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El Salvador

Nayib Bukele, assim como Bolsonaro, não é inimigo do ‘globalismo’

Setores nacionalistas se confundem em relação ao governo de Bukele em El Salvador, ele é na prática só mais um fantoche do governo norte-americano

As eleições de El Salvador não foram muito observadas pela esquerda brasileira. O direitista Nayib Bukele venceu novamente com 85% dos votos computados em meio a grandes denúncias de fraude de todos os tipos. No entanto, um grupo brasileiro nacionalista repeita muito Bukele, a Nova Resistência. O seu dirigente, Raphael Machado, publicou um texto em sua rede social X/Twitter explicando a posição da organização que vale a pena ser analisado. O seu título é A Vitória de Bukele e a Falência do Modelo Liberal de Democracia.

A tese do Nova Resistência é que Bukele seria um inimigo do imperialismo, um presidente que se opõe à “democracia liberal”. No caso de El Salvador, uma semi colonia dos EUA, isso significa estar em grande confronto com o governo de Joe Biden. O texto começa: “sem muitas surpresas, Nayib Bukele, Presidente de El Salvador desde 2019, foi reeleito com 85% dos votos, um resultado acachapante, avassalador, raríssimo na atual era de polarizações direita/esquerda equilibradas, tão suspeitamente comuns nas democracias liberais. A previsibilidade desse resultado está nos próprios índices de aprovação de Nayib Bukele, girando em torno dos 80%”.

O problema com este argumento é que as eleições de Bukele não podem ser usadas como lastro de sua popularidade. Tradicional oposição nacionalista, a FMLN publicou um grande relatório que demonstra que a ingerência nas eleições foi grande. O país se encontrava sob Estado de sítio desde 2022; a oposição teve seus recursos eleitorais cortados; as zonas eleitorais estavam controladas por pessoas ligadas ao partido de Bukele; ele prometeu ônibus para a população rural votar, mas isso não aconteceu; houve uma intensa distribuição de alimentos no pré-eleição e a sua campanha durou até o último dia, algo ilegal. A questão principal é, a eleição foi uma tradicional eleição burguesa de um país atrasado. Por esse argumento, governos como o do Gabão, um fantoche da França, eram populares.

Sobre os índices de aprovação, é preciso avaliar de onde surge o marco de 80%. Fato é que governos populares da região, como Honduras e Nicarágua, se apoiam sob uma ampla mobilização popular, algo que não se vê em El Salvador. A Nova Resistência afirma que o motivo para a sua suposta popularidade é “fruto do triunfo do governo sobre as organizações criminosas que controlavam o espaço público em El Salvador, transformando a vida das pessoas comuns em um inferno de homicídios, sequestros, estupros e narcotráfico“.

É um argumento ideológico visto que a NR tradicionalmente tem a mesma política de combater o crime com a repressão. Esse é, na verdade, o principal argumento de Raphael Machado, que Bukele mostrou que é possível o combate ao crime que ele “demonstrou que é possível travar uma ‘guerra às drogas’ e vencer. Basta ter vontade. Superando os entraves enfadonhos e ultrapassados do liberalismo político e seu compêndio infinito de ‘direitos individuais’ e ‘direitos humanos’“. O principal problema dessa argumentação são os dados em si. Essa é a propaganda feita pela imprensa burguesa, mas é isso que de fato aconteceu?

O principal fator que joga contra essa tese é a posição do imperialismo em relação a Bukele. Basta comparar aos seus irmãos da região. Nicarágua está sob um constate bloqueio imperialista que tem como o objetivo derrubar o governo. Ortega é taxado de ditador constantemente. Em Honduras, Xiomara Castro, uma nacionalista de esquerda, é constantemente ameaçada de golpes de Estado, o país lutou por 13 anos para derrotar o regime golpista e eleger a esposa do presidente que foi derrubado. Mas El Salvador, que é o menor e mais fraco dos três, teria um governo de direita, ou seja, que não se baseia no apoio das massas e ainda assim estaria mais apto a se defender do imperialismo. Não faz sentido. Bukele é, na verdade, um homem aceito pelos EUA, caso contrário seria taxado de inimigo público nº 1.

É preciso avaliar a conjuntura geral. Na América Latina, há um ataque generalizada do imperialismo a todos os governos nacionalistas. Nem mesmo a Argentina, o segundo mais rico da América do Sul, conseguiu resistir. Como então El Salvador seria vitorioso ante o ataque imperialista sem uma grande luta popular? Em Honduras foram 12 anos, mas El Salvador conseguiu por meio das eleições? O que de fato acontece é que os números e defesa de Bukele são uma fraude, tal qual as eleições.

O texto toca nesse ponto: “é nisso que os inimigos estrangeiros de Bukele, tanto na mídia internacional quanto nos EUA focam. O Departamento de Justiça dos EUA tenta difamar Bukele acusando-o de fechar acordo com os grupos criminosos, ONGs e mídias internacionais se lamentam pela limitação dos ‘direitos civis’ e por aí vai. Bem, deixando de lado os EUA, que claramente se incomodam com mais um país que quer ‘agir por conta própria’ na América Central”. O problema aqui é que não existe de fato uma campanha imperialista real contra Bukele. É a mesma diferença entre a campanha de imprensa contra Dilma e contra Bolsonaro quando este estava no governo. A primeira era real, queria derrubá-la, a segunda era apenas para manter o governo nos trilhos.

O Nova Resistência apresenta críticas à “democracia liberal”, isto é, à falsa democracia criada em todo o mundo pelo imperialismo. O problema é que utiliza um exemplo que não se aplica. Bukele é só mais um fantoche do imperialismo ou do chamado globalismo. Seu governo não está em choque com o sistema vigente, faz parte dele. A América Latina tem vários exemplos de regimes que se chocam com a “democracia liberal”, Cuba, Nicarágua, Venezuela principalmente. El Salvador de Bukele não faz parte destes. Tanto é que mesmo governando o país desde 2019, não se alinhou com estes que seriam seus aliados naturais caso estivesse em choque com o imperialismo.

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