No próximo domingo (31), completam-se 60 anos do golpe de Estado que afundou o País em um dos momentos mais tenebrosos de sua história, com uma brutal repressão contra a classe trabalhadora, os estudantes e as organizações de esquerda. Pelo menos 434 pessoas morreram ou desapareceram no período, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade publicado em 2014, e estima-se que 20 mil foram torturados. Ir às ruas contra toda a obra macabra produzida pelo golpe de 1964, portanto, é uma demonstração de repúdio da esquerda brasileira, contra os golpistas do passado e do presente.
O setor mais mobilizado da direita, o bolsonarismo, tem entre suas bandeiras a defesa do legado de terror da Ditadura Militar. Embora derrotado por uma estreita margem nas eleições de 2022, este segmento mais radicalizado do campo direitista tem dado sucessivas demonstrações de força, como o ato de 25 de fevereiro, quando dezenas de milhares de bolsonaristas estiveram presentes na Paulista. A esquerda, por outro lado, não tem conseguido levar um público significativo nas manifestações convocadas para a luta contra os crimes do sionismo na Palestina e apesar da antecipação com que foi anunciado, teve atos muito esvaziados no último 23 de março.
Acuado, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, optou por cancelar os eventos marcados para lembrar a data histórica, evidenciando a defensiva em que o governo se encontra. O anúncio foi feito ao jornalista Kennedy Alencar no dia 27 de fevereiro, para a rede de televisão RedeTV!.
“Eu, sinceramente, vou tratar da forma mais tranquila possível. Eu estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos, estava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país”, disse Lula.
Trata-se de uma avaliação equivocada e que não pode ser seguida, entre outros motivos, por não ser verdadeira. Isso fica explícito em outras colocações do presidente, como se dizer “mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023”.
Ainda que se pudesse considerar os manifestantes de 8 de janeiro de 2023 como golpistas – o que precisaria ser provado e as evidências são contrárias a tal afirmação -, os participantes da manifestação em Brasília na data referida são justamente os bolsonaristas, defensores do golpe de 1964 e da Ditadura Militar. A esquerda empenhada a lutar contra esta corrente da direita não pode simplesmente abdicar da luta e da lembrança de toda a barbárie cometida pelos militares, especialmente quando tais crimes são defendidos pela direita.
Denunciar o golpe de 1964 é, fundamentalmente, enfrentar os defensores do golpe hoje, que já deixaram claro suas intenções de reproduzir o regime de terror iniciado após o 31 de Março, o que só não fazem porque as condições não estão dadas. Nesse sentido, não ir às ruas é facilitar o caminho para que o programa infernal desejado pela cúpula bolsonarista seja posto em prática.
Além disso, a simbiose entre a direita e o sionismo, que na Palestina, promove um dos mais horrorosos massacres já vistos pela humanidade contra mulheres e principalmente crianças, é um sinal de alerta para a esquerda brasileira. A defesa da Palestina e dos movimentos armados pela libertação da nação invadida – como o Hamas -, é vital para barrar a ofensiva tanto dos bolsonaristas quanto dos setores dito “civilizados” da direita, que nada tem de “civilizados”, como a defesa dos crimes de “Israel” contra o povo palestino deixa claro.
Em São Paulo, a manifestação está marcada para ocorrer na Avenida Paulista, às 15 horas, no MASP. O Partido da Causa Operária e os Comitês de Luta estão convocando toda sua militância e mais amigos e simpatizantes a comparecerem, expressarem seu repúdio ao golpe, sua oposição aos golpistas e sua disposição de luta contra aqueles que se mobilizam para fazer o País retroceder ao seu período mais sombrio, por meio das famosas “aproximações sucessivas” do general, ex-vice-presidente e ele próprio, saudosista da Ditadura, senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Venha, traga seus amigos e simpatizantes, todos são fundamentais para a luta contra o fantasma da Ditadura Militar, por um regime verdadeiramente democrático, onde interesses dos trabalhadores como salários, empregos, moradias e desenvolvimento possam ser conquistados.