Em artigo intitulado É antissemitismo sim, Gleisi, Bruno Bimbi, que se apresenta como jornalista, escritor e ativista LGBT, acusa a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, de “antissemitismo”. O artigo foi publicado pelo jornal O Globo, o mesmo jornal que praticou uma campanha caluniosa durante anos contra o PT como parte do golpe de 2016, mas que agora se mostra um grande defensor da humanidade.
O artigo começa afirmando que “diferentemente da extrema direita, que exibe seus ódios com orgulho, a esquerda os nega, indignada: como assim, antissemita, eu?”. Não se trata, no entanto, de “vergonha” alguma do “ódio”, mas sim de uma questão de programa, de princípios. Que é se não uma demonstração de seu ódio à burguesia a parte final do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels?
“Os comunistas recusam-se a dissimular suas visões e suas intenções. Declaram abertamente que os seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social vigente até aqui. Que tremam as classes dominantes em face de uma revolução comunista. Os proletários nada têm a perder senão os seus grilhões”.
A questão é que o ódio aos judeus nunca foi parte da luta da classe operária. O próprio Karl Marx era judeu. Por isso, não se trata de a esquerda reconhecer seu “antissemitismo”, pois a esquerda não é antissemita.
No próprio artigo de O Globo, narra o caso de Alfred Dreyfus, condenado à prisão perpétua por traição, acusado de revelar segredos aos alemães:
“Era falso. As provas o inocentavam, mas o Exército e parte da imprensa insistiam: aquele “porco judeu” era um traidor! O escandaloso processo, que gerou uma crise política, virou acusação coletiva. Essa gente não acreditava que os judeus franceses, todos eles, pudessem ser leais à França. Aliás, eram mesmo franceses?”
Ora, mas quem promoveu o caso de Alfred Dreyfus? Foi o Estado francês, foi a burguesia, foram os inimigos da esquerda. A esquerda, inclusive, denunciou o caso. Em seus escritos, o revolucionário russo Vladimir Lênin apontou como o caso Dreyfus foi utilizado para uma ofensiva reacionária contra os direitos democráticos.
O antissemitismo dos séculos XIX e XX foi promovido pela classe dominante, especialmente em Estados que precisavam de um bode expiatório para suas crises políticas.
O autor segue, então, criticando o regime venezuelano porque “em 2012, o opositor venezuelano Henrique Capriles, que é católico e não tinha falado nada sobre Israel, foi acusado pelo chavismo de sionista por ter “família sionista”. Uma família de judeus sobreviventes do Holocausto”.
Aqui, o autor já começa a introduzir sua tese: a esquerda seria “antissemita” porque acusa seus adversários de serem sionistas. Mas sendo o sionismo um movimento criado pelos próprios judeus, onde estaria o “antissemitismo” em apontá-lo? Não importa se alguém é católico, budista ou ateu: o sionista é todo aquele que defende a limpeza étnica da Palestina – isto é, a expulsão dos palestinos para a constituição de um Estado judeu no Oriente Médio.
Bruno Bimbi, então, segue, falando diretamente de Gleisi Hoffmann:
“Nesses dias, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, deu um bom exemplo. Criticou a denúncia da Confederação Israelita do Brasil (Conib) contra o jornalista Breno Altman dizendo que a maior entidade judaica brasileira ‘age em nome’ do governo de Israel. (…) É uma acusação antissemita de manual!”.
Ora, será tão incrível assim pensar que uma organização sediada no Brasil que está atuando como disque-denúncia contra aqueles que criticam “Israel” está a serviço de “Israel”? “Israel” não é um Estado estrangeiro? Qual o grande problema da declaração de Gleissi Hoffmann?
O autor, então, segue dizendo que:
“o sionismo também não é uma “doutrina”, mas o movimento nacional de autodeterminação do povo judeu. Há sionistas de direita, de esquerda, laicos, religiosos, com diferentes opiniões sobre o governo de Israel e a questão palestina”.
Nada disso. Dizer que é um movimento de autodeterminação equivaleria a dizer que os judeus são um povo lutando para constituir um Estado próprio em seu território. Mas o caso de “Israel” é muito diferente. É a tentativa de um povo invadir, ocupar e se estabelecer no território de outro povo. É um projeto tipicamente colonial.
Aqueles que, como Breno Altman, criticam a existência de “Israel” não são contra os direitos do povo judeu, não defendem que o povo judeu não possam formar um Estado. A questão é que o projeto sionista, desde sua origem, tinha como finalidade estabelecer um Estado em um local que já era lar de outros povos.
É por isso que a equiparação entre antissionismo e antissemitismo é ridícula.