Após protagonizar a reforma trabalhista de 2017, tendo se destacado então como um de seus principais articuladores, o padrinho político de Ciro Gomes, Tasso Jereissati (PSDB-CE) volta aos holofotes graças a ameaça de mais um duro ataque ao amplo conjunto da população: a privatização do serviço de saneamento básico.
Pela proposta do senador tucano, as prefeituras serão obrigadas a realizar licitações para o serviço de fornecimento e tratamento da água, seja para empresas estatais ou privadas. Caro que a previsão de participação de estatais só aparece como jogo de cena. O fundamental no projeto, que move a ação do “grande cearense” (segundo o mais notório membro da oligarquia Ferreira Gomes) é, obviamente, a imposição às prefeituras da necessidade dos municípios abrirem licitação à contratação de alguma empresa, e aqui, só alguém profundamente inocente pode ter dúvidas de que tipo de empresa vencerá os processos licitatórios.
Com histórico no campo dos ataques à classe trabalhadora, Jeiressati foi figura proeminente nas privatarias ocorridas nos anos 1990, destacadamente as que acabaram com o setor de telefonia, onde coincidentemente, o Grupo Jeiressati se beneficiou diretamente do verdadeiro crime cometido por Fernando Henrique Cardoso na doação do patrimônio público aos capitalistas. O grupo, que é também detentor da Coca-Cola no Brasil, volta assim, a ocupar um espaço nos noticiários com a tramitação do projeto defendido por Jereissati.
Curiosamente, nada disto parece incomodar o ilibado oligarca de Sobral, outrora colega de Jereissati do PSDB (atualmente no PDT, não se sabe até quando). Sempre pronto a disparar ataques demagógicos contra o dito “lulopetismo”, referência a Lula e o setor mais à esquerda do PT atacado como “corrupto” pelo político burguês (a exemplo do que diz a propaganda golpista), aos grandes expropriadores do patrimônio público, sobram elogios de Ciro Gomes, que não custa lembrar, até outro dia esteve publicamente associado a outro notório inimigo da classe trabalhadora: o famigerado capitalista Benjamin Steinbruch.
Entre elogios aos capitalistas que faturam empresas estatais em meio a criminosos processos de transferência do patrimônio público e ataques a lideranças identificadas com os trabalhadores, ganha também mais concretude a natureza política de Ciro Gomes, profundamente direitista e em cujo círculo, de amizades e alianças, só cabe o que existe de pior na cena política brasileira, os inimigos mais perversos da classe trabalhadora, os verdadeiros corruptos cuja cupidez chega agora à ameaça de roubo do fornecimento e abastecimento de água, serviço essencial à população que, a despeito de ilusionismos dispostos na lei que prevê a abertura de licitação, certamente será controlada pelos grandes capitalistas, os “vencedores” de 11 em 10 licitações.
A esquerda precisa se desfazer do distracionismo criado sobre a figura do ex-PDS, uma ilusão que já dura mais de quarenta anos e desde então, tem sido útil ao próprio e à burguesia a quem de fato representa. Nunca ao povo.