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Guerra no Leste Europeu

Oprimidos e opressores lutam? ‘E daí?’, dizem esquerdistas

Se o conflito na Ucrânia é entre Rússia e OTAN, quem verdadeiramente quer o triunfo do socialismo deve apoiar a Rússia. A esquerda pequeno-burguesa, porém, não pensa assim

Assinado por Henrique Canary, o artigo “Dois anos depois: E se a Rússia vencer? E se a Ucrânia vencer?”, publicado pelo sítio Esquerda Online no último dia 23, apresenta uma longa introdução sobre a questão da guerra, para enfim questionar “diante de uma guerra, qual é a tarefa dos socialistas?”, respondendo que:

“Em primeiro lugar, se solidarizar com o sofrimento humano. A Ucrânia como Estado e como governo pode estar certa ou errada na guerra, mas sua população é quem sofre. São pessoas de carne e osso sendo bombardeadas, expulsas de suas casas, vivendo em abrigos e emigrando para fora do país. O mesmo ocorre com a população russa da região de Belgorod, alvo constante dos bombardeios ucranianos ou com os ativistas antiguerra perseguidos pelo governo Putin. A todos esses seres humanos, os socialistas devem solidariedade. Não merece ser chamado de socialista aquele que desdenha, debocha ou é indiferente ao sofrimento humano porque é para acabar com esse sofrimento, em primeiro lugar, que existe o socialismo.”

A colocação de Canary, no entanto, é que está muito longe de ser a posição de um socialista, salvo os da Folha de S. Paulo e de O Globo. A primeira tarefa de um revolucionário que luta pelo socialismo, ao contrário do que defende a matéria, seria a de analisar um conflito à luz da luta de classes. Qual dos lados em conflito favorece a luta pela libertação dos trabalhadores e pelo fim da exploração capitalista?

Para atingir esse fim, o proletariado mundial tem no imperialismo seu principal inimigo. Porém, é visível a falta dessa compreensão elementar a a muitos daqueles que se propõem a analisar o mundo. Essa falta de orientação aparece quando Canary diz:

“[Quando] a ditadura sanguinária de Rafael Videla iniciou a Guerra das Malvinas em 1982 para anexar um conjunto de ilhas que está a 600 quilômetros de sua costa patagônica e a quase 13 mil quilômetros da Grã-Bretanha. Estava errada a Argentina ao iniciar a guerra (ainda que se considere os objetivos políticos de Videla)? Também não há nada óbvio aqui.”

Como não há? Qualquer um minimamente familiarizado com a luta contra o imperialismo teria a resposta na ponta da língua: em um conflito entre a “democrática” Grã-Bretanha e a fascista Argentina, a posição revolucionária é opor-se à democracia britânica e apoiar a luta dos fascistas argentinos.

Novamente, é a vitória dos segundos que permite aos trabalhadores lutar contra seus piores algozes em condições mais favoráveis. A vitória inglesa, por sua vez, longe de trazer um fortalecimento dos direitos democráticos, torna o imperialismo forte o bastante para destruir as liberdades democráticas com vigor ainda maior. É o que efetivamente vem ocorrendo desde o fim da Segunda Grande Guerra, pelo menos.

Em outro parágrafo, tratando sobre o suposto “duplo caráter da guerra na Ucrânia”, o articulista de Esquerda Online questiona “como entender a guerra que ocorre hoje no território ucraniano?”, apresentando a seguinte pérola:

“Sem dúvida, é uma guerra colonial ou neocolonial por parte de uma nação historicamente opressora (Rússia) contra uma nação historicamente oprimida (Ucrânia).”

Após ter escamoteado a luta de classes como fundamento da sua análise, Canary impressiona pela esquizofrenia exibida ao contradizer sua suposta preocupação com o “sofrimento humano em primeiro lugar”: “É verdade que nos últimos anos, sobretudo após a ‘euro-maidan’ de 2014, o neonazismo floresceu na Ucrânia. Mas também na Rússia o ultranacionalismo corre solto”.

Malandramente, o autor joga um “renascimento dos pogroms contra certas populações e a opressão nacional aberta”, fugindo dos detalhes, que aqui seriam cruciais para se demonstrar quando foi que o “ultranacionalismo russo” supramencionado cometeu atos de selvageria, como o Massacre de Odessa. Na ocasião, nazistas de verdade municiados pelo imperialismo atearam fogo à Casa dos Sindicatos de Odessa, matando 41 pessoas queimadas no prédio e espancando as 200 vítimas que escaparam das chamas, apenas para serem barbaramente atacadas.

Após tantas considerações alopradas, o articulista de Esquerda Online finalmente se dobra à realidade e reconhece que “a Ucrânia é hoje um campo de batalha entre a Rússia e a OTAN não apenas no sentido literal, mas também figurado”, levando o leitor a uma dose de esperança quanto às conclusões, o que rapidamente é desfeito quando o artigo estabelece:

“É o cenário ideal para a OTAN: uma guerra fora de seu território direto, lutada com o exército de um país não-membro e sob o manto da defesa contra a agressão chauvinista russa.”

Aqui, evidencia-se completamente a incompetência do “analista”. Ora, se a Rússia está na realidade em guerra contra o OTAN, se o próprio reconhece que “desde 24 de janeiro de 2022 (ainda antes da guerra) até 31 de julho de 2023, a Ucrânia já recebeu US$ 233 bilhões em ajuda”, nomeando EUA, UE, Reino Unido, Japão e Canadá como os principais apoiadores de Kiev, como um ser humano normal poderia supor que Moscou se atreveria a enfrentar tamanha coalizão de forças, tendo como motivação um suposto “chauvinismo russo”? Ou Putin e seu gabinete estariam completamente loucos ou Esquerda Online tem colunistas com a cabeça fora do lugar. Naturalmente, o segundo caso é o que prova estar mais perto da verdade.

Em nova demonstração disto, Canary mostra sua aptidão para fazer análises sem qualquer preocupação com os fatos ao expor a seguinte pérola:

“Mantidas as atuais condições de tensão e financiamento, o conflito caminha para o que se costuma chamar de ‘guerra de atrito’, ou seja, um longo enfrentamento que exaure os seus participantes sem uma mudança qualitativa dos ganhos e posições conquistadas.”

O mundo está lamentavelmente mal-informado e os russos não libertaram completamente a região do Donbass após a tomada de Avdiivka, ocorrida no último dia 19, quatro dias antes do artigo ser publicado no Esquerda Online. A falta de uma bússola calibrada, no entanto, não é apenas um problema do redator, embora a desorientação dele seja latente, sendo principalmente resultado da conexão política de Canary e também de Esquerda Online com a pequena-burguesia.

O caráter pequeno-burguês da “análise”, no melhor estilo “bem pensante” que caracteriza esta classe, avessa a radicalismos e polêmicas, dá as caras novamente quando conclui: “Enfim, nada de bom em nenhum dos dois cenários, uma guerra sem saída e sem final feliz.”

Claro. Um dos lados em conflito – Canary reconhece – é a força responsável por colocar o planeta inteiro em guerra duas vezes, por levar à fome mais de um bilhão de seres humanos, responsável por todas as guerras, pelas ditaduras militares da América Latina e mais recentemente, pelo bárbaro genocídio do povo palestino.

Para um pequeno-buguês que dispõe de pequenos privilégios, pouco importa se essa máquina de guerra contra todos os povos oprimidos do planeta sair-se fortalecida. O mesmo não podem dizer os trabalhadores e explorados do mundo, que precisam do seu arqui-inimigo enfraquecido ao máximo para poder derrotá-lo definitivamente. O que não interessa a Canary e nem ao Esquerda Online, mas interessa a quem verdadeiramente quer o triunfo do socialismo.

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