No artigo São Paulo na luta contra a extrema direita, publicado pelo Poder 360, Paula Coradi e Juliano Medeiros, respectivamente, presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e ex-presidente da mesma legenda, comemoram o apoio de Marta Suplicy à pré-candidatura de Guilherme Boulos, também filiado ao PSOL. Embora Suplicy ainda não tivesse se “refiliado” ao Partido dos Trabalhadores (PT) na época em que o artigo foi escrito – 27 de janeiro -, a ex-prefeita já havia declarado apoio à pré-candidatura do psolista.
Disse, então, Coradi e Medeiros acerca do apoio de Suplicy:
“Sua vinda, independentemente da definição do PT sobre sua presença na chapa das esquerdas ao lado de Boulos, é extremamente positiva. Une os ex-prefeitos de esquerda e fortalece o sentido de frente democrática contra o bolsonarismo e seus aliados.”
Incorporar Suplicy na lista de “ex-prefeitos de esquerda” é, no mínimo, uma fraude. Embora tenha sido prefeita pelo Partido dos Trabalhadores entre 2001 e 2005, Suplicy era parte da equipe do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), esteve filiada ao Solidariedade e, antes disso, ao próprio MDB. Sem contar no fato de que ela foi uma grande apoiadora do golpe de 2016.
Já o que os psolistas falam sobre a tal “frente democrática” é bastante revelador. O passaporte para que a candidatura de Guilherme Boulos agrupe todo tipo de elemento direitista será o espantalho do bolsonarismo. Basta que um político se diga “antibolsonarista”, não importa o quanto seja picareta, que estará abençoado por Paula Coradi e Juliano Medeiros como um “democrata”.
É com esse espírito que Boulos até fez questão de chamar para a sua equipe o ex-marqueteiro de João Doria!
A “frente democrática” que o PSOL pretende implementar para tentar eleger Boulos a qualquer custo não possui qualquer filtro. Para comprovar isso, Coradi e Medeiros se valem do próprio exemplo de Marta Suplicy. Dizem eles:
“Alguns indicam a posição de Marta no impeachment contra Dilma como um erro imperdoável. Hoje, mais do que nunca, sabemos que Dilma era inocente e o impeachment foi, na verdade, um golpe. Mas a história de Marta não parou em 2016. Ela mostrou compromisso democrático no momento mais crítico quando engrossou a frente pró-Lula contra Bolsonaro. É a clivagem que importa agora. É hora de generosidade e grandeza política. Quem se limitar a apontar erros e contradições encontrará poucos aliados para enfrentar a batalha dura que temos pela frente. Quem tiver o compromisso com um programa de mudanças é, portanto, muito bem-vindo.”
Em primeiro lugar, os fatos. Marta Suplicy não é uma militante de esquerda que “errou” exclusivamente ao votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Ela sempre foi uma política burguesa, que se elegeu prefeita com os votos do PT, e cuja gestão não foi marcada por uma grande popularidade. Pelo contrário: Suplicy acabou ficando conhecida como “Martaxa” e sequer conseguiu ser reeleita, ficando em segundo lugar já no primeiro turno nas eleições que ocorreram durante seu mandato.
E mais ainda: não é que Martaxa apenas votou a favor do impeachment. Ela apoiou entusiasticamente a operação Lava Jato, ingressou no MDB, um dos principais partidos do golpe, e, como senadora, continuou votando no programa político e econômico do golpe. Suplicy, mais que “errar”, tomou uma posição de classe, a posição dos inimigos do PT e dos trabalhadores, em meio a uma conspiração em que todos sabiam o seu verdadeiro significado.
O que é particularmente curioso é a forma como os dirigentes do PSOL menosprezam a importância do golpe para a política nacional. Para eles, o mais importante teria sido “engrossar a frente pró-Lula contra Bolsonaro”. Isto é, uma eleição presidencial, por mais importante que tenha sido, seria mais importante que um golpe de Estado que opôs o conjunto da população a seus verdadeiros inimigos! Seria mais importante que uma conspiração notoriamente organizada de fora do Brasil para acabar com a economia nacional!
Ainda que escatológica, a posição do PSOL não causa surpresa. É a posição, afinal, de quem não lutou contra o golpe, como efetivamente o PSOL não fez. Não é à toa que seu pré-candidato a prefeito em São Paulo, Guilherme Boulos, tenha dito que o governo de Dilma Rousseff era “indefensável”, liderando uma das principais manifestações golpistas contra o PT: o “Não Vai Ter Copa”. Para o PSOL, assim como para Marta Suplicy, o golpe é um mero detalhe na história recente. Por isso, ambos estão prontos para se integrarem à candidatura do golpe de Estado por excelência: a chapa Boulos-Martaxa.