Não é difícil entender como Pablo Marçal, do inexpressivo Partido Renovador Trabalhista do Brasil (PRTB), conseguiu chegar ao primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Em uma disputa protagonizada por figuras como o tucano José Luís Datena (PSDB), o prefeito Ricardo Nunes (MDB), eleito graças à máquina herdada do também tucano Bruno Covas, a títere de banqueiros Tabata do Amaral (PSB) e Guilherme Boulos, o queridinho da Folha de S.Paulo, basta se apresentar como um candidato “antissistema” que conseguirá popularidade.
No entanto, como qualquer político de extrema direita, Marçal não tem nada de antissistema. Falar que Boulos é um aspirador de pó é fácil. Chamar Ricardo Nunes de “comunista” também. O que Marçal é incapaz de fazer, no entanto, é enfrentar verdadeiramente os poderosos.
Ser antissistema no Brasil hoje significa, acima de tudo, lutar contra a ditadura imposta pelo Judiciário. Significa denunciar o cerco cada vez maior à liberdade de expressão. Significa defender todos os que são censurados pelo “sistema” e significa dizer abertamente quem é responsável por essa censura.
Marçal, assim como os bolsonaristas, são incapazes de fazê-lo. Nem um único bolsonarista saiu a público para defender o jornalista Breno Altman por estar sendo perseguido pelos sionistas. Ao mesmo tempo, 27 deputados bolsonaristas estão pedindo a prisão de um dirigente do Partido da Causa Operária (PCO) por causa de suas opiniões acerca da luta do povo palestino.
A capitulação de Marçal e da extrema direita, no entanto, é ainda maior e mais escancarada. O suposto candidato “antissistema”, que tanto acusa os outros candidatos de formarem um complô contra o povo, não falou uma única palavra sobre a censura dos mais de nove milhões de usuários na plataforma X.
O motivo é claro: Marçal, que já é vítima de vários processos, está com medo do que o ministro Alexandre de Moraes fará. E, assim, o candidato “antissistema” revela até onde vai em seu enfrentamento ao “sistema”: basta uma ameaça de multa ou de prisão, que Marçal se mostra como um cãozinho bem comportado.
Não é possível ser “antissistema” com medo do “sistema”. Marçal é apenas mais uma figura do regime político, um demagogo que, como Bolsonaro, não defende de fato as liberdades democráticas do povo.