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Mato Grosso do Sul

PM-MS assassina índio guarani-caiouá com um tiro na cabeça

Assassinato ocorreu na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João, e demonstra porque a polícia tem que acabar

A Polícia Militar do estado do Mato Grosso do Sul assassinou o índio guarani-caiouá Neri Kaiowá na manhã desta terça-feira (18). O crime ocorreu na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João (280 km de Campo Grande), na fronteira com o Paraguai. Segundo denúncia feita ao Diário Causa Operária (DCO), Neri Kaiowá foi assassinado com um tiro na cabeça pelos agentes da repressão.

A denúncia recebida pela redação deste Diário também traz o áudio de uma índia, que denuncia o assassinato e pede ajuda para o País ver “o que realmente está acontecendo” na ofensiva dos latifundiários contra a mobilização do povo guarani-caiouá. Diz a mulher:

“Eu sei que a chegada de vocês, de alguém que virá para cá será tarde demais. Infelizmente, perdemos uma vida de novo lá, mas é muito importante virem e verem o que realmente está acontecendo.”

Em outro áudio, a mulher denuncia “uma vida perdida no Nhanderu Marangatu” e reforça o pedido para que alguém se dirija à retomada “para ver o que está acontecendo”:

“Bom dia, Grupo Cunhangua Tuguaçu. Infelizmente, uma vida perdida no Nhanderu Marangatu, na retomada, na retomada barra. A comunidade estava pedindo socorro, ajuda, mas ninguém chegou até esse exato momento para ajudar, pelo menos para ver o que realmente está acontecendo. Peço, em nome da comunidade, que alguém venha para ver o que realmente está acontecendo.”

No vídeo abaixo, também encaminhado pelos guarani-caiouá ao DCO, gritos de horror, choro, clamores por ajuda e conversas em guarani se misturam ao alerta dado pelos índios, que anunciam aos companheiros na mobilização: “já mataram um, voltem!”. Veja o vídeo:

 

Os índios guarani-caiouá enfrentam ataques constantes, a repressão policial se intensifica a cada dia. A trágica morte de Neri Kaiowá é a manifestação mais recente da violência que atinge suas comunidades.

Comandada pelo governador tucano Eduardo Riedel (supostamente, o “mal menor” nas eleições de 2022), a Polícia Militar do estado é a principal inimiga dos índios, utilizando táticas nazistas para defender os interesses dos latifundiários.

Longe de recuar, os guarani-caiouá têm se mobilizado para retomar as terras que já foram reconhecidas como suas. O início de uma operação para forçar a conclusão dos processos de demarcação de terras, no entanto, desencadeou uma reação brutal por parte da PM no estado, expressada pelo assassinato de Neri Kaiowá.

Essa situação mostra a importância da organização de comitês de autodefesa armados para que os índios possam se proteger dos pistoleiros e da polícia. Ao mesmo tempo, a extinção da polícia é uma medida crucial para interromper essa matança.

É fundamental que a esquerda apoie a luta dos guarani-caiouá pela conclusão das demarcações, pela autodefesa armada e pelo fim da verdadeira organização terrorista que é a polícia militar, denunciando os abusos e exigindo que o Estado seja responsabilizado por suas omissões. É preciso também responsabilizar Riedel, o homem por trás do comando da polícia, como o criminoso que é.

Fora Riedel e todos os assassinos de índios!

OUTRO LADO

Diário Causa Operária entrou em contato com o gabinete do governador Eduardo Riedel e com a Secretaria de Comunicação do estado, o qual encaminhou a seguinte nota:

“O secretário estadual de Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, esclareceu que os policiais militares que estão no local (100 homens) cumprem ordem judicial (da Justiça Federal) para manter a ordem e segurança na propriedade rural (Fazenda Barra), assim como permitir o ir e vir das pessoas entre a rodovia e a sede da fazenda. O conflito na região se arrasta há anos, no entanto, a situação se acirrou nos últimos dias.

Além da disputa por terra, também foi apurado pela inteligência policial que há interesses de facções criminosas relacionadas ao tráfico de drogas, já que há diversas plantações de maconha próximas à fazenda, do lado paraguaio, pois a região está na fronteira entre os dois países. As equipes de perícia já estão no local da morte para devida identificação e apuração dos fatos. Foram apreendidas armas de fogo com o grupo de indígenas que tentava invadir a propriedade e todo este material será coletado para formação de um relatório que será entregue em Brasília.”

DCO também tentou contatar o Ministério dos Povos Originários para um posicionamento oficial a pasta, comandada pela ongueira Sonia Guajajara, encaminhou uma nota oficial, a qual reproduzimos abaixo:

Nota – Assassinato de indígena Guarani Kaiowá na TI Ñande Ru Marangatu

Nesta quarta-feira (18), um indígena Guarani Kaiowá foi brutalmente assassinado com um tiro na nuca na Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, no município de Antônio João, em Mato Grosso do Sul, durante ação da Polícia Militar do Estado no imóvel denominado Fazenda Barra, sobreposto à Terra Indígena. A área havia sido retomada pelos Guarani Kaiowá na quinta-feira passada (12). O MPI manifesta seu profundo pesar e indignação por mais uma vida indígena perdida em ação daqueles que deveriam garantir sua segurança.

A ministra Sonia Guajajara entrou em contato com o governador do estado, Eduardo Riedel, reforçando o pedido feito pelo MPI para que o policial responsável pelo disparo seja imediatamente afastado e responsabilizado pela conduta inadmissível e violenta que tirou a vida de Neri Guarani Kaiowá. O MPI também enviou ofício à Polícia Federal pedindo pronta investigação e realização de perícias sobre a atuação da PM do estado, que já está atuando no caso, além de ter acionado o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União para que todas as providências legais sejam adotadas.

Na última sexta-feira (13), quando tomou conhecimento de ações truculentas perpetradas pela PM contra os indígenas – que deixou 3 pessoas feridas, uma delas por munição letal -, o MPI acionou imediatamente a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP) de MS para garantir a apuração dos fatos e devida responsabilização dos agentes, alertando ainda sobre o fato de inexistir ordem de reintegração de posse para a área.

Logo depois, a SEJUSP soltou nota em seu site ressaltando que não existia qualquer determinação para desocupação da área com uso da força.

“A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp) esclarece que não existe qualquer ordem de reintegração de posse sendo cumprida, tampouco preparativos”, afirma a nota.

Mesmo assim, os policiais militares prosseguiram com a mesma linha de atuação, agredindo os indígenas com tiros e pontapés, conforme relatos, e ateando fogo em barracos, mesmo com a presença de servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no território. A despeito da inexistência de determinação de reintegração de posse, a Tropa de Choque e o Departamento de Operações de Fronteira foram mobilizados, intimidando os indígenas e culminando na investida violenta realizada hoje, com a morte do jovem indígena, com sinais de execução.

Ainda na sexta-feira, um representante do MPI se deslocou para o município de Antônio João para averiguar a denúncia de ataque na TI Ñande Ru Marangatu. O servidor estava na região integrando uma força-tarefa composta organizações indigenistas e representantes do governo federal, incluindo o MPI, para acompanhar os desdobramentos das retomadas que vêm sendo promovidas pelos indígenas Avá Guarani e Guarani Kaiowá.

Houve uma reunião no batalhão da Polícia Militar em que foi acordado que o MPI, a Coordenação Regional da Funai e a Força Nacional de Segurança Pública iriam fazer um reconhecimento e relatório da situação. Além disso, foram colhidos depoimentos e evidências para a composição dos relatórios e registro da ocorrência junto à Polícia Federal.

No momento, uma equipe do MPI se prepara para se deslocar a campo. A Força Nacional está no local para reforçar a segurança dos indígenas.

TI homologada

A Terra Indígena Ñande Ru Marangatu foi declarada para posse e usufruto exclusivo e permanente do povo Guarani Kaiowá, por meio da Portaria nº 1.456, de 30 de outubro de 2002, e homologada por meio de Decreto Presidencial de 28 de março de 2005, encontrando-se o processo demarcatório judicializado, o que acirra o conflito na região.

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