A chacina do Guarujá, no litoral de São Paulo, teve repercussão em todo o País. Muito menos que deveria, diante da barbaridade da ação policial e da sequência de violações aos direitos humanos. Mas o fato é que, pelo menos por parte da imprensa capitalista e das redes sociais, o assunto foi discutido.
Por um lado, a extrema-direita e as autoridades públicas, aqui incluindo o próprio governador de São Paulo, defenderam abertamente a operação. Por outro, a imprensa, maestra do cinismo, veiculou todo tipo de informação favorável para a polícia – incluindo mentiras sobre a vida criminal das vítimas -, ao mesmo tempo em que perguntava se não teria havido algum “excesso”.
Nesse cenário, entre aqueles que comemoravam a morte de dezenas de trabalhadores e a imprensa que disfarçava o seu apoio à chacina insinuando que teria havido “excessos”, houve quem se escandalizasse e dissesse: “as chacinas estão virando rotina no Brasil”.
Nada disso. As chacinas sempre foram rotina no Brasil. Elas não são um acidente, nem um evento inexplicável, nem produto de “maldade” de um ou outro indivíduo. A matança indiscriminada da população pobre nas favelas já se tornou algo institucional. Isto é, o Estado brasileiro, entre as suas atribuições no sentido de conter os trabalhadores para manter os interesses dos ricos em ordem, já incorporou um verdadeiro esquadrão da morte.
Houve um momento em que o esquadrão da morte tinha um caráter institucional mais explícito. Na ditadura militar, quando as polícias militares foram constituídas e receberam carta branca para estabelecer a maior organização criminosa do País, vigoravam grupos publicamente conhecidos como esquadrões da morte. Isto é, grupos armados pelo Estado que se arrogavam no direito de tirar a vida de qualquer cidadão, sob o pretexto de “combater a criminalidade”.
A criminalidade nunca reduziu com nenhum esquadrão da morte, nem mesmo com medidas repressivas, como o aumento das penas. O crime é um fenômeno social, deriva das próprias contradições da sociedade. No entanto, assim como o “combate à corrupção” serviu de pretexto para um golpe de Estado em 2016, o “combate à criminalidade” serve de pretexto até hoje para instituir a pena de morte no Brasil.
Foi assim na ditadura militar e continua até os dias de hoje. E na medida em que a extrema-direita avança no regime, também os esquadrões se sentem mais confiantes para fazer qualquer coisa contra a populaçõa.