1982 ter declarado sua posição abertamente preconceituosa e racista, a falta de provas materiais, até que em 2012, após um outro tribunal de recurso julgar novamente o caso, pena capital foi revertida para prisão perpétua, podendo a passar a conviver com outros presos e num regime comum a outros detentos. O que ameniza muito pouco a situação.
Mumia Abu-Jamal, hoje com 61 anos, passou 30 anos em isolamento no corredor da morte, no país que é um verdadeiro campo de concentração de grandes proporções, com o maior número de presos do mundo, mais de 2 milhões de pessoas encarceradas, cerca de 25% dos presidiários do planeta.
Mumia teve seus textos, lidos e traduzidos em vários idiomas, desde o início tem denunciado o encarceramento em massa como parte de uma estratégia de criminalização da população afro-americana, indígena, imigrantes que se defrontam com a repressão estatal norte-americana.
Jornalista e militante, Mumia atuou nos Panteras Negras, nunca se calou diante do racismo e das injustiças cometidas pelo governo norte-americano e seus aliados no mundo. Mumia, mesmo preso e isolado, sempre se preocupou com as lutas por justiça e igualdade, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo. Pela sua luta, ficou conhecido por ser voz dos que não tem voz, diante de um mundo em que a violência e repressão sobre os mais pobres tem raízes nas injustiças e desigualdades.
A luta pela liberdade de Mumia Abu-Jamal coloca em xeque o sistema de injustiça nos EUA e sua máquina de criminalização e encarceramento em massa. Um verdadeiro modelo de estado penal incentivado pelo interesse de empresas privadas que veem na quantidade de pessoas encarcerados um jeito perverso aumentar a exploração do setor mais pobre da classe trabalhadora e aumentar os lucros da administração e gestão da mão de obra, da prestação de serviços e abastecimento de presídios, muitos dos quais nas mãos de empresas privadas. Modelo já em andamento, inclusive, no Brasil e que está sendo exportado dos Estados Unidos para o mundo.
O caso de Abul Jamal, é um símbolo deste Estado ultra repressor e persecutório, que utiliza figuras do setor mais esmagado da população para “servir de exemplo” aos demais, para desestimular qualquer tipo de reação, muito menos as reações e organizações mais concretas e contundentes, inclusive com a organização em grupos armados, o que coloca estes setores com melhores condições para reagir de fato. Ou seja, o Estado burguês exportado para o mundo, até permite protestos pacíficos, passeatas e discursos demagógicos e pouco objetivos, mas jamais a organização de fato da classe trabalhadora e seu armamento, como fizeram os Panteras Negras e o Exército Negro de Libertação, assim como tantos outros grupos armados populares pelo mundo.