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Oriente Médio

Revisionismo para tolos a serviço do genocídio palestino

Para lobbista sionista e representante da ONG americana StandWithUs, falta "coragem" aos palestinos para reconhecer "Israel", que jamais cumpriu acordo algum

O lobbista sionista representante da ONG norte-americana StandWithUs André Lajst publicou em seu perfil no X, no último dia 12, três textos como parte da defesa das monstruosidades cometidas pelo Estado de “Israel”. Em suas publicações, Lajst provoca um revisionismo histórico a começar pelo primeiro das três mensagens publicadas:

“Em 1920, lideranças árabes na região da Palestina/Terra de Israel, que estava então sob mandato britânico, decidiram atacar judeus em várias regiões. Centenas foram assassinados. Em 1929, a população judia de Hebron foi morta e os sobreviventes expulsos. Naquela época, ainda não havia Estados formados na região nem ‘ocupação’ de nenhum território por parte dos judeus, apenas o governo britânico.”

O que o ex-militar das Forças de Ocupação de “Israel” esconde é que “Mandato” é um eufemismo para “colônia”. Após finalmente se libertar do jugo do Império Otomano, a Palestina encontrava-se agora dominada pelo imperialismo britânico. Não é como se não houvesse um território com um povo, como Lajst tenta insinuar ao dizer que “naquela época, ainda não havia Estados formados na região”.

Importante detalhar ainda o que foi o ataque aos sionistas ocorrido em 1920, para desmentir a tese absurda de que judeus apoiados por banqueiros e pelo imperialismo britânico teriam invadido “pacificamente” a Palestina, e sofrido represálias. Vejamos o que publicou a revista Dossiê Causa Operária sobre a mesma questão, em sua edição de número 13, citando a obra do historiador israelense Ilan Pappé:

Em 1920, o mesmo Musa Kazem Pasha al-Husseini seria deposto pela administração britânica depois de proferir um discurso nacionalista a uma multidão, da sacada do Clube Árabe, ao lado do Portão de Jaffa, em Jerusalém. O público gritava ‘Faisal é nosso rei’, em homenagem a Faisal I bin Al-Hussein bin Ali Al-Hashemi, rei da Grande Síria, que, após a traição inglesa e francesa, organizou um movimento nacionalista contra o imperialismo no Oriente Médio. Seguiram-se violentos protestos contra os sionistas. A administração britânica instaurou cortes marciais e condenou aqueles que considerou responsáveis. Líderes nacionalistas, como Haj Amin al-Husseini e Arif al-Arif, foram condenados a dez anos de trabalhos forçados. Musa Kazem foi enviado à prisão do Acre (The rise & fall of a Palestinian dynasty: the Husaynis 1700-1948, Ilan Pappé, 2002).”

É possível ser desorientado o bastante para acreditar no conto da carochinha de Lajst, de que um belo dia, árabes malvados “decidiram atacar judeus em várias regiões”, porém, obviamente é uma versão fantasiosa. O povo árabe apoiou o imperialismo inglês e francês na esperança de se livrar do Império Otomano, e formar uma nação árabe independente, sendo traídos após a Primeira Grande Guerra, retalhados e reduzidos a colônias.

Ainda, no caso palestino, viram também seu território ser invadido por europeus apoiados pelos colonizadores. Nada mais normal que se insurgissem contra a opressão que sofriam em suas próprias terras. Tampouco deveria ser estranho que em meio à revolta, colonizadores sionistas morressem.

Os atritos entre palestinos e os colonizadores europeus judeus se intensificaria em 1929. Dossiê Causa Operária também registrou os eventos deste ano, fornecendo mais detalhes sobre o que de fato aconteceu, com base na obra de Pappé:

Em 1929, as tensões em Jerusalém se intensificaram devido a disputas por lugares sagrados, especialmente o Muro das Lamentações, muito importante para o Islã. Os judeus queriam alterar o sítio do culto, e as massas palestinas ficaram inquietas ao testemunhar o aumento da presença judaica, percebendo isso como uma ameaça ao Islã na Palestina. Um incidente menor perto do muro desencadeou uma violência generalizada, resultando na morte de 300 judeus e palestinos. Em várias outras cidades, registraram-se conflitos violentos; no entanto, segundo Pappé, não eram ações coordenadas por líderes nacionalistas: ‘começou com os palestinos deslocados que haviam perdido sua base agrícola por várias razões, incluindo a capitalização das colheitas e a compra de terras pelos judeus’. Eram ex-camponeses que viviam nas margens urbanas, em situação precária. ‘Era fácil relacionar a atividade sionista em Jerusalém com a compra de terras ou com uma política segregacionista agressiva no mercado de trabalho’, conta o historiador.”

Toda a tensão acumulada, somada à crise mundial, culminaria em uma revolta ainda maior: a Revolução de 1936. Na edição de número 23, Dossiê Causa Operária expõe o estopim da revolução.

“Em 16 de outubro de 1935, um grande carregamento de armas camuflado em caixas de cimento, sendo 800 rifles e 400.000 cartuchos de munição destinados ao Haganá, milícia sionista, foi descoberto durante o descarregamento no porto de Jaffa. A revelação gerou forte repercussão na população árabe que temia uma nova ação de tipo militar do sionismo. Cerca de duas semanas depois, em 2 de novembro de 1935, al-Qassam fez um discurso no porto de Haifa denunciando a declaração Balfour em seu 18º aniversário.”

Al-Qassam terminaria morto “como um mártir”, mas seu assassinato desencadearia uma revolta generalizada entre os palestinos. A supracitada reportagem destaca quais as revindicações que colocaram os palestinos nas ruas, provocando uma greve geral e mobilizações que durariam até o ano de 1939.

“(1) a proibição da imigração judaica; (2) a proibição da transferência de terras árabes para os judeus e a proibição da imigração judaica; (3) a criação de um governo nacional responsável perante um conselho representativo.”

As reivindicações deixam evidente que durante todo o período, os sionistas foram amplamente protegidos pelo imperialismo britânico, aumentando a revolta popular do povo atingido pela invasão. Ainda, a revolução de 1936 deixa claro que Lajst, no mínimo, está terrivelmente mal-informado quando diz que “naquela época, ainda não havia Estados formados na região nem ‘ocupação’ de nenhum território por parte dos judeus”.

Sendo um sionista convicto e um indivíduo de poucas luzes, é possível conjecturar que o ex-militar realmente esteja falando qualquer coisa para justificar o atual genocídio cometido por seus pares, o que de maneira alguma atenua sua cumplicidade. Apenas evidencia a profundidade de sua ignorância. Esta fica exposta ainda na segunda mensagem publicada no X:

“Entre 1949 e 1967, após a independência de Israel e a formação dos países no Oriente Médio, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza eram controladas pela Jordânia e pelo Egito. Não havia nenhum ‘colono’ israelense e nenhum soldado nas duas regiões. Mesmo assim, eram constantes as invasões e ataques por parte dos árabes contra civis israelenses dentro do território internacionalmente reconhecido de Israel. Por que isso? Por que esses ataques?”

Ora, nada mais normal do que após a Nakba (palavra árabe que significa “Catástrofe” e designa o período da formação de “Israel”), os sionistas buscassem controlar melhor o território que acabaram de ganhar, após expulsar quase um milhão de palestinos. Ainda assim, é mentira que “não havia nenhum soldado” sionistas em regiões como a Faixa de Gaza, que fora invadida na Guerra do Suez, deflagrada em resposta à tentativa do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser de nacionalizar o canal, que permite a ligação marítima entre Ásia e Europa. Em outra obra sobre a história da Palestina, Pappé (History of Modern Palestine, 2006) destaca o papel israelense na Crise do Suez:

“Ben Gurion queria guerra, assim como seu chefe de gabinete, Moshe Dayan. Eles encontraram uma ao alinhar Israel com o plano anglo-francês para derrubar Nasser. As antigas potências coloniais tinham sua própria agenda. O presidente egípcio se tornou o bête noire deles no momento em que nacionalizou o Canal de Suez em julho daquele ano, em resposta à retirada do apoio dos EUA ao projeto da Barragem de Assuã”.

Embora fosse lógico que “Israel” buscasse consolidar o controle sobre as terras roubadas do povo palestino, não é verdade que 18 anos se passariam sem confrontos na Faixa de Gaza. Tampouco, finalmente, significaram o fim de qualquer hostilidade, como demonstra a matéria da supracitada revista Dossiê Causa Operária 13:

“Em ‘Israel’, após o abandono da ONU, o governo sionista iniciou uma política contra a repatriação dos refugiados. No knesset (parlamento), em 1950, foi aprovada uma lei que permitia ao governo continuar confiscando propriedades palestinas para fins públicos judaicos. Em 1953, o exército também recebeu autorização para utilizar aldeias e terras palestinas. Isso forneceu a ‘base constitucional para a contínua despovoação de aldeias palestinas em nome da segurança’ (idem).

Desde as eleições de 1949, ‘Israel’ era governado pelo trabalhismo, através do Mapai de Davi Ben-Gurion. A segunda força era o Mapam, também trabalhista, do movimento de kibutz socialista Hashomer Hatzair – o principal beneficiado pela tomada de posses palestinas. Seu grupo paramilitar, o Palmach, apesar de oficialmente defender um Estado binacional, participou da guerra de 1948 e via nisso uma oportunidade para tomar toda a Palestina ocidental – ao contrário do que propunha a ONU.”

Finalmente, Lajst conclui:

“Porque a questão central nunca foi acerca de um pedaço específico de território. O problema é conceitual. Quando lideranças corajosas palestinas reconhecerem que Israel tem o direito de existir em parte da região, o conflito terá fim. O Hamas, assim como a Jihad Islâmica, são contra qualquer acordo que reconheça a legitimidade de Israel. Enquanto esses grupos controlarem territórios palestinos, não haverá acordo para que uma paz justa e definitiva na região se torne uma realidade!”

Ora, a questão central só pode ser o território. Aqui, o sionista mete os pés pelas mãos e se lança a um exercício retórico que apenas reforça sua inaptidão intelectual.

“Lideranças corajosas” (um eufemismo que aqui, significa o oposto, líderes covardes a ponto de aceitarem a submissão) que reconheçam “Israel” também é um evento que já ocorreu, quando o Fatá então liderado por Yasser Arafat e o sionismo firmaram os famigerados “Acordos de Oslo”, importantes para sufocar a Intifada, revolta revolucionária que eclodiu em 1987, durando até o ano de 1993. Por outro lado, o reconhecimento de “Israel” ao Estado palestino jamais fora cumprido pelos israelenses, deixando claro a qualquer observador minimamente atento, que não há paz possível com “Israel”.

Tanto o Hamas quanto a Jiade Islâmica são frutos da compreensão generalizada de mais esse golpe israelense contra o povo palestino. A propaganda para tolos de Lajst pode enganar alguns mais ideologicamente inclinados a aceitar as bobagens por ele escritas, mas nada demonstram além de sua impressionante ignorância, somada a um verdadeiro vale tudo para defender o que existe de mais monstruoso no planeta atualmente: o Estado de “Israel”.

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