Há alguns dias, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) resolveu endossar a lista de intelectuais e agrupamentos pequeno-burgueses que apoiam a candidatura de Guilherme Boulos e Luiza Erundina nas eleições de São Paulo. A decisão não causa espanto, uma vez que o PCB tem sido um aliado constante do PSOL nas eleições. No entanto, fornece-nos uma oportunidade de demonstrar como a política do PCB em relação ao PT é ultra-oportunista.
Não é objetivo nosso, neste artigo, criticar o apoio do PCB à figura de Guilherme Boulos. As diversas críticas que fizemos ao coordenador do MTST e a seus apoiadores servem também ao PCB: essa é a candidatura da “frente ampla” em São Paulo. Vamos, portanto, discutir brevemente o apoio do PCB à figura de Luza Erundina.
Luiza Erundina é hoje filiada ao PSOL. No entanto, isso nem sempre foi assim. Erundina foi antes filiada ao Partido dos Trabalhadores — partido esse que lhe deu projeção e lhe elegeu prefeita — e do golpista PSB. Erundina saiu do PT justamente por causa de uma grande crise gerada após decidir apoiar o governo de Itamar Franco. Nesse sentido, trata-se de uma figura de uma ala direitista do PT, bem mais à direita que o ex-presidente Lula, tanto criticado pelo PCB.
Como prefeita, Erundina não foi muito diferente de um político burguês qualquer. Em seu governo, a CMTC, estatal que controlava o transporte público, foi privatizada, e a mobilização grevista dos rodoviários, duramente reprimida. O youtuber do PCB, Jones Manoel, declarou recentemente que Erundina foi a melhor prefeita de São Paulo e que tratou de maneira exemplar o problema do transporte. Obviamente, não tem a menor ideia do que está falando. Sem ter vivido o governo de Erundina, apenas repete as palavras de Boulos em um gesto claramente eleitoreiro.
O que mais chama a atenção neste caso de Erundina e o PCB, no entanto, é que o PCB tem uma postura bastante agressiva com os elementos que compõem hoje o Partido dos Trabalhadores. Para o PCB, apoiar um candidato do PT é inadmissível, pois seriam todos eles reformistas, conciliadores e contrarrevolucionários. Mas o caso de Erundina mostra o contrário: o PCB não tem problemas em apoiar um político reformista e tipicamente burguês.
Isso porque, no fim das contas, a aversão do PCB ao PT não é por causa de sua política reformista, mas sim porque é duramente atacado pela direita. E, para fugira da pressão da direita, o PCB, que concorda em grande medida com a política reformista do PT, prefere aparecer como um opositor desse partido. Não é à toa que Lula, que é uma figura muito mais à esquerda que Luiza Erundina, nunca foi defendido pelo PCB, e só foi apoiado eleitoralmente pelo partido quando a burguesia estava, por meio da frente popular, apoiando o próprio Lula.