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HISTÓRIA DA PALESTINA

O que foi a Lehi, uma das piores milícias sionistas

A Lehí, também conhecida como “Gangue de Stern”, foi uma das milícias fascistas que conformavam as tropas sionistas, e esteve por trás dos massacres de Deir Yassin e al-Dawayima

A Lehí, também conhecida como “Gangue de Stern”, foi uma das três milícias fascistas que conformavam as forças militares sionistas durante o Mandato Britânico da Palestina (1920 a 1948), sendo as outras duas o Irgun e Haganá. Antes do ano de 1948, elas e seus membros foram fundamentais em reprimir a Revolução de 1936 e demais revoltas do povo palestino contra o avanço do sionismo e a dominação britânica. Na “guerra” de 1948, ao serem incorporadas às forças armadas oficiais de “Israel”, conformaram batalhões e brigadas que perpetraram incontáveis massacres, marcados para sempre na história do povo palestino.

O presente artigo é uma breve exposição sobre a Lehí. Contudo, primeiramente, é necessário compreender o que é, para entender por que tais milícias fascistas surgiram.

O sionismo, ideologia política que guia “Israel”, sempre teve como objetivo criar um Estado puramente judeu, sob a justificativa de proteger judeus das perseguições que sofriam na Europa, em especial no Leste. Um objetivo supremacista, afinal, em um Estado nacional desse tipo, só judeus seriam os verdadeiros cidadãos (ou, na melhor das hipóteses, seriam superiores aos outros). A Palestina foi escolhida como local para isto, justo onde havia uma maioria de árabes muçulmanos. Assim, para erguer “Israel” (o Estado supremacista judeu), o movimento sionista precisou do apoio do imperialismo. E o recebeu. Contudo, esse apoio não foi suficiente, pois era necessária uma violência de tipo fascista para expulsar os palestinos, e o imperialismo britânico, apesar de não ser estranho a uma violência fascista através de sua política colonial em outros países (como a Índia), precisava manter os países árabes vizinhos sob controle, ao mesmo tempo em que apoiava integralmente o projeto sionista. Assim, surgiram as milícias fascistas do sionismo, fundamentais para a Nakba, isto é, o processo de limpeza étnica realizado em grande parte em 1948, quando “Israel” foi fundado com a expulsão de quase um milhão de palestinos.

A Lehí foi fundada em 1940 pelo judeu polonês Avraham Stern, como um racha do Irgun, que, por sua vez, era um racha da Haganá. Estes rachas ocorreram como um produto de uma divisão que havia no sionismo internacional.

De um lado, a corrente principal do sionismo, à qual era aderente Chaim Weizmann e Ben Gurion. De outro, o revisionismo sionista, de Vladimir Ze’ev Jabotinsky, fundador do Betar, movimento fascista do sionismo, fundando na década de 1920.

Betar, a milícia fascista que elegeu 3 premiês israelenses

Tendo em vista que o sionismo, em si, é uma ideologia fascista, a diferença entre ambas as correntes não era no sentido de quem era mais genocida, mas em quem era capaz de mascarar isto melhor, quem era mais cínico, mais “político”. Algo muito semelhante entre o imperialismo “democrático” (Joe Biden, George Bush, Winston Churchill) e o imperialismo “fascista” (Hitler, Mussolini).

Em especial no caso da Lehí, outro aspecto específico desses rachas era o extremismo ideológico de seus líderes. Conforme já exposto por esse Diário, Avraham Stern, fundador da Lehí, separou-se do Irgun porque não concordava com a dominação britânica sobre a Palestina, e com a aliança daquela milícia com os britânicos. Assim, buscou uma aliança com a Alemanha Nazista, redigindo carta endereçada ao próprio Adolf Hitler. Naturalmente, sua posição não se tratava de uma luta por libertação nacional, afinal, Stern ainda tinha o mesmo objetivo do restante das milícias e do movimento sionista: erguer “Israel” sobre a Palestina, expulsando os palestinos.

Há 116 anos, nascia fundador da Lehi, uma das milícias sionistas

Como se tratava de um uma milícia recém fundada, Stern dedicou-se em organizá-la, a partir dos membros que haviam deixado o Irgun junto dele, e de novos membros. Já era o ano de 1940, e a Segunda Guerra Mundial já havia iniciado. Stern tentava angaria apoio e financiamento na Europa, em especial com os governos da Itália Fascista e na Alemanha Nazista. Apesar de continuar fiel ao sionismo, e do apoio da Inglaterra ao futuro Estado judeu, o imperialismo britânico passou a persegui-lo como terrorista. Foi assassinado em 1942 pela polícia do Mandato.

Uma contradição semelhante surgiu entre Alemanha Nazista as Sturmabteilung (SA, Tropas de Assalto, os famosos “Camisas Marrons), cuja cúpula liderar por Ernst Rohm, após o golpe de 1933, que levou o nazismo ao poder, passaram a querer uma nova “revolução” (como eles chamavam), já que havia ficado claro que os nazistas estavam a serviço da burguesia alemã (ao contrário a demagogia utilizada para levá-los ao poder). Adolf Hitler e a SS (Schutzstaffel) resolveram essa contradição na Noite das Facas Longas, eliminado a cúpula das SA.

Assim, eliminado Stern, quem possuía as principais ligações políticas na Europa, o imperialismo conseguiu desorganizar em parte a Lehí, impedindo-a de avançar. A atividade da milícia contra oficiais britânicos continuaria entre os anos de 1942 e 1948. Contudo, como contava com poucas centenas de membros, eram ações pontuais.

Nesse período, a milícia, ao mesmo tempo em que realizava ataques contra palestinos, também tinha como alvos soldados e autoridades do Mandato Britânico, de forma que continuavam posando um relativo problema para o imperialismo.

Para os britânicos, o cenário ideal seria a eliminação da Lehí, e contar com apenas uma milícia fascista como a Haganá, que, a essa altura, praticamente não tinha contradições significativas com os ingleses, apenas superficiais. Afinal, era a milícia extraoficial do Mapai, a “socialdemocracia/trabalhismo” sionista, o partido sionista preferencial do imperialismo britânico.

Contudo, as condições objetivas não lhe permitiam eliminar a Lehí. Para o plano do imperialismo de exercer o seu domínio sobre o Oriente Médio através da Palestina, erguendo um Estado judeu sobre aquele território, utilizando-se do sionismo para isto, eram necessárias certas concessões. Uma delas era a de que os judeus estavam aparentemente lutando por sua autodeterminação, por sua nacionalidade. Que seu projeto de “Israel” era apenas nacionalista, e não colonialista.

Assim, quando essas tendências pseudonacionalistas (porém colonialistas) dos sionistas se manifestavam nos grupos armados, principalmente na Lehí, não era possível combatê-las completamente. Ainda mais levando-se em consideração que era algo que se manifestava no âmbito do Irgun, uma milícia fascista com mais membros.

Então, apesar da Lehí continuar cometendo ações contra os britânicos, continuou existindo.

De forma que chegou 1948, o ano em que os grupos sionistas e seus membros, apesar das divergências, marchariam juntos para expulsar da Palestina cerca de 800 mil árabes. Esse processo de expulsão envolveu o roubo de suas propriedades e o assassinato de milhares de palestinos.

O primeiro massacre perpetrado pela Lehí durante 1948 (do qual se tem registro, é claro), foi através de uma explosão em um carro, em Haifa, no de 3 de março. Resultou no assassinato de 11 palestinos (Bose, Sumantra (2007). Contested Land. Harvard University Press. pp. 230–231).

O seguinte deu-se ainda no mesmo mês, dia 31. Foi o atentado a bomba ao trem que ia de Cairo a Haifa. Resultado: 40 árabes palestinos mortos, 60 feridos (Gilbert, Martin (2005). Routledge Atlas of the Arab-Israeli Conflict. Routledge. ISBN 0-415-35901-5).

Contudo, o massacre mais famoso cometido pela Lehí (nesse caso, junto da Irgun, com a Haganá na retaguarda), foi o de Deir Yassin. O historiador judeu israelense Ilan Pappé, em sua obra A Limpeza Étnica da Palestina, descreve bem como se deu a ação fascista:

“Milícias sionistas, de extrema direita, formadas por dois grupos extremistas – o Irgun (Organização Militar Nacional) e o Lehi (Lutadores pela Liberdade de Israel, também conhecido como Stern Gang), atacaram a aldeia. De forma proterva, chegaram atirando a esmo, arremessando granadas e coquetéis Molotov em residências, matando pobres camponeses desarmados, de forma covarde, a sangue frio. Depois disso saquearam os poucos pertences com algum valor, deixando os poucos sobreviventes praticamente com a roupa do corpo.

O resultado da ação de puro terror foi a morte de 200 pessoas, metade da população da aldeia, incluindo homens, mulheres, crianças e idosos; além de mutilações – inclusive de membros sexuais masculinos-, estupros em série – com vários soldados violando uma única mulher, que logo depois eram assassinadas, jogadas em valas e urinadas em cima. Crianças e adolescentes também foram estuprados. 25 homens da aldeia foram levados a desfilar por Jerusalém em caminhões antes da execução a sangue frio, onde arrancavam suas tripas numa pedreira, apenas pelo motivo de serem palestinos”.

Para saber mais a respeito do cruel ocorrido, releia a matéria publicada neste Diário:

O massacre de Deir Yassin revela o fascismo de Israel

Contudo, apesar de menos notório, o massacre de al-Dawayima foi um dos piores da história da Nakba, de uma violência ainda mais virulenta que o de Deir Yassin. Datado de 29 de outubro de 1948, desta vez foi perpetrado por membros da Lehí e do Irgun depois que referidas milícias foram incorporadas nas recém criadas Forças de “Defesa” de “Israel”.

Naquele dia foram assassinados um total de 455 aldeões, dentre os quais 170 crianças e mulheres, em um nível de violência que incluiu estupros e soldados sionistas abrindo crânios de bebês, conforme já relatado por este Diário, quando publicada matéria específica sobre o massacre. Releia abaixo:

Israel abriu crânios de bebês e estuprou mulheres em vila

Esta era a Lehí (Gangue Stern) e estes foram apenas alguns episódios de sua violência fascista (e a de seus membros) contra os palestinos. Uma das três milícias fascistas do sionismo na época do Mandato Britânico e da Nakba. Embora ideologicamente a mais extrema delas, as outras (Irgun e Haganá) não deviam nada em seu caráter genocida. Afinal, eram mais organizadas e recebiam mais apoio do imperialismo.

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