Desde o início de seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sofrendo intensa pressão da direita, tanto do bolsonarismo quanto da direita tradicional. Essa pressão reflete a fragilidade de seu governo, que, diferentemente dos primeiros mandatos, encontra-se enfraquecido. A tentativa do governo de ceder a essas forças direitistas para garantir estabilidade interna tem levado a um choque direto com a sua base de apoio, resultando até mesmo em uma divisão interna no PT.
No campo da reforma agrária, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) expressou insatisfação com a lentidão do governo em assentar famílias acampadas. Segundo João Paulo Rodrigues, coordenador do movimento, a meta de 20.490 assentamentos até 2025 é insuficiente diante das 60.000 famílias que aguardam uma solução. O movimento, que sempre esteve na linha de frente em apoio ao governo petista, agora exige uma posição mais firme do governo Lula e uma reunião urgente para discutir o tema. A lentidão, além de frustrar as expectativas dos militantes, é vista como um retrocesso diante das promessas de campanha.
A situação se agrava ainda mais no campo econômico, onde um manifesto recente, liderado por figuras de destaque no PT, como Gleisi Hoffmann, condena a política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O documento alerta para os cortes propostos em áreas vitais como saúde, educação, seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Essas medidas, segundo o manifesto, são uma capitulação à pressão do grande capital e da imprensa, que buscam chantagear o governo a adotar políticas de austeridade que impactam diretamente os mais pobres e trabalhadores, base histórica do PT.
Enquanto isso, a ala do PT que quer se submeter à ditadura da política neoliberal, representada por figuras como o deputado Emídio de Souza, defende a necessidade de respeitar os limites orçamentários, apelando para a “responsabilidade fiscal” do governo.
Este choque interno no PT e a insatisfação de movimentos como o MST devem servir de alerta para Lula. Se o governo persistir com uma política que busca agradar à burguesia e ceder às exigências do grande capital, acabará por perder o apoio de sua base popular. Em vez de fortalecer sua posição, o governo estará, na prática, se isolando e abrindo espaço para seus adversários, que usam as concessões como fraquezas para desestabilizá-lo ainda mais.
O governo precisa decidir entre caminhar lado a lado com o povo ou favorecer seus próprios inimigos. Sem uma postura firme e uma guinada em favor das políticas populares, Lula corre o risco de terminar seu mandato sem o apoio das massas, tornando-se vulnerável e facilmente derrubado pelas mesmas forças que agora tenta apaziguar.
Essa guinada à direita é um sinal claro de fraqueza, e cabe aos movimentos sociais e à base do PT alertarem o governo de que o preço dessa política será alto: o afastamento de seu próprio povo e o fortalecimento de seus adversários.