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Hino do Rio Grande do Sul

Ignorância e histeria e a concepção reacionária da história

Identitarismo quer vandalizar o hino do estado alegando uma interpretação totalmente sem sentido da história

A chamada “Bancada Negra do Legislativo Gaúcho”, composta por deputados do PSOL, PCdoB e PT, quer alterar o trecho do Hino do Rio Grande do Sul, segundo informa matéria do Brasil de Fato do dia 3 de julho.

A ideia da tal bancada é a de que o hino do estado seria racista. Tudo por conta de um trecho e do que eles chamam de “contexto” em que o hino foi feito. Essa notícia mostra que o identitarismo não é apenas um mal na política. Os identitários revelam também o baixíssimo nível educacional da população brasileira, infelizmente. Isso porque falta conhecimento dos fatos, mas principalmente capacidade mínima cognitiva para interpretar textos.

A polêmica não apareceu do nada. Conforme descreveu o colunista Hélio Rocha neste Diário, “durante a pré-campanha do ex-presidente Lula. Antes de ser entoado o hino local, de profundo valor simbólico para o estado que, talvez, seja o mais apegado à sua cultura regional, a plateia, inapropriadamente, lavava roupa suja em público gritando em uníssono: ‘hino racista, hino racista, hino racista!'”.

O debate absurdo já havia aparecido anteriormente também. Em 2021, vereadores de Porto Alegre ficaram sentados durante a execução do hino na cerimônia de posse; alguns deputados estaduais repetiram o gesto em 2022.

O deputado Rodrigo Lorenzoni, do PL, apresentou uma PEC que torna “protegidos e imutáveis em sua integralidade” os símbolos do estado, o que já mostra bem que a extrema-direita é quem está capitalizando a política grotesca e impopular desse setor da esquerda.

A votação da PEC foi adiada para a próxima semana.

Dito tudo isso, por que o hino seria racista? Talvez ele diga que negros sejam inferiores, talvez faça uma apologia à escravidão, algo assim. Nada disso! O “racismo” estaria em um pequeno trecho do hino: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.

Logo de primeira, ao bater o olho na frase, a impressão é exatamente a oposta. O trecho é uma crítica à escravidão, seja ela qual for. Será que perdemos alguma coisa? Vamos ler novamente: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Segunda análise, e nada, continua parecendo uma crítica à escravidão. terceira quarta, quinta análise. Realmente, nada de “racismo”.

O trecho deve – e parecer ser nesse caso a única interpretação correta – ser interpretado como: se um povo não tem a virtude de lutar, acaba sendo escravo. Isso serve para todos, incluindo para os escravos negros que existiam no Brasil no século XIX.

O hino não apenas não tem absolutamente nada de racista como é um chamado à rebelião contra a condição de escravo.

A ignorância, aliada à histeria, dos identitários impede de entender o básico de interpretação de textos, coisa que aprenderíamos nas aulas de português do ensino ginasial, como se chamavam antigamente as séries de 5ª a 8ª.

Como vimos, no quesito interpretação de textos a coisa não está boa para a bancada negra. Vejamos, agora, a explicação histórica.

O hino tem relação com a Revolução Farroupilha e, segundo a tese lunática dos defensores da alteração da letra, ela seria uma “guerra entre escravagistas” e por isso, segundo a matéria do Brasil de Fato o hino diz que os revoltosos “caso não fossem vitoriosos nesta luta; ou seja, não tendo virtude de vencer a guerra, acabariam sendo escravos, como os negros, mas da monarquia.”

A interpretação moral da história é outra deficiência dos identitários. Reduziram uma luta que fez parte da própria formação e consolidação do Brasil enquanto nação, que naturalmente terá uma série de contradições, a uma “luta entre escravagistas”. Uma interpretação livre da história do Brasil.

Essa ideia é uma falsificação do que foi a Revolução Farroupilha, seus objetivos e resultados. Mas mesmo se fosse exatamente como os identitários estão dizendo, a primeira pergunta deveria ser: “qual o problema?”. Nem todas as revoluções – poderíamos dizer, a minoria – foram lideradas por pessoas puras. Vejamos o caso da Revolução Francesa, feita por uma classe possuidora, a burguesia. Deveríamos excluir a importância revolucionária que cumpriu a Revolução Francesa para a humanidade por conta disso? Para os identitários, sim.

A explicação dos grandes conhecedores da história do Brasil é a de que os revoltosos usaram a frente dos Lanceiros Negros, composta por escravos, e depois a exterminaram. Se foi exatamente assim, como eles dizem, também não mudaria o fato de que a Guerra dos Farrapos foi um episódio progressista para a formação do Brasil, com todas as contradições que se possa apontar. Afinal, voltando à Revolução Francesa, a burguesia não mobilizou as camadas pobres para derrubar a aristocracia e depois acabou dando um golpe e assumindo o poder? Sim. E esse fato não muda o sentido geral progressista daquela revolução.

Como se vê, a concepção moral da história leva a uma concepção reacionária e, portanto, a uma política reacionária. É apenas esse o sentido da tentativa de mudar o hino gaúcho, uma medida direitista e reacionária. Um verdadeiro vandalismo histórico com um resultado contrarrevolucionário.

Sob o pretexto de defender os negros, querem vandalizar elementos da história do País. A tal bancada negra passa vergonha nacional. Se fosse apenas vergonha para os integrantes da bancada estaria tudo bem. O problema é que essa política acaba fortalecendo a direita que se aproveita dessas loucuras para fazer demagogia com a população.

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