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Leste Europeu

Uma análise do mundo da fantasia sobre as eleições russas

Artigo traduzido pela Revista Movimento ignora por completo a atuação do imperialismo

No artigo Análise da eleição presidencial russa de 2024, traduzido e publicado pela Revista Movimento, pertencente a uma corrente interna do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Daniil Sapunkov, um russo residente nos Estados Unidos, apresenta suas teses para a disputa presidencial no maior país em extensão territorial do planeta Terra.

Toda a sua análise sobre a eleição se resume ao seguinte: o atual presidente, Vladimir Putin, seria um ditador e, portanto, as eleições não teriam qualquer relevância do ponto de vista da luta política. Curiosamente, em sua análise, não entram aspectos econômicos, sociais ou relacionados à política internacional.

“Putin tem permanecido nos níveis mais altos de liderança desde o ano 2000, quando foi eleito presidente pela primeira vez […] Por meio de uma sequência semelhante de manipulações constitucionais, o mandato presidencial foi ampliado de quatro para seis anos […]

Naturalmente, a legalidade de todos esses movimentos e eleições deve ser questionada […] A eliminação de ativistas da oposição e a prisão de manifestantes são práticas comuns na Rússia atual.

[…] A economia de guerra russa, que foi transformada pelo conflito na Ucrânia, está permitindo que Putin fortaleça seu governo autoritário. Na verdade, sua manutenção no poder depende de mantê-la funcionando.”

Como pode ser visto, a grande preocupação do autor é apresentar Vladimir Putin como uma figura “autoritária”. Ou, em termos ainda mais esdrúxulos, em uma pessoa “má”. Não por acaso, é a mesma visão que tem The New York Times, The Economist, Financial Times, The Wall Street Journal, Le Monde e todos os jornais que são porta-vozes do grande capital.

Se o grande problema da Rússia é que ela tem um presidente malvado, então tudo se resumiria a derrubar esse presidente para que seu povo fosse livre. Todos os problemas da Rússia seriam, portanto, produto da vontade pessoal de Putin. É absolutamente ridículo.

O que é mais importante para analisar a situação russa é, como sempre, a luta de classes. E qual é a luta de classes que se desenvolve de maneira mais intensa no país eslavo? A luta entre o imperialismo e a burguesa nacional e o proletariado russo. Ou, colocando em termos mais simples, entre o imperialismo e a Rússia.

Por sua enorme influência sobre todo o Leste Europeu, a Rússia sempre foi vista pelos Estados Unidos, Japão e União Europeia como um país que deveria ser contido ao máximo. Mesmo sendo um país atrasado, a Rússia, por sua extensão e pelo desenvolvimento de setores de sua economia, dificulta a dominação total do imperialismo naquela região.

Isso se tornou um problema ainda maior na medida em que, diante do enfraquecimento do imperialismo, Rússia, China e outros países começaram a fortalecer as suas alianças para aumentar ainda mais a sua influência. Nunca antes a Rússia teve tanta influência sobre os países africanos.

São nessa circunstâncias que a guerra da Ucrânia está inserida. Ela é o resultado do esforço russo de impedir o avanço do imperialismo sobre sua área de influência e da tentativa deste de sufocar militar e economicamente a Rússia. Diante de um conflito dessas proporções, há como ignorar a luta entre a Rússia e o imperialismo na análise do processo eleitoral?

Após suas primeiras considerações sobre o regime russo, o autor então passa a analisar os candidatos. Diz ele:

“Três outros candidatos de três partidos diferentes estarão dividindo a cédula com Vladimir Putin em março deste ano. (…)

Primeiro, Nikolaĭ Kharitonov é um candidato do Partido Comunista da Federação Russa (KPRF). (…) Ele se entrincheirou no sistema de Putin em troca de migalhas de capital político e apoia ativamente muitas políticas imperialistas, inclusive a invasão da Ucrânia. (…) Leonid Slutsky é um milionário e candidato do Partido Liberal Democrático da Rússia (LDPR), ultranacionalista de direita. (…) Ele é conhecido por ter sido acusado de assédio sexual em um grande escândalo em 2018. (…) Por fim, o último candidato que chegou à cédula de votação foi Vladimir Davankov, do Novo Partido do Povo (Noviye Ludiy). (…) Apesar do agnosticismo geral em relação a Putin, o partido apoiou a invasão da Ucrânia (…) Muitos candidatos de outros partidos foram excluídos das cédulas de votação por forças pró-Putin no governo por meio de uma série de manobras tecnocráticas e fraudes. Mais notavelmente, o político Boris Nadezhdin não pôde concorrer. Nadezhdin criticou abertamente a ‘Operação Militar Especial’ na Ucrânia e era alguém que a oposição liberal tentava cercar.”

Aqui, até aparece a questão da guerra da Ucrânia. Para o autor, contudo, ela serviria apenas como termômetro para determinar quem está com e quem está contra Putin. Nada diria respeito, portanto, à luta de classes. O que deixa isso claro é a menção positiva a Boris Nadezhdin, um político diretamente ligado ao imperialismo norte-americano, que atua no sentido de desestabilizar o regime russo. Para a sua análise, a única coisa que importa é se o candidato tem a “coragem” de enfrentar Putin ou não. O resto não teria importância.

O fato é que, para levar adiante uma ofensiva contra a Rússia, que seja capaz de minar a sua influência sobre os países atrasados e, quem sabe, até mesmo dividir o seu território, um passo fundamental para o imperialismo seria a derrubada do regime. Afinal, ele expressa toda essa tendência ao enfrentamento contra o imperialismo de conjunto. As eleições, portanto, devem ser analisadas desse ponto de vista.

A derrubada de Putin não precisaria acontecer em uma eleição. O imperialismo poderia derrubá-lo por um golpe de Estado. No entanto, a primeira opção é a que costuma ser mais arriscada.

Se os candidatos mais representativos do imperialismo não conseguiram registrar as suas candidaturas, isso por sua vez só reflete a correlação de forças extremamente desfavorável na Rússia. Isso apenas mostra que, independentemente de uma análise sobre o mérito democrático das cassações de candidaturas, o imperialismo está tão enfraquecido que sequer foi capaz de impor a participação de seus fantoches na eleição.

E também, neste sentido, a vitória de Putin, independentemente de como for, será uma derrota para o imperialismo. É uma derrota tão humilhante que, diferentemente do que ocorreu na Turquia, onde as eleições foram muito disputadas, deverá contar com índices históricos.

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