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América Latina

Um balanço fantasioso da paralisação na Argentina

A discussão sobre o problema Milei feita pela esquerda é uma adaptação total ao governo golpista.

A greve geral convocada pela CGT (Confederação Geral do Trabalho da República Argentina) na Argentina é apresentada pelo PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas) como um grande passo na luta contra as medidas de Javier Milei, quando, na realidade, é parte de um plano para fazer fracassar a luta dos trabalhadores argentinos contra o plano político e econômico do presidente norte-americano da Argentina.

Em texto recente, o PTS apresenta, resumidamente, que a greve geral argentina foi uma “mobilização massiva”, e que “o comício desta quarta-feira foi importante, mas é apenas o primeiro passo”:

“A marcha foi massiva apesar dos limites impostos pelos dirigentes sindicais, que também limitaram a greve fazendo com que os transportes funcionassem normalmente até às 19 horas”. 

Típica expressão de uma organização que realmente não sabe o que está acontecendo, ou o que é preciso fazer para começar a derrotar Milei, o texto afirma que “apesar dos limites impostos pelos líderes sindicais, dezenas de milhares de pessoas em todo o país aproveitaram o dia para expressar a sua raiva e descontentamento. Em todas as mobilizações houve um número significativo de trabalhadores e jovens que marcharam tanto com organizações de esquerda e combativas como individualmente ou em pequenos grupos”. Ou seja, foi uma manifestação espetacular, na perspectiva do PTS.

As críticas que a organização (PTS) apresenta aos sindicalistas é só parte de uma política sectária da organização, não servem para tirar uma política prática, real, para a situação da Argentina. A crítica correta é que a greve geral, que não foi uma greve de verdade, deveria ter sido preparada, com outros atos, assembleias, enfim, todo o preparativo necessário para colocar o governo Miley na defensiva. Houve um ato em dezembro do ano passado e, mais de um mês depois é que foram marcar o ato seguinte, de sopetão, sem preparação alguma de uma possível greve que pudesse, de fato, colocar o governo ianque de Milei nas cordas. 

Na realidade a manifestação foi grande, mas pouco combativa. Não paralisou os transportes e é dito que os patrões sequer se preocuparam em coagir os funcionários contra a paralisação, o que é muito comum até mesmo em paralisações localizadas em categorias específicas. 

Atos dessa natureza possuem um caráter quase parlamentar. Funcionam assim. As organizações chamam uma atividade, para mostrarem que estão fazendo alguma coisa, não preparam a manifestação, ou seja, para que ela tenha um cunho realmente combativo. E funciona como um cartaz, uma forma de pressão, muito leve, e que não quer colocar em questão a derrubada do governo de conjunto. Isso serve para desorientar as pessoas, e tira o foco principal: que é que o povo está sob um golpe de Estado, inegavelmente. 

Como as direções não encaram o problema dessa maneira, e, quando muito, apontam pautas econômicas, o resultado é uma manifestação sem combatividade, e a questão do golpe de Milei fica fora de questão. Ou seja, é preciso lutar, mas aceitar o governo golpista do norte-americano de alma, Javier Milei. 

O próprio texto fala do caráter parlamentar e mesmo lobista dos dirigentes do ato. Os integrantes da CGT “procuraram mostrar uma mobilização massiva que pudesse pressionar os deputados que terão que lidar com a Lei Omnibus quando esta chegar às instalações. No discurso da breve cerimônia de encerramento, Pablo Moyano e Héctor Daer concentraram ali seu discurso, pressionando os próprios legisladores, apontando essencialmente para o peronismo, mas também para aqueles que compõem a UCR. Assim, a estratégia visa pressioná-los a mudarem o seu voto e a manifestarem-se contra a Lei Omnibus”.

Esta lei, dentre outros desmandos do governo golpista de Milei, prevê, dentre outras questões, a punição com prisão de até seis anos quem organizar passeatas e impõe autorização prévia para os protestos. A lei estabelece, ainda, superpoderes (verdadeiro golpe) para Milei até dezembro de 2025, podendo ser prorrogada por mais dois anos, abrangendo todo o mandato do presidente golpista. Ou seja, a manifestação ganha um ar de lobby legislativo, algo muito comum aqui no Brasil. 

Completa o texto do PTS: “é preciso derrotar o ajuste nas ruas: greves, mobilizações e piquetes quando se discute a lei (…) É preciso continuar a luta contra o ajuste de Milei”. Ou seja, não está colocado, para a organização, a necessidade de derrubar o golpe de Milei, derrubar todo o governo, com o povo nas ruas até sua queda.

A discussão sobre o problema Milei feita pela esquerda é uma adaptação ao governo golpista. A luta é contra o “ajuste”, as medidas antidemocráticas de Milei, e não contra o governo de conjunto que é, em si, um golpe de Estado. Sua característica, de Milei, como bom seguidor da política norte-americana, é passar por cima da população, com ou sem atos, com ou sem greve, especialmente diante de manifestações como esta.

Quanto mais tempo demorar para a esquerda argentina colocar a questão da derrubada de Milei como a reivindicação principal, mais e mais a política direitista de Milei vai avançar. Todo o restante da “pauta” serve para cegar a população do problema principal: a derrubada do governo golpista de Javier Milei.

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