A golpista Folha de S.Paulo, na última terça-feira (20), publicou uma coluna intitulada Celso Amorim está certo, assinada pela jornalista Mariliz Pereira Jorge. A colunista da Folha, no entanto, concorda com o assessor especial de Lula? Naturalmente que não. Vamos ao que diz a jornalista:
“O ex-chanceler Celso Amorim, principal conselheiro de Lula para assuntos diplomáticos, diz que a fala do presidente ‘sacudiu o mundo’ e que ‘pode resolver a questão que a frieza dos interesses políticos foi incapaz de solucionar’. Cedo para dizer se o tremor foi além do eixo Brasil-Israel, onde deve ter atingido uns 7 graus na escala que mede tais desastres.”
Mariliz, seguindo seus patrões no jornal pró-imperialista, utiliza a fala de Amorim para levar a uma compreensão inversa do que afirmou Lula. Mas como se dá tal colocação frente ao desenvolvimento da situação política? Nos meios da esquerda nacional, a declaração de Lula repercutiu de maneira avassaladora e completamente favorável — mesmo os setores que apoiaram o golpe em 2016 estão com dificuldades para tentar criticar o fato.
Já no plano internacional, a colocação de Lula vibrou por todo o planeta, angariando apoio amplo e intenso desde os países atrasados à população dos países imperialistas. O “desastre” apontado, portanto, se deu entre os adeptos do sionismo e seus pares, serviçais do imperialismo. Segue o artigo, numa busca por inverter a realidade:
“Foi o que a declaração de Lula provocou, um desastre. Por aqui, serviu apenas para sedimentar a polarização, desviou as manchetes e o debate que deveria estar focado na audiência que aguarda Jair Bolsonaro para esclarecimentos sobre sua participação em uma trama golpista.”
No Brasil, de fato, a polarização novamente se colocou com força. A forma como se desenvolveu, porém, é diferente ao passo que antes, o setor bolsonarista e a imprensa burguesa acuaram Lula com a campanha sionista, numa polarização pela direita apenas. A declaração do mandatário despertou um setor da esquerda que estava adormecido, e um período de mobilização e polarização pela esquerda tende a se abrir.
O debate secundário sobre o “golpe bolsonarista” em janeiro, replicado incessantemente pela imprensa burguesa e reproduzido acriticamente pela esquerda, sumiu do mapa político. Hoje, a esquerda tem mais clara sua divisão não com o bolsonarismo apenas, mas com toda a direita e o imperialismo, defensores do sionismo. Em outras palavras, o cenário político, antes muito confuso, se tornou mais claro: há os que defendem a Palestina e os que defendem o Estado nazista de “Israel”, sem espaço para grandes conciliações. Provando o que colocamos, a colunista da Folha argumenta:
“Mas não ouso discordar de Amorim sobre as consequências do que foi dito por Lula. Vai que, não é mesmo? Ainda que o presidente ignore o que é genocídio, a devastação causada por uma dezena de outras guerras recentes pelo mundo e, pior, o que foi o Holocausto e como ele não tem nada a ver com o que acontece em Gaza. Vai que.”
Aqui temos evidenciada a polarização, ou seja, a impossibilidade de acordo entre a classe operária e a burguesia imperialista. Para o imperialismo, não há genocídio em Gaza, nem necessidade para se debruçar sobre este genocídio (chamado de guerra pela Folha) em específico, e não há porque condenar enfaticamente a limpeza étnica levada a cabo por “Israel”. Afinal, exterminar uma população com bombas ou câmaras de gás seria algo fundamentalmente diferente, conforme a conveniência para a política imperialista. Para o imperialismo, um genocídio serve para justificar outros, não como precedente para barrá-los.
“Às vezes, tudo o que uma guerra precisa é de uma fala improvisada que gere uma crise. Nem tudo se resolve com diplomacia. Taí o Hamas que não deixa dúvidas. De grupo terrorista a lutadores pela liberdade. Por que tentar um acordo quando pode provocar uma guerra e posar de mocinho? O mais eficiente banho de loja por meio de um banho de sangue já visto na história. Uma aula de marketing disruptivo.”
O impacto da fala de Lula no cenário internacional, e mesmo dentro do Brasil, é demonstrativo de que, concordando ou não com o presidente brasileiro, uma coisa é certa: não houve improviso algum, mas uma fala planejada, da forma ao local em que se deu. A serviçal da Folha busca fôlego ao tentar repetir as mentiras sionistas, “e um acordo?” diz ela. É fato notório hoje, contudo, que um acordo não ocorre por ação exclusiva de “Israel”.
Antes do 7 de outubro, inclusive, o que se viu, ao longo dos anos, foi um acirramento do cerco a Gaza, um aumento da miséria, do bloqueio, da fome, da sede, da falta total de perspectiva; uma limpeza étnica “pacífica”. Inúmeras tentativas de acordo por parte do povo palestino foram rejeitadas. Quando a colunista afirma que o Hamas começou a guerra, demonstra apenas a própria desonestidade. O que fez o Hamas foi uma resposta à violência imensurável infligida pelo sionismo ao povo palestino na Faixa de Gaza há quase um século.
No fim, Mariliz apenas reflete o ânimo de seus patrões.