Desde o início da pandemia, o bloco dominante na burguesia brasileira, agrupado sobretudo em torno de Dória, soube tirar proveito das posições fascistas de Bolsonaro, junto a todo restante da população. A luta entre esses dois setores, aos olhos da esquerda se deram sempre entre o “bem” e o “mal”, contudo, o problema da vacina, hoje a principal questão em torno da pandemia, é uma grande disputa de verdadeiras quadrilhas, onde o povo está em último lugar.
Uma manobra da burguesia
A política dos governadores nunca foi de defesa da população, e Dória até certo ponto, foi muito bem sucedido na “maquiagem” dessa operação. A imprensa burguesa chegou a destacar, por exemplo, que Dória na questão da vacina se coloca como um “presidente da república”.
Durante a eleição Dória suspendeu todas as informações a respeito da pandemia. Logo após fechou as cidades, mostrando ser uma grande manipulação política. Bruno Covas na posse colocou que “o negacionismo está com os dias contados”. O grande jogo deste bloco político foi explorar as posições de Bolsonaro.
Não dá para dizer que apenas com a questão da vacina as eleições de 2022 estão liquidadas. Se não houver nenhum candidato à altura de Bolsonaro, ele sairá vitorioso. Caso Bolsonaro tivesse afundado com a questão da vacina, toda essa operação não estaria colocada.
O principal problema em torno do atual presidente é sua base sem sustentação clara, o fato de não ter um partido e seu isolamento na burguesia. Contudo, a disputa está muito longe de terminar.
Dória, os científicos, e os salvadores da pátria
A burguesia está jogando com a carta de ser a salvação do povo brasileiro, em torno do fato de “ter” a vacina. Porém, sequer há dados da veracidade dessa vacina, principalmente vindo de grupos como Dória, que não tem nenhum interesse em defender a população.
Dória anunciou que a vacinação no estado de São Paulo começará no dia 25 de janeiro. Em contrapartida, o governo bolsonarista por meio do ministério da saúde, declarou que a “vacina poderá ser distribuída ainda em dezembro”, caso a mesma esteja já adequada para uso.
Por mais que seja um jogo desonesto, a estratégia de Dória foi bem feita. O mesmo se tornou a principal figura da direita logo após Bolsonaro. Isso não quer dizer que isso será o suficiente para a retomada do governo federal por esse setor da burguesia.
Desenhou-se no último período o enfrentamento entre Dória e Luciano Huck, por exemplo. Dória representa o setor mais direitista. Existe um setor do PSDB que quer Luciano Huck, porém aqueles mais diretamente ligados aos partidos da ditadura estão com Dória em um primeiro momento.
Onde está a esquerda?
A esquerda ficou desnorteada desde o primeiro momento. Em vez de ter uma política independente, passou a defender os governadores “científicos”, como Dória. A esquerda poderia ter denunciado que este enfrentamento no interior da burguesia era muito artificial, e que a própria política contra a pandemia era extremamente irrisória. Um dado importante é que o maior número de mortos está justamente em São Paulo de Dória.
A esquerda fracassou até agora totalmente, o que apenas possibilita o crescimento de Dória. Esta política precisa ser mudada, nenhum setor da esquerda pode ter uma postura acrítica a respeito de qualquer medida tomada pela direita. A direita sempre terá uma posição que será no final, por mais “bondosa” que pareça, prejudicial ao povo.
É Preciso criticar a politica de contenção do Dória, exigir uma vacinação completa, e que a vacina seja de fato uma questão prioritária. A esquerda assim, deve, como sempre, ter um programa próprio, que abranja não só a vacina, mas sim toda a situação de esmagamento da população.
O que ocorre na prática é nada disso, a esquerda brasileira não ameaça em nada a política oficial da burguesia brasileira e fica assim a reboque do principal setor golpista. Para Dória, e todo seus setor, não há interesse algum na defesa da população.
A vacina é um problema de disputa econômica, e uma grande manobra política na luta interna de quadrilhas da burguesia.
Nesse sentido, coloca-se mais uma vez com urgência a necessidade de uma intervenção da esquerda, com uma política dos trabalhadores. O principal nome, responsável pela mobilização dos trabalhadores, quanto a luta política nacional é Lula, em torno da defesa de sua candidatura abre-se diretamente a possibilidade de intervir na luta política com um programa próprio, de esquerda.