Em artigo publicado pelo portal Vermelho no último dia 6, a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, justificou o fato de que a legenda não havia até o momento se mobilizado em torno do impeachment do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro porque isso levaria à polarização política, e que a polarização política, por sua vez, favoreceria o próprio Bolsonaro. Trata-se, no entanto, de uma confusão tremenda. Conforme demonstraremos neste artigo, só é possível verdadeiramente derrubar o governo Bolsonaro se se intensificar a polarização política.
A tese apresentada por Luciana Santos não é nova. Com efeito, aparece de maneira recorrente no meio da intelectualidade pequeno-burguesa a ideia de que a polarização política seria um campo hostil para a atividade da esquerda. Isso, por sua vez, revela apenas o quanto a esquerda pequeno-burguesa é dependente da própria burguesia, ficando a reboque dela em todos os momentos decisivos para a luta de classes.
A polarização política não é uma invenção da esquerda, nem da direita; da extrema-esquerda, nem da extrema-direita. É um fenômeno da própria luta de classes, que foge do controle de qualquer partido político. Na medida em que as massas vão se experimentando com a política devastadora da burguesia — que, neste momento, recebe o nome de neoliberalismo —, naturalmente os trabalhadores vão se chocando contra o regime político, buscando uma alternativa para pôr fim aos ataques que aparecem travestidos do mito da democracia. A burguesia, por sua vez, reage organizando um polo em oposição a essas tendências revolucionárias da população, um polo que seja capaz de impor, por meio de mecanismos cada vez mais endurecidos, a vontade dela.
É justamente por isso que, na atual etapa de aprofundamento da crise capitalista, é inevitável que a polarização política se desenvolva. O centro político, compreendido como os partidos do regime, que foram responsáveis por aplicar a política neoliberal, por roubar a população em todos os aspectos, se encontra completamente desmoralizado diante dos olhos dos trabalhadores. É mais do que natural que o centro se dissolva.
Mas a dissolução do centro não deve ser motivo de lamentação por parte da esquerda — muito pelo contrário! É a oportunidade que se abre de os trabalhadores se organizarem em torno de seus próprios interesses, a oportunidade de se livrarem daqueles parasitas que estiveram há anos disparando todo tipo de ataque contra eles. Nesse sentido, o papel da esquerda deveria ser o de aproveitar as condições para mobilizar os trabalhadores contra os seus algozes, e não o de amenizar a polarização. Até porque amenizar a polarização resultaria inevitavelmente na política de aliança com os setores tradicionais da burguesia, justamente os setores que castigaram a população durante anos e que colocaram o povo em movimento contra o regime.
É essa política, de aliança com os inimigos do povo, como a que vimos no primeiro de maio, que faz com que a extrema-direita se fortaleça. Afinal, em vez de a esquerda ser vista pelos trabalhadores como uma ferramenta para destroçar seus inimigos, é vista justamente abraçada com as figuras responsáveis pela destruição do país.
Sim, travar uma luta pela derrubada do governo deverá aumentar a polarização política. E é justamente isso o que a esquerda deve almejar. Que os trabalhadores partam para uma luta decidida para dissolver o regime político controlado pelos golpistas. Sem isso, a iniciativa continuará nas mãos da burguesia. Isto é, ou Bolsonaro continuará no poder, até onde for essa a política da burguesia, ou será substituído por alguém que seja tão carniceiro quanto ele.
