Na última terça-feira (6), a lei de Milei que prevê a destruição da economia do país e o estabelecimento de um regime bonapartista voltou à fase inicial de tramitação no Congresso. A decisão ocorreu por uma falta de concordância entre os deputados, que estavam discutindo artigo por artigo do projeto. O pedido para que o texto retornasse à fase de discussão em comissão foi feito por Oscar Zago, da coalização do presidente argentino.
Setores da esquerda argentina aproveitaram a notícia para fingir que esta foi resultado da mobilização popular. É o caso do deputado federal Alejandro Vilca, do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS):
“Podemos falar de uma vitória, conjuntural, mas vitória por parte dos diferentes setores que se mobilizaram nas ruas rejeitando este projeto de lei que vinha para aprofundar um ajuste e armar uma série de manobras que aprofundavam entregas históricas do patrimônio dos argentinos a empresários amigos e ao capital que quisesse se apossar de nossos recursos. Podemos afirmar que, por maiores as manobras tentadas pelos deputados cúmplices, alguns que se dizem opositores, a derrota não pôde ser evitada.”
No mesmo comunicado, Vilca também afirmou que se trata de “uma derrota política de Milei e seu projeto”, dizendo que “está claro que as forças do povo trabalhador estão prontas para enfrentá-los” e que “os sindicatos têm que dar continuidade ao que foi mostrado na greve nacional de 24 de janeiro”.
A realidade deve ser entendida como sendo o contrário do que diz Vilela. O regresso do pacote de lei não é resultado da mobilização do povo e tampouco representa uma grande derrota do governo. É, na realidade, uma expressão do debate interno que a burguesia faz para emplacar o projeto conforme os interesses dos setores que podem influenciar a decisão.
Pode ser, inclusive, uma tentativa de aprovar mais pontos do texto original, já que, conforme a legislação argentina, o projeto seguirá o processo de discussão como se nunca tivesse sido aprovado.
Quando isso aconteceu, inclusive, a esquerda mostrou a mesma ilusão, afirmando que o projeto que passou era extremamente reduzido, o que seria outra derrota de Milei. Mas o mais importante de sua política ditatorial continuou no texto.
O importante é que a situação política argentina, no seu fundamental, não mudou em nada. Tanto é que, demonstrando seu poder político, Milei afirmou, em relação ao retardamento de sua lei, que vai “continuar com o nosso programa com ou sem o apoio da liderança política que destruiu o nosso país”.
Enquanto reina essa confusão, Milei endurece cada vez mais o regime. O cineasta Adolfo Aristarain, por exemplo, está sendo denunciado por um funcionário do Ministério Público Fiscal da Argentina porque afirmou – demonstrando ter mais clareza política que o deputado do PTS – que “a greve da CGT tem que ser por tempo indeterminado: até que o governo caia”.
Nesse sentido, os partidos e sindicatos argentinos precisam desvencilhar a luta contra Milei da luta contra seu projeto ditatorial. Caso a mobilização dependa disso, não irá para frente. Sofrerá reveses a cada vez que o projeto avançar no parlamento. Ao mesmo tempo, Milei se fortalecerá, adquirindo cada vez mais condição de impôr uma ditadura fascista no país.