O “sionista de esquerda” Mauro Nadvorny escreveu em seu blogue chamado A voz da esquerda judaica um artigo em que pretende acompanhar os principais acontecimentos do conflito na Faixa de Gaza.
No texto, chamado Agora, o que acontece em Israel, o autor revela por que não existe sionismo de esquerda. Ninguém realmente de esquerda poderia ter as posições apresentadas no artigo, na melhor das hipóteses, são as mesmas posições dos órgãos oficiais da direita, como a Folha de S. Paulo. O autor tenta disfarçar sua posição reacionária, em defesa de “Israel” e contra o “terrorismo”, igualando os dois lados.
Sobre os acordos para o cessar-fogo, o autor diz o seguinte:
“Acontece que eles [o Hamas] estão trazendo exigências que dificilmente podem ser aceitas por Israel e os dois lados precisam começar a relevar pontos importantes de suas demandas se realmente querem chegar a um acordo.”
Isso pode parecer uma mera constatação, mas não é. Qualquer pessoa minimamente de esquerda e progressista deveria saber que o Hamas está apenas se defendendo, que o Hamas – junto com outros grupos – é a organização que representa um povo que está há quase um século sendo massacrado por um invasor colonial.
Para o autor, no entanto, o problema é que o Hamas traz exigências que “Israel” não pode atender; então “os dois lados” precisam “relevar”. Mas vejamos: um lado já matou mais de 35 mil pessoas inocentes, o outro, não está fazendo nada mais do que se defender. Por que os dois lados precisariam relevar? O que o Hamas deveria “relevar” exatamente?
A negociação é relativamente simples. “Israel” para de matar inocentes, e o Hamas entrega os prisioneiros. O Hamas não precisa relevar nada.
Para o autor, “Israel” faz “bombardeios pontuais”:
“Em Rafiah [sic] é que se encontra, muito provavelmente, a direção da ala militar do Hamas e os reféns ainda com vida. Israel já começou a realizar bombardeios pontuais com efeitos colaterais.”
Esses bombardeios “pontuais”, ou melhor, esses “efeitos colaterais” já mataram cerca de 35 mil palestinos, destruíram hospitais, escolas, campos de refugiados, comboios humanitários etc. Colocar a palavra “esquerda” na frente da palavra “sionista” não é suficiente para esconder a ideologia fascista do sionismo real, que nunca teve nada de esquerda, nem poderia ter.
A crítica a Netaniahu também é o esconderijo do dito sionista de esquerda para disfarçar suas posições:
“Netanyahu sabe que independentemente de como a guerra chegará ao fim, ninguém vai esquecer como ela teve início. O povo não vai perdoar a vergonhosa incapacidade das forças de segurança sob o seu comando, de terem impedido a invasão e tudo que ela trouxe consigo.”
O autor considera o primeiro-ministro israelense um incompetente. Foi ele que deixou que acontecesse a operação em 7 de outubro. O que esse episódio mostrou, no entanto, não foi a incapacidade de Netanyahu, mas a própria incapacidade das Forças Israelenses. Da mesma forma, Netaniahu não é uma exceção, mas a própria essência do regime político de “Israel”. Afinal, o regime de extrema direita de Netaniahu é tão fascista quanto o “trabalhismo” de Ben-Gurion.
Tirar Netaniahu não vai resolver o problema, nem para os israelenses, menos ainda para os palestinos.
E embora tente mostrar que os dois lados são iguais, o sionista não consegue disfarçar sua preocupação por “Israel” contra os malvados “terroristas” apoiados pelo terrível Irã.
“E não posso deixar de falar no problema Houthi no Iêmen ameaçando a navegação no Mar Vermelho. Os EUA e aliados tentam combater estes rebeldes com ataques diários as suas bases de lançamentos de foguetes contra navios e o sul de Israel. Ainda assim, os rebeldes continuam disparar mísseis fornecidos pelo Irã.”
Esses “rebeldes” não tomam jeito, não é mesmo? Onde já se viu lançar foguetes contra navios dos países imperialistas? Os EUA, essa democracia tão exemplar, não consegue resolver esse problema, que triste!
A política do dito “sionismo de esquerda” é, quando muito, uma repetição do que dizem os setores “democráticos” do imperialismo. Funciona mais ou menos assim: “Netanyahu não pode matar 35 mil, mas também o Hamas não deveria ter invadido no 7 de outubro” ou “matar 35 mil é demais, mas Israel tem o direito de se defender”.
Do mesmo jeito que não existe imperialismo democrático, também não existe sionismo de esquerda, ou, no português correto, fascismo de esquerda.