No último dia 21 de janeiro, o portal do PSTU na Internet publicou a seguinte matéria: A relação da esquerda com o imperialismo chinês. Na matéria, o PSTU usa como gancho a visita de Guilherme Boulos à sede da Huawei em Xangai, na China.
Indiscutivelmente, Boulos, futuro candidato à prefeitura de São Paulo, assumiu de uma vez por todas a personalidade do político burguês oportunista, mas não é esse o teor principal do artigo do PSTU. Nele, o partido aproveita para expor suas teses contra a China e defender o argumento absurdo de que há um “imperialismo chinês”.
“Mas o que será que pretende a China na expansão das suas relações econômicas internacionais? Permitir prosperidade e desenvolvimento ou então estabelecer relações de subordinação econômica com esses países?”, pergunta o artigo do PSTU.
“As relações que a China estabelece com os países africanos, por exemplo, não são de simples ajuda para a prosperidade, mas principalmente de subjugação colonial”, responde, mais abaixo, o artigo.
Segundo o PSTU, a China seria um país imperialista que estabelece com países mais pobres uma relação colonial. Vejamos os principais argumentos do PSTU para essa extravagante constatação.
“Ainda há quem caracterize a China como um Estado socialista, subestimando todo o avanço do capital, principalmente norte-americano, no país asiático desde a década de 1970. O papel de ponta que a China cumpre hoje em setores fundamentais da produção capitalista, como a tecnologia 5G, a aposta no carro elétrico e na produção de energias renováveis, mostra que deixa de ser o país capitalista fábrica do mundo para ser um país imperialista.”
A argumentação do PSTU dá um salto. De “a China não é socialista” para “a China é imperialista”. Para qualquer marxista minimamente informado, a China não poderia ser, nem nunca foi socialista. Tal caracterização só pode ser feita mesmo por alguns apologistas do regime chinês. Lênin e Trótski explicaram que a URSS não era socialista, que o socialismo só seria realizável após uma revolução mundial, liderada pelos países de capitalismo avançado.
O artigo do PSTU dá a entender que a China em algum momento foi socialista. Não se trata, logicamente, de menosprezar a revolução chinesa e suas conquistas e avanços, mas não é correto afirmar que a China chegou ao socialismo.
O socialismo, no entanto, não é o tema central do artigo, mas o imperialismo. Segundo o PSTU, a China teria evoluído tanto o seu capitalismo que teria se tornado um país imperialista. O argumento para essa extravagância teórica é o “papel de ponta” que o país cumpre em “setores fundamentais da produção capitalista, como a tecnologia 5G, a aposta no carro elétrico e na produção de energias renováveis”.
A pergunta que fica é: de onde o PSTU tirou tal definição de imperialismo? Onde exatamente está explicado que esse fator é essencial para que uma nação seja imperialista? O PSTU tira tal definição da cartola e, no parágrafo seguinte, como que para disfarçar a falta de fundamento, saca uma citação de Lênin que não explica a afirmação anterior:
“Retomando o conceito de Lenin, ‘o capitalismo transformou-se num sistema universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro da maioria da população do planeta por um punhado de países avançados’“. Lênin está certíssimo em sua caracterização, mas a citação escolhida pelo PSTU é como querer explicar o processo de congelamento da água apenas constatando que o gelo é gelado.
Vejamos como Lênin define o imperialismo: “convém dar uma definição do imperialismo que inclua os cinco traços fundamentais seguintes: 1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse ‘capital financeiro’ da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si, e 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes.”
Como podemos ver, cumprir “papel de ponta” em alguns setores da economia não define se um país é ou não imperialista, mas o monopólio, o predomínio do capital financeiro, a exportação de capitais, a partilha do mundo entre os monopólios e a partilha territorial entre as potências capitalistas.
Para afirmar que a China é um país imperialista, seria preciso mostrar em quais setores fundamentais da economia os chineses dominam o mercado. Por exemplo, a China é a maior parceira comercial do Brasil, mas o domínio do mercado de carros, computadores, alimentação, bebidas, indústria química, farmacêutica, em suma, de todos os setores mais importantes da indústria, não é chinês.
Mesmo sendo um grande parceiro comercial do Brasil, a China não tem o domínio do mercado brasileiro.
Falta também aos chineses o domínio político do país. Quem deu todos os golpes de Estado no Brasil até agora não foram os chineses, mas os norte-americanos, ingleses, franceses.
A China é um país atrasado como o Brasil, ou seja, com uma indústria bastante desenvolvida, mas ainda com atraso na maior parte do país. Dizer que esse país é imperialista é simplesmente uma falsificação.
O artigo do PSTU, com base na afirmação antimarxista de que a China é imperialista, acusa os chineses de estabelecer relações de tipo colonial com a África e outros países. Tal colonialismo chinês seria provado pelas contrapartidas exigidas pela China para os países.
“Os contratos que a China estabelece para a construção de infraestrutura, inclui o posterior controle das mesmas. Estamos falando de portos, estradas, parques industriais, estruturas fundamentais para a economia e, consequentemente, a soberania do país“. Exigir contrapartidas, no entanto, não define um país como imperialista. Qualquer país e qualquer empresa no capitalismo obviamente vai querer contrapartida para seus negócios.
O colonialismo é muito mais do que isso. Trata-se do domínio e controle quase absoluto do país subjugado. O imperialismo é o bloqueio que os norte-americanos fazem contra vários países do mundo, é a interferência nos governos do mundo todo, as invasões, golpes. É o controle mundial do mercado.
A acusação do PSTU contra a China – o mesmo fazem contra a Rússia – não é mera ignorância do marxismo. Têm como fundo uma ideologia pró-imperialista. Enquanto ataca a China como imperialista, o PSTU fecha os olhos para os crimes do verdadeiro imperialismo.
Na verdade, o PSTU tem sistematicamente apoiado as ofensivas imperialistas no mundo. Apoiou o golpe na Ucrânia, no Egito, no Brasil, apoia a oposição golpista na Venezuela, apoiou as manifestações pró-imperialistas em Cuba.