A crise política cada vez mais profunda do governo Bolsonaro vem sendo cuidadosamente acompanhada por movimentações bastante precisas da mais perigosa e estável burocracia do Brasil — as Forças Armadas. Nesse artigo, em que polemizamos com um artigo assinado por Gilberto Maringoni, demonstraremos que essas movimentações não têm sido corretamente assimiladas pela esquerda nacional, mesmo após a experiência de uma longa e sangrenta ditadura militar.
O título do artigo em questão, que chama particular atenção, é o seguinte: Não existem militares no Governo, existem pessoas fardadas, o que é diferente. A tese do autor é a de que os militares brasileiros que estão no poder, atualmente, não seriam pessoas capacitadas para a sua função — e, portanto, não mereceriam ser verdadeiramente considerados militares:
Se tivéssemos no governo militares que conhecessem campos de batalha, para além de filmes de Spielberg e Tarantino ou de games de computador, já teríamos uma ação conjunta do Ministério da Defesa com o da Saúde visando traçar um plano nacional de prevenção, com bloqueio de pontos de comunicação e isolamento territorial, como foi feito na China.
Que os militares brasileiros que estão incrustados no regime político pouco têm de eficiência em relação às demandas que as Forças Armadas deveriam ter, é algo óbvio. Afinal, como toda burocracia, seu interesse primordial não é o de defender os interesses da população, mas sim encontrar meios para manterem os seus privilégios. Por isso, a política da cúpula das Forças Armadas não poderá ser diferente, em linhas gerais, daquilo que defende a burguesia — e, nesse sentido, não se desenvolverão como uma organização verdadeiramente eficiente.
O grande problema, no entanto, é que muito longe de querer criticar as Forças Armadas como uma burocracia, organizada de maneira totalmente dependente da burguesia, Maringoni desenvolve a tese absurda de que os militares do governo Bolsonaro seriam uma parte podre da burocracia, chegando ao absurdo de defender que os melhores militares fossem colocados no governo:
O Brasil é um país que necessita urgentemente colocar seus melhores quadros militares no governo. Existem muitos oficiais competentes e de primeira linha no país. Os que estão no governo fascista visam apenas descolar boquinhas e vida mansa. E acabam por enlamear uma farda que não é deles, mas da Nação.