No artigo Em tempo: recepção armada para receber Bolsonaro dia 16 em João Pessoa pode ser estopim de confronto perigoso, publicado pelo Brasil 247, o articulista Walter Santos alardeia para a suposta possibilidade de que o ex-presidente Jair Bolsonaro dê um golpe de Estado durante sua visita à cidade de João Pessoa, prevista para o próximo dia 16.
Segundo o articulista, nesta data, quando Bolsonaro deverá receber o Título de Cidadão Pessoense, haverá a mobilização de pessoas a favor do ex-presidente, bem como de pessoas contrárias a ele, o que levará a um enfrentamento:
“São dois cenários que, não precisa ser cientista politico para identificar que o antagonismo das duas situações prospectam enfrentamento possivelmente físico, sobretudo porque os Bolsonaristas devem se servir da oportunidade para querer desagravar o ex-presidente diante de muitos fatos e provas levando-o à condição de mentor da tentativa de Golpe no Brasil, conforme as revelações em curso.”
E qual seria a grande prova dessa tendência ao enfrentamento? Diz Walter Santos:
“Para se ter uma ideia do perigo de confronto basta acessar mensagem do ex-ministro médico Marcelo Queiroga, pré – candidato do PL em João Pessoa. Disse ele nas Redes Sociais: ‘Vamos receber Bolsonaro e mostrar que João Pessoa tá firme com o Capitão’.”
A histeria de Walter Santos em torno da visita de Bolsonaro revela uma série de aspectos sobre a política da esquerda frente ao bolsonarismo. O primeiro é se escandalizar com a frase de Marcelo Queiroga. O que haveria de mais em um aliado de um ex-presidente dizer que sua cidade deveria mostrar seu apoio a ele?
Walter Santos se escandaliza porque acha que, uma vez que a Polícia Federal está investigando Bolsonaro, o ex-presidente deveria ser completamente excluído da política nacional. Ora, se assim fosse, a esquerda não deveria ter passado 580 dias pedindo a liberdade do hoje presidente Lula. Ser investigado e mesmo ser condenado pelo Estado não faz de ninguém uma pessoa que não possa participar da vida política do País.
A ideia revela, no final das contas, a política de ficar a reboque do Judiciário, da Polícia Federal e de todas as instituições do Estado. Instituições essas que orquestraram junto ao imperialismo o golpe de Estado de 2016. Acreditar que a Polícia Federal irá acabar com o bolsonarismo é, antes de tudo, uma ilusão, pois ela é em grande parte bolsonarista e é integralmente contra a esquerda e contra o povo. Trata-se, também, de uma infantilidade, uma vez que um fenômeno como o bolsonarismo, que é apoiado por toda uma base social, não pode ser suprimido com a perseguição e a prisão de meia dúzia de dirigentes.
Alegar um suposto golpe de Bolsonaro agora é ridículo porque o bolsonarismo está mais na defensiva do que estava, por exemplo, em janeiro de 2023. Neste momento, um setor da burguesia está perseguindo algumas lideranças, incluindo o próprio Bolsonaro, com fins aparentemente eleitorais. No caso, o único golpe em marcha é o golpe do STF contra os direitos democráticos da população.
No entanto, chama a atenção essa preocupação com o “enfrentamento”. Se o tal enfrentamento entre a extrema direita e a esquerda seria motivo para um golpe, então a esquerda deveria evitar o enfrentamento? Ora, no final das contas, essa política só reforça a mesma posição vergonhosa de apoio às instituições: que a direita combata o bolsonarismo, enquanto a esquerda fica em casa na torcida.