Matéria do portal G1 da última terça-feira (15) trouxe a denúncia de mulheres que tiveram a infelicidade de passar por um aborto espontâneo no Brasil.
A paralisação no avanço do direito ao aborto no país desampara não apenas as mulheres que por algum motivo necessitam recorrer ao procedimento do aborto mas também aquelas que de forma espontânea tiveram a gravidez interrompida sem chegar a dar à luz.
O relato das mulheres entrevistadas na matéria denuncia que os hospitais públicos brasileiros e inclusive os particulares não possuem estrutura alguma para lidar com a situação dramática da mulher que sofre um aborto espontâneo.
“Você vê todo mundo sair com um bebê no colo, e você acabou de deixar um lá. Não tem apoio psicológico, não tem estrutura, nem acolhimento. Assim como o parto deve ser humanizado, a perda gestacional também deve ser”, desabafou Juliana Molisani, que em 2020 sofreu um aborto espontâneo por falta de desenvolvimento do embrião.
“Eu fiquei o dia inteiro expelindo material, com outras mães ao meu redor e bebês chorando. Saí de lá 00h quando fui liberada para ir para casa”, disse ainda Juliana, denunciando a completa inexistência de uma ala específica no hospital para mães que perderam o bebê.
Assim como Juliana, Mayara Espíndola também foi literalmente deixada de lado na maternidade depois que os médicos concluíram que ela não teria condições de dar à luz:
“Passaram muitas horas até um médico explicar o que estava acontecendo. Até lá enquanto eu estava esperando e sempre avisavam que iria demorar para eu ser atendida, porque tinham mulheres parindo. Os médicos estavam preocupados com as mulheres que iam ter filhos vivos e eu tive que esperar no box. Foi solitário e desgastante. […] Senti que perder o meu filho era menos importante do que cuidar de uma mãe que iria sair com o filho vivo”, disse Mayara que sofreu um aborto devido a uma ruptura da bolsa gestacional que envolve o embrião.
“Ninguém olhou na minha cara, ninguém conversou comigo, ninguém fez nada. […] Perder uma criança e ser tratada como nada e ser deixada, jogada de lado, é muito ruim […]. Apenas uma enfermeira e o anestesista tiveram um pouco de humanidade comigo, o resto me tratou como se eu não fosse nada em cima daquela mesa de cirurgia. Conversavam sobre qualquer outra coisa entre eles, menos comigo“, denunciou Katiely que perdeu um bebê aos 22 anos e procurou atendimento em um hospital público do Distrito Federal.
Os relatos dessas e de outras mulheres demonstram que o aborto hoje no Brasil não é de fato garantido em hipótese alguma, nem mesmo quando acontece de forma espontânea e consequentemente menos ainda quando, não ocorrendo de forma espontânea, a lei garante a sua realização.