O continente latino americano vem sendo sacudido, nos últimos dois meses, por gigantescas mobilizações de massas, algumas das quais com características abertamente revolucionárias. Enquanto fenômeno social latente, a sublevação está presente em praticamente todos os países, assim como os elementos de crise que fizeram explodir a revolta popular, embora a manifestação objetiva da luta social se dê de forma heterogênea e em conformidade com as particularidades de cada país.
A irrupção dos protestos multitudinários que arrastam milhões de pessoas às ruas são a expressão do repúdio generalizado dos trabalhadores, operários, camponeses, estudantes, indígenas e demais camadas exploradas das sociedades locais contra a opressão e a miséria imposta às nações pelo grande capital e o imperialismo, a força econômica e militar que dá sustentação aos governos antipopulares instalados nos mais diversos países das Américas e do Caribe.
Aqui no Brasil, desde a posse do governo golpista e fraudulento de Jair Bolsonaro, eleito sob a maior e mais escancarada das fraudes eleitorais da história recente da nação, observa-se um ambiente de absoluto repúdio ao governo do ex-capitão reacionário, que desde quando assumiu vem despejando sob as costas das massas todo o ônus da crise engendrada a partir do golpe de Estado de 2016. Bolsonaro está à frente do governo mais impopular do país das últimas décadas, ostentando índices de rejeição sem paralelo com nenhum outro mandatário em tão curto espaço de tempo e mandato.
Embora haja a intenção de acelerar e intensificar as medidas de ataque à economia nacional e às condições de vida da população, a burguesia, os militares e o imperialismo buscam agir de forma mais ou menos controlada em relação à selvageria e aos ataques contra a população, pois são sabedores do conteúdo absolutamente explosivo da crise social e da conjuntura política do país. O fato é que a temperatura política e social do país somente se mantém em estado de “banho maria” em função da absoluta recusa da esquerda nacional em impulsionar as tendências de luta presentes nas massas, o que pode ser constatado nas inúmeras e diversas manifestações de repúdio ao governo Bolsonaro.
O ambiente de radicalização marcado pela luta popular nos países vizinhos faz com que os trabalhadores e as massas empobrecidas do Brasil se coloquem em estado de alerta; em estado de prontidão, pois é iminente um levante popular também por aqui. Este é o temor da burguesia e do regime golpista em seu conjunto. Daí a certa cautela dos abutres golpistas na implementação do ataque às condições de vida da população explorada do campo e da cidade. O Brasil não é somente o país que detém a economia mais pujante da América Latina, mas também o país com a classe operária mais numerosa e concentrada, com sindicatos fortes e representativos; uma central sindical (CUT) com mais de quatro mil sindicatos a ela filiados e com movimentos de luta do campo com muito boa organização, treinamento e disposição de luta.
O que tem faltado ao proletariado nacional, aos trabalhadores e às massas populares é justamente uma orientação política das suas direções majoritárias no sentido do enfrentamento e da luta contra o regime político; contra o ataque às suas condições de vida; contra os planos de fome e miséria da burguesia e do imperialismo; contra a economia nacional; contra a soberania do país e que aponte claramente que mudanças reais na situação atual no sentido de uma vitoria dos trabalhadores só podem advir da mobilização popular, nas ruas.
É necessário um plano de lutas que centralize, unifique e impulsione a luta dos explorados em todo o país, a exemplo do que vem sendo feito nos países vizinhos (Chile, Equador, Bolívia). A bandeira a ser erguida como guia em todas as mobilizações não pode outra senão, em primeiro lugar, o “Fora Bolsonaro”; pela anulação de todos os processos judiciais contra o ex-presidente Lula e a restituição dos seus direitos políticos, convocação de novas eleições, com Lula candidato.