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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Reflexões sobre o jornalismo brasileiro em tempos de genocídio

"Esta semana, Lula deu uma aula sobre como explicar o óbvio de maneira simples"

A declaração do presidente Lula na Etiópia foi um acontecimento histórico no Brasil e no mundo. A direta e dura intervenção do estadista brasileiro teve uma função didática exemplar:

  1. Pela importância do Brasil, a declaração ajudou a dar suporte a milhões de pessoas que estão denunciando o genocídio da população palestina, inclusive comunidades judaicas no Brasil e no exterior;
  2. Ajudou a posicionar as esquerdas diante do assunto no Brasil e também no mundo. Até a CUT conseguiu sair do sono eterno e se manifestar com uma nota de repúdio que defende o presidente (mas não endossa o que ele diz, claro);
  3. Ajudou a tirar milhares de pessoas de cima do muro em relação à propaganda de guerra imperialista;
  4. Ajudou a mostrar que existe uma aliança nefasta e incontestável entre a máquina de propaganda de guerra nazista da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil e a extrema-direita brasileira, seja ela patética como o bolsonarismo, seja indigente e covarde como o huckismo-tabatanismo das viúvas do PSDB;
  5. Ajudou a colocar mais um prego no caixão do identitarismo, que aos poucos vai saindo do armário e mostrando sua filiação com o sionismo na forma e no conteúdo;
  6. Mostrou a força dos BRICs+;
  7. Como sempre, Lula usou as palavras que as pessoas entendem. Foi direto ao assunto e aos fatos. Disse o que os covardes não dizem. Sem meias-palavras, atingiu milhões com uma mensagem direta.

Nesse ínterim, a liderança exercida por Lula nesse momento histórico é para ser colocada em todos os livros de história para que as próximas gerações saibam o que aconteceu. Podemos até ficar chateados com o linguajar diplomático dos “dois-ladismos”, mas o que foi reverberado no mundo todo foi a verdade dos fatos: que países imperialistas estão ajudando os colonizadores psicopatas do artificial estado de Israel a assassinar a população civil desarmada da Palestina, o único país que de fato existe naquela região.

Ao citar Hitler, apenas atingiu em cheio os perpetradores. Mais um capítulo de horror para a história de horror do capitalismo.

Se a reação da propaganda de guerra sionista na mídia brasileira era previsível, não deixando dúvidas sobre seu papel de sabotar o desenvolvimento e a soberania do Brasil, a surpresa veio da reação dos canais progressistas, o que também ajudou a colocar vários pingos nos is. Um holofote gigante caiu sobre os sionistas disfarçados e eles se enforcaram com a própria corda dos seus comentários relativizadores.

Nenhum canal progressista escapou do vexame. Isso coloca também um outro problema: até que ponto jornalista também deve ser comentarista político? Normalmente, assistimos preconceitos e falta de conhecimento que ficam escancarados nas frases feitas que poderiam ser ditas também em qualquer programa jornalístico da TV aberta neoliberal.

Mas, com o pronunciamento do Lula, não deu para esconder a ignorância intelectual apoiada em senso comum fuleiro e rasteiro. Alguns fizeram papel de tolos. Outros tentaram nos fazer de tolos. Houve algumas exceções, ainda bem.

Muitos canais se apoiam editorialmente em analistas intelectuais de origem universitária. São professores que desfilam corolário acadêmico bastante raso, com um título que ajuda a dar um certo ar de autoridade.

Isso também mostra um sintoma patético vinculado às Ciências Humanas colonizadas pela cartilha tanto da filosofia francesa prós-estruturalista, quando de certos círculos norte-americanos. Pura ficção pós-moderna, para citar um acadêmico de quem gosto muito: Fredric Jameson.

Se a mídia progressista quer ter de fato uma pauta emancipatória e de esquerda, seu norte editorial deve estar vinculado ao materialismo histórico dialético e, por consequência, à luta de classes. A partir desse norte, escala-se comentaristas, analistas e convidados ao debate. O resto é atuar como coadjuvante raso e desempregado da mídia capitalista.

Não dá para combater propaganda de guerra com argumentos relativizadores de genocídio. Esse é um jornalismo fraco, sem conhecimento, sem capacidade de análise de conjuntura e sem personalidade. Em resumo, sem capacidade de luta.

É em momentos como os dessa semana que percebemos a necessidade de comprometimento e de posicionamento coerente por parte desses canais. O resto é disfarce.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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