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Centenário da morte de Lênin

Uma ‘homenagem’ a um Lênin que nunca existiu

Articulista do Brasil 247 enlameia Lênin e o marxismo no seu aniversário de 100 anos de morte como "homenagem"

Na última segunda-feira, dia 22, o sítio Brasil 247 publicou uma coluna de homenagem (?) a Lênin pelos 100 anos desde sua morte, em 21 de janeiro de 1924. Intitulada Lênin 100 anos e a atualidade de sua teoria científica, a homenagem acaba por não homenagear, mas deturpar a obra e os feitos do revolucionário bolchevique, responsável por desenvolver o marxismo a partir da experiência revolucionária do início do século XX.

Adiantamos aqui que não entraremos em todas as polêmicas com o texto, repleto de confusões como a respeito de Mao Zedong e muitas outras. Dois pontos aqui se destacam mais. Do meio para o final do texto, independentemente do que diz antes a respeito de Lênin, o autor inicia uma defesa enfática de uma política contrarrevolucionária.

“Este presente artigo não afirma, não propõe, não convida, não incita, não estimula, não sugere nem insinua que hoje os movimentos políticos devem promover uma revolução proletária socialista armada de tomada do poder capitalista aos moldes da efetuada na Rússia de 1917. O mais importante legado da teoria científica de Lênin é de que os princípios marxistas são universais” (grifo nosso).

Colocando em outras palavras, os princípios marxistas são universais, ou seja, são princípios. Exceto que o autor no mesmo parágrafo coloca que estes mesmos princípios e fundamentos não devem ser seguidos. O autor desenvolve essa incongruência a seguir:

“Em suma o maior legado teórico de Lênin é que o marxismo deve ser adaptado a realidade de cada país a partir do rigor científico, tendo presente que o Brasil não é hoje nem de longe um governo czarista de exceção como o era o da Rússia de 1917, é um governo democrático, popular e progressista, distinto daquele regime ditatorial absolutista de extermínio físico dos opositores dos anos de 1898/1917 da Rússia. Aquela elaboração programática é totalmente inconcebível para a conjuntura do Brasil atual e para a atual fase do desenvolvimento capitalista qual está o Brasil de 2024 e o atual estágio civilizatório da humanidade” (grifo nosso).

O que o autor expressa não é uma adaptação dos meios empregados de acordo com a conjuntura, mas um abandono do próprio marxismo. O fato de um Estado ser “democrático”, e não uma ditadura czarista, não põe fim à luta de classes, é na realidade uma forma do Estado burguês, o tipo de regime. O próprio Brasil, hoje, vê uma restrição dos direitos democráticos por todos os lados. O golpe de 2016 ocorreu em plena “democracia”, a ditadura militar também. As transições ocorreram de maneira relativamente rápida de um regime para o outro, mas o caráter do Estado burguês não se alterou.

Mais que isso, a revolução socialista não se restringe a um único país. Um fundamento básico do marxismo é que a classe trabalhadora é internacional (“Trabalhadores de todos os países, uni-vos!”). E ela é internacional porque o capitalismo é um sistema econômico global, a produção da humanidade no capitalismo, após se desenvolver, não é local e nem teria como o ser; logo, não há como o socialismo retroceder a nível nacional, enquanto etapa histórica subsequente. A burguesia, ademais, explora a classe operária de maneira total pelo planeta. Fábricas são deslocadas de um lado a outro do mundo conforme diminuem os salários e direitos trabalhistas neste ou naquele país, e o rebaixamento em um país justifica o rebaixamento em outro. A economia do Iraque é destruída para a implantação de empresas e trabalhadores norte-americanos, para sustentar a decadência do imperialismo.

Mais que isso, não apenas o autor rompe com dois pontos elementares do marxismo, mas abertamente coloca a necessidade de abandono do programa marxista no trecho grafado. O programa é justamente o conjunto de princípios que norteia a atividade partidária, aqueles que o autor coloca em dado momento como universais. A defesa das liberdades democráticas, do controle operário da produção, do socialismo, finalmente. Vejamos aonde ele vai com isso.

“Em um breve exemplo comparativo, naquele momento histórico início do século XX o proletariado ainda era um percentual reduzido da população com reduzidos direitos políticos, portanto havia pouca chance da classe trabalhadora dirigir o Estado pela via eleitoral, pelo direito de votar e ser votado, através de eleições livres. Em 2024 no Brasil, já sabemos, agora com a democracia liberal sendo restaurada, que é possível através de eleições regulares e democráticas a classe trabalhadora eleger seu programa e seus dirigentes pela maioria da população.”

O que é colocado neste trecho é uma verdadeira abominação muito mal travestida de marxismo. Se as eleições são livres e democráticas, e a classe trabalhadora pode eleger seu programa, onde está ele? Por que a miséria assola a população nos quatro cantos do Brasil? O proletariado, além disso, no início do século XX, já era maior que a burguesia, e na Alemanha, por exemplo, era uma classe extremamente desenvolvida. Por que a via eleitoral não funcionou? Será que Marx, Engels e Lênin se esqueceram de que, sendo a maioria, a classe operária pode chegar ao poder simplesmente através de eleições “regulares e democráticas”? Lênin por acaso não propunha a revolução na Inglaterra, na França, a revolução internacional? Lógico que não é o caso.

O Estado não é uma ferramenta livre para ser tomada durante o período eleitoral durante as eleições. É uma ferramenta de classe, de esmagamento de uma classe sobre a outra, e isso é outro ponto do bê-á-bá do marxismo. A burguesia não irá abrir mão de seu poder, e nem permitirá que este lhe seja tomado por meio de eleições “regulares e democráticas”, sem lutar, sem uma verdadeira guerra. Daí a luta de classes. Não há opção que não a tomada violenta do poder político. A classe dominante jamais abriu mão de seu poder por livre e espontânea vontade. Um último trecho é interessante para apresentar este ponto, e a verdadeira confusão do autor do artigo:

“Todavia, podemos nos apropriar como lição os métodos táticos, estratégicos de organizativos partidários leninista para uma reação contra instalação de um eventual regime de exceção, opressor, nacional ou internacional promovido, executado, exercido por forças antidemocráticas, reacionárias e/ou neofascistas.”

Ou seja, os trabalhadores devem organizar um partido para impedir a reação, a burguesia, de modificar o regime do Estado burguês, para que os trabalhadores cheguem então ao poder através de eleições. Óbvio, é preciso formar uma grande organização capaz de combater os movimentos fascistas da burguesia em todas as frentes, mas não para tomar o poder, mas para mantê-la no poder até uma vitória eleitoral. Uma farsa completa.

Vemos então que todo o palavrório a respeito de ação política e relação teoria e prática do articulista não se referia à ação concreta através da construção de um partido revolucionário da classe operária, mas à participação política no regime democrático burguês, a prática dos liberais, não dos revolucionários.

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