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Futebol brasileiro

Zagallo, o Velho Lobo

Foi contra a imprensa brasileira anti-seleção que surgiu o "vocês vão ter que me engolir"

Juliano Lopes, do Zona do Agrião, especial para o Diário Causa Operária

Faleceu no último dia 5 de janeiro um dos poucos integrantes que ainda estavam vivos do primeiro título mundial da seleção brasileira. Mario Jorge Lobo Zagallo, alagoano, morreu aos 92 anos tendo deixado um legado gigantesco no futebol brasileiro.

Não houve, dentre os ídolos do futebol, aquele que não prestou homenagem ao Velho Lobo, e várias das homenagens foram feitas ainda em vida para o único tetracampeão mundial de futebol. Zagallo foi campeão do mundo nas campanhas de 1958 e 1962, como jogador. Em 1970 foi campeão do mundo como treinador e ainda se sagrou campeão do mundo em 1994, como auxiliar técnico. Outros títulos mundiais poderiam ter vindo, como em 1998, mas acabou se tornando vice-campeão do mundo no comando da amarelinha.

Por passagens em diversos clubes, tendo sido o professor de inúmeros jogadores, Zagallo foi homenageado por Zico, por exemplo: “o Brasil perdeu um dos maiores nomes da história de seu futebol, Zagallo. Campeoníssimo e que tive o prazer de trabalhar no início e final de minha carreira no Flamengo e ainda na Copa de 98”.

Dentre seus apelidos, o “Velho Lobo” é o mais famoso, mas também ficou conhecido como “Formiguinha”, e também foi reconhecido como o primeiro jogador brasileiro da história a ter o passe livre em uma época em que os atletas tinham total dependência dos clubes.

Muito famoso e reconhecido no Flamengo, Zagallo foi ídolo mesmo no Botafogo. Após conquistar o Campeonato Carioca, Zagallo foi contratado pelo Glorioso. Ao lado de Nilton Santos, Garrincha e Didi foi mais uma vez campeão estadual. Ele fez parte de uma das gerações mais inesquecíveis do clube, a que foi campeã brasileira em 1968. Não por acaso, o início de sua carreira como “professor” se deu no Botafogo, onde também ganhou inúmeros títulos.

Aliás, falando em títulos, como treinador, Zagallo se sagrou campeão nos quatro grandes clubes do Rio, tendo ganhado campeonatos também pelo Bangu. Como jogador, são inúmeros títulos divididos entre Flamengo e Botafogo, além do próprio América (seu berço) e a seleção brasileira. Também treinou o Al-Hilal, e foi campeão do torneio saudita na temporada 1978-1979. 

O alvinegro carioca, dentre tantos outros clubes, escreveu: “o Botafogo lamenta a partida de um dos seus maiores ídolos, campeão como jogador e treinador, com um currículo vitorioso e notável no esporte, uma verdadeira lenda do futebol brasileiro”. Ao que emendou o Flamengo: “nos deixou um herói que moldou a história do futebol brasileiro. Mario Jorge Lobo Zagallo entra para a eternidade como um revolucionário, um pilar histórico do esporte”. Uma das antigas três estrelas do uniforme do Flamengo tem sua origem no tricampeonato estadual, conquistado por Zagallo e grande time (1953, 1954 e 1955). O famoso Esquadrão Imortal que também tinha Dida no time e Joel. Não por acaso os três fizeram parte da conquista do mundial em 1958.

Existe um consenso em reconhecer no jogador Zagallo a técnica do roubo de bola feito por homens de frente, não somente pelos beques. Em diversos registros de sua atuação, é possível verificar isso, o que viria a ser amplamente utilizado pelo futebol moderno, como forma de contra-ataque. 

Campeão com o escrete de 1970, o Canhotinha de Ouro, Gérson, afirmou que com Zagallo não tinha essa de falar que não dava para fazer. Ele, Zagallo, pegava a bola e mostrava. O Canhota afirma que tem que colocar uma estátua de Zagallo na porta da CBF. “Antes de entrar [na CBF], cumprimenta o cara”, falou Gerson.

Diante dos achaques da imprensa nacional, toda vida atuando contra o futebol brasileiro, é que nasce o jargão “vocês vão ter que me engolir”, transmitido ao vivo quando da vitória da seleção brasileira em 1997. Desacreditada pela imprensa (sempre), Zagallo comandou a amarelinha contra a Bolívia na vitória por 3 x 1, na casa do rival, com gols de ninguém mais, ninguém menos que: Ronaldo (Fenômeno), Edmundo (Animal) e Zé Roberto. 

Muito se fala da qualidade técnica de Zagallo no comando da seleção, mas toda polêmica só surgiu em razão da campanha da imprensa brasileira contra o time nacional. Basta ver seus números no comando da mais temida camisa de futebol do mundo: são 131 partidas como técnico (um recorde jamais batido), contando com 97 vitórias, 25 empates e somente nove derrotas.

Zagallo é quem deixa a porta aberta para o 4-3-3, implementado por Vicente Feola em 1958. Nas palavras do próprio Velho Lobo: “O 4-3-3 não nasceu em 1962. Já em 1958 eu fazia a dupla função. Com a bola era um ponteiro. Mas também podia ficar e cobrir o Nilton Santos. Sem a bola, eu era o homem que dava vantagem numérica: se a jogada do adversário fosse pelo nosso lado, eu ajudava o Nilton a marcar o ponta. Dois contra um. Se fosse do lado oposto, fechava e ficávamos Zito, Didi e eu. Três contra dois no meio-campo”, afirmou em entrevista ao blog Olho Tático, do jornalista André Rocha.

Zagallo é daquelas pouquíssimas pessoas privilegiadas que tiveram o luxo de viver ao lado de Pelé, de jogar ao lado do Rei, e, como tal, deixou sua mensagem quando de sua morte, no final do ano passado. Afirmou o Velho Lobo:

“Meu maior parceiro se foi e é com esse sorriso que guardarei você comigo. Amigo de tantas histórias, vitórias e títulos e que deixa um legado eterno e inesquecível. A pessoa que parou o mundo diversas vezes. A pessoa que fez da camisa 10 a mais respeitada (…) Um brasileiro que defendeu nosso País em todo o mundo. Hoje o mundo, chorando, para e se despede do maior de todos. Do Rei do Futebol. Obrigado por tudo, Pelé. Você é eterno. Eu te amo”.

Restam somente quatro combatentes vivos da campanha vitoriosa de 1958, são eles: Pepe (88), Dino Sani (91), Mazzola (85) e Moacyr (87). Os primeiros que abriram caminho para que possamos torcer pelo hexa em 2026, sendo Mário Jorge Lobo Zagallo um dos mais importantes nesta jornada do futebol mais vitorioso do mundo, o futebol brasileiro.

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