A questão eleitoral, enquanto forma, pelo volume de propaganda e marketing que gira entorno disso, às vezes aparenta ser elevada à uma pertinência de conteúdo. Obviamente, a forma é reflexo do conteúdo. Mas jamais será o conteúdo em si. A essência.
Isso nos leva, de uma maneira primária, à ficar impressionados com essa forma. E essa impressão, geralmente, é uma superficial impressão. Às vezes, torna-se até perigoso falar de impressão ou absorção. E só poderia ser deste modo. Afinal, ao visualizar um corpo celeste, não há como se chegar de imediato ao átomo. Não há como chegar à substância, sem antes passar pelo conceito. E isso, não de forma abstrata, mas em um processo concreto, em um processo real e vivo. Do contrário, o conceito nada representaria, não seria expressão da substância.
A campanha do Presidente Lula, como qualquer processo histórico, ganha suas tonalidades. Os traços que se encontravam em preto e branco, ganham sua coloração. As camadas sociais internas, em constante disputa e luta de classes, que são a substância do processo, se expressam e assumem posição, tingem toda a forma, buscando territorialização ou reterritorialização, não apenas nas minucias, mas agora de maneira aberta.
Nacionalismo e repaginação neoliberal? Gestores do caos e liberdade nacional? Operários e camponeses; banqueiros, industriais e latifúndio? Indígenas e quilombolas; jagunços e agronegócio? Sem-teto ou especulação imobiliária? Imperialismo ou internacionalismo? Quintal dos EUA ou Pátria Grande? Reboquismo ou Frente Popular? Eis as escalas de tonalidades! Eis as escalas de territorialidade!
Longe de alheio à tal situação, Lula sabe muito bem o que lhe cerca. O programa nacionalista sempre busca a conciliação. Algo que não é condenável. O conciliador, é um conciliador. Não dá para, à partir de uma configuração ideal, tentar dar traços artificiais para aquilo que não é. As coisas tem de ser absorvidas, por aquilo que realmente são! O concreto, é concreto! Síntese de múltiplas determinações! E dentro das múltiplas determinações que constituem o companheiro Lula, se encontra o fato de sua acumulação de forças está profundamente vinculada à uma gigantesca base popular.
Por ser síntese de múltiplas determinações, há na campanha um impasse escalar. Isso é inegável, como à água é transparente. Esse impasse perpassou pelas minucias, caminhou pelas entranhas e está prestes à transbordar às bordas da taça.
Que o nacionalismo, sem uma firmeza operária, tende à procurar os pés do imperialismo, isso não é um segredo. Vargas, JK e Jango, as três maiores figuras nacionais, junto à Lula, nos dão um vasto exemplo histórico sobre tal questão. E a tendência final, é a capitulação. E quando não há capitulação, isso se dá pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas, e por conseguinte, pelo grau de contundência da incidência política proletária.
E é isso, que está em questão.
A classe operária atingiu graus de organização, de grande sofisticação. Cresceu e recuou. Mas jamais desapareceu! As organizações proletárias estão passando por mais um período de regime de forças, de uma verdadeira ditadura. E essas organizações saberão responder à altura do desafio histórico que lhes cabe. Saberão pegar a coisa, pela sua própria substância. Pois, afinal, são a própria substância!