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Eleições municipais

Quais as ‘raízes’ de Guilherme Boulos?

Corrente interna do PSOL apresenta pré-candidato a prefeito da legenda como um grande revolucionário que teria se perdido no meio do caminho

No dia 15 de janeiro, a corrente interna Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR) do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) publicou o artigo Partindo da esquerda, todo passo para o centro é um passo para a direita, em que se propõe a analisar a chapa Boulos-Marta. Liderada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), a chapa concorrerá ás eleições municipais de São Paulo em 2024.

Como procura sempre se mostrar “à esquerda” dos grupos que dirigem a legenda, a LSR tenta apresentar uma visão crítica da chapa – mostrando que, assim, não seria cúmplice da vergonhosa política de frente ampla levada adiante pelo PSOL. O texto, no entanto, falha miseravelmente.

A principal crítica da LSR para se apresentar como “radical” é a que faz da candidata a vice-prefeito na chapa, Marta Suplicy. Vejamos o que diz a corrente:

“Alguns lembram a Marta pelo Bilhete único ou os CEUs mas sua trajetória mais recente foi de apoiar o impeachment da Dilma, votar a favor da reforma trabalhista de Michel Temer, fazer campanha contra o Boulos em 2020 e aí assumir um cargo na gestão Nunes, o nome apoiado pelo Bolsonaro”.

A primeira frase já chama a atenção. A LSR não contesta aqueles que “lembram a Marta pelo Bilhete único ou os CEUs”, indicando que esse argumento em favor de Marta Suplicy seria válido. A “radical” LSR, portanto, faz coro àqueles que consideram que Marta Suplicy teria feito uma “boa gestão” como prefeita de São Paulo.

Em outro trecho, a LSR reforça essa concepção:

“O nome da Marta representa esses elementos quando levantam que ela tem ‘experiência de gestão’ e que isso ajudaria a combater a crítica de que Boulos não tem”.

É a apologia da gestão da “Martaxa”, uma prefeita tão impopular que sequer conseguiu se reeleger em 2004. Naquele ano, Suplicy teve apenas 35% dos votos, correndo risco de ser derrotada por José Serra logo no primeiro turno.

O que também chama muito a atenção é a forma como a LSR se refere ao golpe de Estado. Marta Suplicy teria “apoiado o impeachment da Dilma” – a corrente sequer utiliza a expressão “golpe”. E mais que isso: o “impeachment da Dilma” é apresentado em meio a uma sequência de outras condutas, como se fosse um problema do mesmo quilate que “fazer campanha contra o Boulos”. Acontece que o golpe de Estado foi o maior ataque da direita contra os trabalhadores desde a ditadura militar, e é esse apoio que torna Marta Suplicy uma inimiga da esquerda.

Marta Suplicy fez parte de uma conspiração contra todo o povo brasileiro – uma conspiração na qual ela e todos os políticos envolvidos tinham plena consciência do que estavam fazendo. Conforme a LSR apresenta a questão, poderíamos concluir que se alguém que apoiasse o golpe de Estado e depois se mostrasse “arrependido”, não fazendo “campanha contra o Boulos”, receberia o apoio da corrente do PSOL. É, afinal, a posição tradicional dos setores frente-amplista da esquerda, que abraçaram Reinaldo Azevedo, Felipe Neto, Alexandre de Moraes e outros golpistas que hoje se dizem grandes defensores da democracia.

Como o PSOL poderia apoiar uma chapa em que a vice é uma apoiadora de um golpe de Estado? A LSR tem a resposta. O PSOL nada teria a ver com isso: “essa articulação, evidentemente, foi feita por Lula e uma cúpula, e muita gente até mesmo do PT e do PSOL soube apenas quando a notícia chegou na imprensa”. É a volta do “a culpa é do PT”.

O PSOL, segundo a LSR, seria um partido “puro”, um partido que teria sido vítima de uma manobra oportunista do PT. Não há dúvida de que a manobra do PT é oportunista ao extremo – é uma desmoralização total do partido, que apresenta uma golpista como uma pessoa de confiança. No entanto, é ridículo culpar o PT por uma suposta “direitização” do PSOL e da candidatura de Guilherme Boulos. Mas é essa a visão que a LSR tem:

“Mas mais do que isso, essas movimentações, em vez de aumentar as chances do Boulos na verdade, só atrapalham. Na sua tentativa de parecer menos “radical” sua campanha se afasta do que tornou o nome dele atrativo para começar. Foi sua trajetória de luta, de enfrentar o sistema e lutar por moradia, de forma realmente radical, que energizou sua campanha em 2018 e em 2020 e mostrou para uma geração nova de trabalhadores e para as periferias que tinha uma verdadeira alternativa. (…) Para derrotar Nunes não apenas em números de votos, mas seu projeto privatista, excludente, antipovo, é necessário que Boulos volte às suas raízes e realize uma campanha combativa para ganhar um mandato a serviço das lutas”.

A LSR já havia demonstrado que nada tinha de revolucionário ao contemporizar com os admiradores da “gestão” de Marta Suplicy. Sua caracterização de Boulos como alguém com “trajetória de luta” é, no entanto, o fundo do poço.

Guilherme Boulos nunca teve uma “trajetória  de luta”. É uma figura produzida pela Folha de S.Paulo, pela Rede Globo e pelo PSDB. Isto é, pela burguesia. Boulos surgiu no cenário nacional durante a mais importante luta da esquerda nos últimos anos: a luta contra o golpe, que a LSR menospreza chamando de “impeachment”. Mas tem um detalhe: Boulos não surgiu do lado de cá, da luta dos trabalhadores contra a direita, mas do lado de lá, do lado dos golpistas.

Boulos foi forjado no movimento “Não vai ter Copa”, um movimento que tinha como objetivo desestabilizar o governo de Dilma Rousseff às vésperas do golpe de Estado. Pouco depois, Boulos surgiu como o grande articulador da Frente Povo sem Medo, criada com o mesmo propósito.

As “raízes” de Boulos são o golpe de Estado. A participação de Marta Suplicy em sua chapa não é nada a mais que a expressão da política de frente ampla que vem sendo levada adiante pelo deputado federal. E é, da mesma forma, parte da operação de Boulos e do PSOL para colocar o PT a reboque dessa política.

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