Ainda que o tema titular da última Análise Política da Semana, feita pelo companheiro Rui Costa Pimenta, seja a aprovação do pacote de destruição econômica de Milei na Argentina, um verdadeiro golpe de estado, a questão naturalmente se insere no tema mais geral que é a interferência do imperialismo, norte-americano principalmente, na América do Sul no último período. Enquanto a dominação do capital imperialista sofre duros golpes na África ocidental, no Oriente Médio, na Ucrânia, etc., “colocar o quintal em ordem” se mostra um tema-chave para a política imperialista no próximo período.
É interessante fazer uma varredura do continente. No Uruguai, está no poder a direita, e de maneira bem estável. Aos adoradores do personagem Mujica, fica aí mais um exemplo da fragilidade da política capituladora da esquerda reformista. Na Argentina, temos a entrada em cena de Milei e o golpe de estado em curso. No Paraguai, desde o golpe contra Lugo em 2012, vigora uma democracia de fachada (mesmo para padrões latino-americanos) em que governa a direita.
No Chile, depois das manifestações pré-revolucionárias, subiu à presidência, por meio de diversas manobras denunciadas inúmeras vezes neste Diário, o “esquerdista de laboratório” Boric, cujo governo identitário e de ataques contra os trabalhadores levará, caso não haja algum acidente muito grande de percurso, o retorno da direita pinochetista ao governo.
Na Bolívia, o golpe não foi verdadeiramente derrotado, e Arce, o direitista que chegou a presidência pelo MAS, já persegue o partido que o elegeu, procurando impossibilitar a candidatura de Morales à presidência nas próximas eleições.
No Peru, um golpe de estado sangrento contra Castillo, que rompera com a esquerda que o elegera para fazer acordos com a direita, que mesmo assim o derrubou, culminou na entrada de tropas norte-americanas no país. No Equador, a direita levou o país a tal situação de miséria que, sob a farsa do combate ao crime organizado, tropas norte-americanas foram autorizadas a entrar no país.
A Colômbia é uma base militar tradicional dos norte-americanos no continente, e nada muda com o fato de ter um esquerdista identitário no governo.
No Brasil, Lula foi reeleito numa eleição dura, mas o governo se encontra acuado pela direita e nada, ou quase nada, consegue fazer. Mesmo nesse cenário, desfavorável tanto internamente quando externamente, a direção do PT é incapaz de mobilizar suas bases para defender as medidas progressistas do governo.
Sobra, para além dos países artificiais Guiana e Suriname, e da colônia francesa no continente, a Venezuela, onde sobrevive o governo chavista. O cenário todo está pintado para mais uma tentativa por parte do imperialismo de derrubar o governo nacionalista do PSUV, que comemorou vinte cinco anos de existência na última sexta-feira.
Em meio ao levante generalizado dos países atrasados contra o domínio imperialista, o governo venezuelano trouxe para o primeiro plano a questão de Essequibo, território tomado da Venezuela pelos britânicos há quase duzentos anos. O plebiscito bem-sucedido foi uma grande vitória política de Maduro. No entanto, a situação é complexa. Apesar do relaxamento de algumas sanções devido à operação militar especial no Donbass (afinal de contas, os norte-americanos precisam do petróleo), em nenhum momento o imperialismo deixou de financiar e auxiliar a oposição ao governo, inclusive armada. É nesse contexto que Maria Corina Machado, lambe-botas dos gringos e principal candidata da oposição, perdeu seus direitos políticos.
Com isso, mais um dos diversos capítulos cínicos das denúncias da “ditadura de Maduro” foi inaugurado, tanto interna quanto externamente. Falamos, por exemplo, de uma ampla campanha caluniosa da imprensa pró-imperialista. A postura combativa do PSUV e sua proximidade com os russos e chineses são um grande estorvo ao domínio imperialista na América Latina. Cabe o futuro dizer se os chavistas, mais uma vez, sobreviverão à tentativa dos norte-americanos de derrubá-los.