O imperialismo começou a sua intervenção na Síria pouco após a Primavera Árabe, em 2011. O ataque foi tão violento que gerou uma guerra com a participação de mais de 10 países lutando de um lado para derrubar o presidente Assad e do outro para mantê-lo. O imperialismo foi derrotado, a grande custo para a Síria, Assad segue presidente, mas o país continua dividido, e agora a luta do Eixo da Resistência é por sua reunificação. Nessa conjuntura, a guerra na Faixa de Gaza permitiu avanços importantes para a Síria, que trata as suas vitórias de forma discreta.
O ano de 2017 é um ponto de virada, foi a derrota do Estado Islâmico. O Eixo da Resistência conseguiu assim o controle da tráfego de veículos pela passagem al-Qaim–al-Bucamal, entre a Síria e o Iraque. Isso foi crucial para garantir um controle de todo o leste do país, enfraquecendo os norte-americanos, que mantêm ainda controlam a região nordeste por meio das Forças Democráticas da Síria, uma organização dirigida pelos curdos. Foi um desenvolvimento estrategicamente importante. Manter um ponto de apoio a oeste do rio Eufrates, no extremo sudeste da Síria, é essencial para a resistência, e isso vale tanto para o governo Assad como para as organizações guerrilheiras.
O que mudou o jogo com a guerra na Palestina foram as ações da resistência iraquiana que partiu para um ataque intenso contra as bases norte-americanas no Iraque e na Síria. Foram mais de 160 ataques que só cessaram quando uma base na Jordânia foi atingida. Após uma das principais organizações da resistência do Iraque, o Cataebe Hesbolá, estabelecer uma trégua com os EUA. Durante este período, as forças de resistência garantiram novos avanços que solidificaram sua posição, algo que o governo Biden foi obrigado a aceitar.
Embora os EUA continuassem a realizar ataques “retaliatórios” contra a resistência iraquiana, que, para muitos, parecia restaurar algum nível de paz, isso veio com compromissos significativos. Segundo informações obtidas pelo portal The Cradle, os grupos de resistência não apenas elevaram sua posição militar e política mais pronunciada durante este período de relativa calma, mas também forçaram os EUA a aceitar perdas cruciais em campo. Ou seja, os EUA não apenas recuaram em suas operações provocativas contra as forças de resistência regionais, mas também “Israel” está relutante em lançar novos ataques no leste da Síria.
O recuo israelense não é uma decisão unilateral, mas um resultado do ajuste de risco feito pelos EUA. O exército sionista não pode lançar operações sem o aval norte-americano e dados de inteligência, e o governo Biden está atualmente relutante em fazer uma cobertura das ações israelenses que atrairiam os EUA mais profundamente para o pântano na Síria e no Iraque. Ao mesmo tempo, procura evitar novos ataques de resistência a bases dos EUA e nos campos de petróleo ocupados na Síria.
Outro fator importante é que a resistência iraquiana agora está atacando diretamente portos israelenses. “Israel” não pode se dar ao luxo de abrir novas frentes militares depois de sete meses de uma guerra que ele está sendo incapaz de vencer na Faixa de Gaza.
O leste da Síria
As regras do confronto no leste da Síria são distintas daquelas nas regiões ocidental e central do país, que envolvem principalmente “Israel” de um lado, e o governo Assad junto ao Eixo da Resistência do outro. No leste, a principal oposição às forças de resistência é a ocupação militar dos EUA e seus aliados curdos.
Esta região se estende ao longo do rio Eufrates até Albu Camal, que faz fronteira com a travessia de al-Qaim no Iraque. Ela representa um ponto estratégico para o Eixo da Resistência estabelecido em 2017. Esse ponto é importante, pois restabeleceu a conexão Teerã (capital do Irã) – Beirute (capital do Líbano) por terra. Ou seja, uma conexão do Irã, grande articulador do Eixo da Resistência, passando por Iraque, Síria e chegando ao Líbano.
Dada a sua relevância, os EUA tentam constantemente desestabilizar essa área por meio de ataques e pressões, apoiando células do Estado Islâmico e outros grupos armados. Essas tensões aumentaram muito a partir do final de 2019 e início de 2020, após alegações dos EUA de que suas tropas em Quircuque foram alvo de um ataque de foguete atribuído à resistência iraquiana. Os EUA então responderam lançando ataques contra uma organização da resistência iraquiana em al-Qaim, matando pelo menos cinquenta combatentes.
O jogo virou em 2024, a resistência iraquiana atacou a base dos EUA de Ain al-Assad. Também aumento a atuação no deserto sírio para proteger rotas de trânsito dos grupos armados apoiados pelos EUA. E estabeleceu medidas de proteção ao redor da base dos EUA em Al-Tanf, localizada próximo à interseção da fronteira tripla Síria–Jordânia–Iraque. Ou seja, o Eixo da Resistência impôs novas regras na guerra, equilibrando efetivamente as forças ao vincular suas ações em Albu Kamal e al-Qaim com ataques retaliatórios contra bases dos EUA. Isso fez com que os ataques diretos dos EUA diminuíssem. O imperialismo então teve de passar para uma política mais enfraquecida, lançou novamente o Estado Islâmico contra o Eixo da Resistência.
Em resumo
As conquistas da resistência na Síria foram o enfraquecimento da posição dos EUA e de “Israel”. As bases ilegais dos EUA foram expostas como inseguras, não apenas na Síria e no Iraque, mas também estendendo-se à Jordânia.
O Eixo conseguiu estabelecer e fortalecer sua presença terrestre em áreas que os EUA antes consideravam como seu próprio terreno e alcançou uma trégua de fato que beneficia os objetivos de longo prazo da resistência nas esferas militar, econômica e política.
Consequentemente, as tropas de resistência estão agora esmagando mais efetivamente as remanescentes das células do EI apoiadas pelos EUA nas profundezas do deserto sírio. Essas células, embora envolvidas em operações disruptivas contínuas, não são mais vistas como uma ameaça estratégica.
Os esforços do Eixo também podem agora concentrar-se mais efetivamente na frente principal, contra “Israel”, em apoio à resistência palestina. As regras de guerra com os EUA foram reforçadas e estão prontas para desenvolvimento futuro em estágios superiores.