Na madrugada desta segunda-feira (9), as Forças Armadas da Federação Russa realizaram uma ampla operação de retaliação contra alvos estratégicos em território ucraniano, com destaque para o bombardeio de um aeródromo militar na região de Rovno, no oeste do país. A ofensiva ocorre como resposta direta a uma série de atentados promovidos por Kiev contra infraestruturas civis e militares russas, entre elas a destruição de pontes ferroviárias, ataques com drones a bases aéreas e o recente bombardeio de um centro cultural na região de Kursk.
Aeródromo bombardeado
De acordo com comunicado oficial do Ministério da Defesa da Rússia, os ataques noturnos atingiram um aeródromo nas imediações da cidade de Dubno, instalações industriais onde eram montados drones kamikazes, depósitos de munição e fábricas de armamentos. A operação foi motivada por uma série de ações que Moscou classifica como “atos terroristas” da Ucrânia.
Na semana anterior, a inteligência ucraniana havia anunciado uma ofensiva com drones de curto alcance contra bases aéreas situadas dentro do território russo. Segundo Kiev, os equipamentos foram lançados de compartimentos secretos instalados em vagões ferroviários. Moscou, por sua vez, acusou os ucranianos de exagerar os efeitos da operação, afirmando que nenhuma aeronave foi destruída.
A imprensa ucraniana afirmou que a Rússia utilizou mísseis hipersônicos Kinzhal na ofensiva contra o aeródromo de Dubno. Embora o governo russo não tenha confirmado os armamentos empregados, especula-se que o alvo incluía aviões F-16 fornecidos por países da OTAN e posicionados na região de Rovno, ao lado de caças soviéticos remanescentes da frota ucraniana.
Sabotagens e ataques contra civis
Os ataques russos também respondem a ações de sabotagem nas regiões de fronteira. No início de junho, duas pontes ferroviárias desabaram em sequência nos territórios de Kursk e Briansk, ambas em circunstâncias suspeitas. Em Briansk, o colapso de uma ponte causou o descarrilamento de um trem de passageiros, matando sete pessoas e ferindo mais de cem. O Comitê de Investigação da Rússia classificou os eventos como atentados terroristas organizados por Kiev.
No domingo (8), aproximadamente 30 mil pessoas ficaram sem energia elétrica após um ataque ucraniano a uma subestação na região de Kursk. No mesmo local, na segunda-feira (9), um centro cultural da vila de Prigorodnaya Slobodka foi atingido por um míssil. O governador Aleksandr Khinshtein relatou a morte de um homem de 64 anos e ferimentos em pelo menos cinco civis, incluindo o engenheiro-chefe do centro, que sofreu lesões por estilhaços, e duas mulheres, que sofreram concussões. Um incêndio consumiu cerca de 400 metros quadrados da instalação. Segundo canais russos no Telegram, o ataque teria sido realizado com um sistema HIMARS, fornecido pelos Estados Unidos.
Denúncias contra o Reino Unido
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, declarou nesta segunda-feira que “não há dúvida” de que o Reino Unido está diretamente envolvido na organização dos ataques ucranianos em território russo. Durante o Fórum do Futuro 2050, em Moscou, Lavrov afirmou que “tudo isso é feito pelo lado ucraniano, mas sem o apoio britânico seria impossível”. Para o chanceler russo, com o governo Trump buscando restaurar o diálogo com Moscou, “só restaram os britânicos” na linha de frente das ações subversivas.
A denúncia foi reforçada pelo embaixador russo em Londres, Andrey Kelin, que afirmou que a ofensiva com drones exige o fornecimento de tecnologias avançadas e dados geoespaciais, disponíveis apenas para potências como Londres e Washington. Kelin sugeriu, no entanto, que os EUA não teriam participado diretamente das últimas operações, citando a negativa de Trump em relação ao conhecimento prévio das ações de Kiev.
Questionado pela imprensa britânica, um porta-voz do governo se recusou a comentar sobre “operações em andamento”, mantendo a linha de silêncio adotada por Londres em relação ao conflito.
Troca de prisioneiros e devolução de corpos
Apesar da escalada militar, Rússia e Ucrânia realizaram nesta segunda-feira uma nova troca de prisioneiros de guerra. De acordo com o Ministério da Defesa russo, os militares libertados por Kiev pertencem à categoria de combatentes com menos de 25 anos de idade e estão sendo encaminhados para a Bielorrússia, onde recebem tratamento médico e psicológico antes de regressarem à Rússia.
O acordo foi firmado na última rodada de negociações diretas entre os dois países, realizada em Istambul, e prevê a troca prioritária de prisioneiros jovens, doentes ou feridos. Um número equivalente de soldados ucranianos foi entregue pelas autoridades russas.
Em paralelo, Moscou anunciou a devolução unilateral dos corpos de mais de seis mil soldados ucranianos mortos em combate. No sábado (8), uma tentativa de transferência de 1.212 corpos fracassou após a ausência dos representantes ucranianos no ponto de encontro. O Ministério das Relações Exteriores russo criticou duramente a decisão de Kiev, denunciando que o governo Zelensqui negligencia sua própria população.
A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, afirmou que a liderança ucraniana “não precisa de seu povo, nem vivo nem morto” e que está “cometendo genocídio contra seus próprios cidadãos”. O deputado Dmitry Belik, da Comissão de Relações Internacionais da Duma, sugeriu que o governo de Kiev evita recuperar os corpos para não pagar as indenizações prometidas às famílias. O Estado ucraniano anunciou anteriormente que o valor da compensação por soldado morto é de aproximadamente US$367 mil.