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Brasil

Abin faz o que foi criada pra fazer: espionar opositores

Esquema de espionagem reforça a urgência de uma luta pelo fim da Abin e de demais agências de terror do Estado, que existem para fazer exatamente isso

Segundo denúncia da Polícia Federal (PF), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou ilegalmente pelo menos quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), oito parlamentares (quatro deputados federais e quatro senadores), um ex-governador, dois servidores do Ibama, três auditores da Receita e quatro jornalistas durante o governo de Jair Messias Bolsonaro (PL). A lista foi descoberta na última quinta-feira (11) pelos investigadores da Operação Última Milha, que teve sua quarta fase aberta.

No mesmo dia, agentes da PF cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília, Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Os mandados foram expedidos pelo STF e, entre os presos, estão quatro auxiliares de Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin. Segundo o portal Poder360 (Investigados por ‘Abin paralela’ sugeriram ‘tiro na cabeça’ de Moraes, Caio Vinícius, Letícia Pille, 11/7/2024), foram alvos de busca e apreensão: Mateus de Carvalho Sposito, José Matheus Sales Gomes, Daniel Ribeiro Lemos, Richards Dyer Pozzer, Rogério Beraldo de Almeida (foragido), Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Eodrigues.

Já as prisões preventivas e o decreto de afastamento dos cargos públicos atingiram:

  • Mateus de Carvalho Sposito, ex-assessor da Coordenação-Geral de Conteúdo e Gestão de Canais da Secretaria de Comunicação Institucional.
  • Richards Dyer Pozzer, acusado de ser o “’vetor de propagação de desinformação’ do esquema, segundo a PF” (“Influencer de Curitiba preso em operação propagava ‘desinformação’, diz Polícia Federal”, g1 PR, 11/7/2024).
  • Rogério Beraldo de Almeida, acusado, segundo Estado de S. Paulo, de propagar “fake news com base em informações da ‘Abin Paralela’” (“‘Abin paralela’: PF prende cinco em operação contra monitoramento ilegal no governo Bolsonaro”, Blog do Macedo, Pepita Ortega e Karina Ferreira, 11/7/2024).
  • Marcelo Araújo Bormebet, agente da Polícia Federal desde 2005 e ex-chefe da Coordenação-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Segurança Corporativa da Abin, onde segundo Estado de S. Paulo (“‘Abin paralela’: PF prende cinco em operação contra monitoramento ilegal no governo Bolsonaro”, Blog do Macedo, Pepita Ortega e Karina Ferreira, 11/7/2024), trabalhava com credenciamento de segurança e pesquisa para nomeações.

Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército que fazia parte do Centro de Inteligência Nacional (CIN) da Abin.

Os investigados são acusados de criar perfis falsos nas redes sociais e divulgar informações falsas sobre jornalistas e integrantes dos Três Poderes. Batizado na imprensa burguesa como “Abin paralela”, o esquema de espionagem também teria acessado ilegalmente equipamentos como computadores, celulares e outros meios de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos.

De acordo com matéria do jornal burguês Estado de S. Paulo (“Abin paralela monitorou Moraes, Toffoli, Barroso, Fux, Lira, Maia e jornalistas, diz PF”, Blog do Fausto Macedo, Pepita Ortega e Eduardo Gayer, 11/7/2024), foram espionados pelo governo Bolsonaro:

  • Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
  • Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal.
  • Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.
  • Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.
  • Deputado e presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
  • Ex-deputado Rodrigo Maia (PSDB-RJ), ex-presidente da Câmara.
  • Deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).
  • Ex-deputada Joice Hasselmann (PSDB-SP).
  • Senador Alessandro Vieira (MDB-SE).
  • Senador Omar Aziz (PSD-AM).
  • Senador Renan Calheiros (MDB-AL).
  • Senador pelo Amapá Randolfe Rodrigues (atualmente sem partido).
  • Ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB-SP).
  • Servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges.
  • Auditores da Receita Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.
  • Jornalistas Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.

Ainda conforme o Estadão, o esquema de espionagem também atingiu agências de checagem Aos Fatos e Lupa. As informações constam em um relatório de 187 páginas, nas quais a PF detalha o monitoramento dos alvos da arapongagem bolsonarista. Segundo o diário, “a Abin paralela não só reunia informações sobre os mesmos [espionados], mas também criava narrativas falsas, que abasteciam influenciadores do gabinete do ódio. Os dois principais operadores de tal esquema seriam o agente de Polícia Federal Marcelo Araújo Bormevet e o sargento Giancarlo Gomes Rodrigues, que integravam o Centro de Inteligência Nacional da Abin, cumprindo ordens do então chefe do órgão Alexandre Ramagem”.

Em seu perfil oficial no X (antigo Twitter), a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, comentou o caso, afirmando que a Abin fora transformada na “Gestapo particular” de Bolsonaro:

“Mais um negócio de família! É estarrecedor o que a Polícia Federal vem revelando sobre a Abin de Bolsonaro. Das rachadinhas ao golpe, da espionagem às fake news, o inelegível transformou a agência numa Gestapo particular, a serviço de seus interesses políticos e pessoais, incluindo a blindagem dos crimes da família. Durante quatro anos o Brasil esteve nas mãos dessa gente, pessoas tão bandidas que grampeavam uns aos outros. E tudo indica que fizeram coisas ainda piores contra o país, a Justiça e a democracia. É para encobrir seus crimes e enterrar as investigações que eles querem voltar. Que ninguém se iluda: não existe bolsonarista ‘civilizado’. São todos cúmplices do chefe inelegível.”

Em um dos principais órgãos de imprensa do bolsonarismo, o jornal paranaense Gazeta do Povo, o destaque até a noite da última quinta-feira era sobre o termo “Abin paralela”, criticado por servidores do serviço secreto brasileiro, que em nota assinada pela União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (INTELIS), criticaram o vocábulo. “O que os fatos revelam são pessoas externas às carreiras de inteligência inseridas no órgão para atuar de forma não republicana” (Funcionários da Abin criticam o uso do termo ‘Abin paralela’, Ana Carolina Curvello, 11/7/2024).

Em outra matéria do mesmo sítio, o destaque é à defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que negou envolvimento com o caso e publicou, na tarde da mesma quinta-feira (11), um vídeo no qual atribui as suspeitas de seu envolvimento com o suposto esquema de espionagem ao “grupo especial de Lula”.

“O grupo especial de Lula na Polícia Federal ataca novamente. Na ocasião em que eu fui vítima de criminosos que acessaram ilegalmente os meus dados sigilosos na Receita Federal, eles conseguem transformar isso em uso da Abin para me auxiliar de alguma forma” (Flávio Bolsonaro diz ser ‘vítima de criminosos’ e nega associação com ‘Abin paralela’, Camila Abrão, 11/07/2024).

Sobre o caso, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), afirmou o seguinte em sua participação semanal na TV 247 desta sexta-feira (12):

“A burguesia precisa de Bolsonaro. Se ela quiser se livrar do PT e de Lula, ela precisa do Bolsonaro. Porque os partidos que são chamados de ‘partidos de centro’ evaporaram na situação política. Eles perderam os eleitores e o que sobrou foi para a direita.

Essa tendência à direita já aparece na situação política de vários países: Estados Unidos, França, Inglaterra. Você vê o pessoal flertando com as ideias e o programa da extrema direita – mas não com o programa econômico. Acho que não dá para alimentar a ideia de que a democracia vai sobreviver até mesmo aos interesses da própria burguesia. Não. Eu sou muito contrário à ideia de achar que vamos acabar com a extrema direita por medidas judiciais, veja os Estados Unidos.”

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