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Vinícius Rodrigues

Militante do Partido da Causa Operária no Rio de Janeiro e membro da Direção Nacional da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

Coluna

Um fuzil é um milhão de vezes mais democrático que um voto

Não existem mais democracias reais no mundo, o poder se expressa cada vez mais de sua forma material, pólvora e chumbo

A crise geral do imperialismo internacional demonstrou que a democracia atualmente é uma farsa completa. Até nos países mais tradicionalmente democráticos está claro que existe uma verdadeira ditadura, as eleições não significam mais nada. Nos EUA, a burguesia faz de tudo para dar um golpe no candidato mais popular, Trump, e já o fez em 2020. Na França, Macron passou por cima do parlamento para impor a reforma de previdência, é taxado de ditador pela maioria dos franceses. No Brasil, as eleições de 2014 e 2018, na prática, não tiveram valor nenhum devido ao golpe de Estado. O poder mostra cada vez mais seu caráter material, as armas são muito mais poderosas que os votos.

O problema das eleições é que são um terreno onde a burguesia tem um controle gigantesco. Elas são na maior parte dos países do mundo apenas uma formalidade. Nos EUA há apenas dois partidos, ambos impopulares. Na França a cada 5 anos uma manobra diferente é armada. Na Inglaterra, o candidato da esquerda foi expulso do Partido Trabalhista para que ele não tivesse a possibilidade de vencer. No Chile, Boric foi eleito, pois o candidato da esquerda foi eliminado em uma manobra parecida. Na Argentina e no Brasil, os candidatos mais populares, Kirchner e Lula, foram impedidos de concorrer. Ao se avaliar todas as eleições do mundo, essa é a regra, a burguesia manobra para vencer e é raramente derrotada, é o caso do Brasil em 2022.

O interessante é analisar os países taxados de ditaduras pela imprensa burguesa: Rússia, Irã, Cuba, Nicarágua, Coreia do Norte, China e agora o Iêmen. Eles certamente são muito mais democráticos que os países oprimidos com governos capachos do imperialismo, até mesmo os eleitos. Os casos variam. A Venezuela e Cuba são extremamente democráticos até no funcionamento do regime político, há muitas eleições com muita participação popular. A Rússia se assemelha mais ao Brasil com eleições periódicas sem tanta mobilização, no entanto, sempre são eleitos os candidatos que se opõe ao imperialismo, a Nicarágua é semelhante.

O caso interessante é o do Irã. O regime político nasceu fruto de uma revolução operária, a monarquia foi derrubada e instaurada a República Islâmica. É uma república, pois há eleições periódicas e isâmica, pois quem de fato detém o poder é o conselho dos aiatolás. O aiatolá Khamenei governo o Irã há mais de 30 anos mesmo sem o voto popular, ele, no entanto, é muito mais legitimo do que quase a totalidade dos presidentes e primeiros-ministros do mundo. O que o regime do Irã escancara é justamente a diferença do governo para o regime político. O governo muda sempre com as eleições, mas o regime político da revolução continua, o regime nacionalista dos aiatolás.

Essa realidade, que fica clara no Irã, existe no mundo inteiro. As eleições não mudam regimes políticos, eles na realidade controlam as eleições. Quando há uma possibilidade de mudança, isso gera um golpe de Estado, uma mobilização que derrota esse golpe ou ambos. Basta ver o caso da Venezuela, Chavez foi eleito, contra o regime político. Em 3 anos houve a tentativa de golpe, a mobilização gigantesca derrotou o golpe e assim o regime político mudou e se tornou o atual regime nacionalista, que está em choque com o imperialismo.

No Brasil o regime que existe é o do fim da ditadura militar, por isso Dilma foi derrubada, Lula foi preso e agora Lula não consegue governar. Esse regime aceitou o governo do PT entre 2003 e 2014, mas agora já não aceita mais. Semelhante ao que houve na Inglaterra como foi citado acima, aceita os trabalhistas no governo, mas não aceita a ala esquerda liderada por Corbyn. O mesmo vale para os EUA, aceitam o governo dos republicanos, no entanto, a ala trumpista está contra o regime político. Esse é o ponto crucial, ante a crise do imperialismo e a destruição neoliberal do planeta, os trabalhadores do mundo todos querem eleger um governo que acabe com esse regime, por isso as eleições não podem ser de fato democráticas.

Aqui se chega então na avaliação da legitimidade dos governos sem ser por meio do voto. É possível analisar isso de muitas outras formas. Uma delas é a correlação de forças entre o governo e o imperialismo. Se o imperialismo trava uma verdadeira guerra econômica ou até militar para derrotar um governo e não consegue, isso só é possível por ter um amplo apoio das massas. É o caso das “ditaduras” citadas acima: Rússia, Irã, Cuba, Nicarágua, Coreia do Norte, China e Iêmen. Não há como um governo impopular aguentar uma campanha agressiva do imperialismo, até mesmo governos populares caíram como Evo Morales e Dilma.

Por fim, é preciso citar o caso do Iêmen. O governo do Ansar Alá, também chamados de Hutis, assumiu da forma mais democrática possível, a população armada tomou a capital e assumiu o governo. O mesmo vale para o Talibã em 2021. Aqui a oposição fica gritante. Qual governo pode ser considerado mais democrático, aquele eleito em um processo eleitoral onde vencem os candidatos com mais financiamento, ou aquele que surgiu da tomada do palácio do governo pelo povo armado? As armas claramente são muito mais democráticas que os votos. Esse é o motivo que Lênin defendia que a democracia é um fuzil no ombro de cada operário.

Para concluir é preciso deixar claro que não há oposição entre votos e armas. A América Latina nesse sentido é um grande exemplo, tanto em Cuba quando na Venezuela há muitas armas e muitas eleições. Elas são dois grandes exemplos que podem inspirar os trabalhadores brasileiros.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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