No dia 17 de abril, última quarta-feira, o sítio Esquerda Diário, ligado ao MRT, publicou o editorial “É urgente uma luta nacional para derrubar o arcabouço fiscal do governo Lula-Alckmin”. O mais novo ataque do MRT passa por uma série de apontamentos errados para chegar à conclusão de que se deve derrubar não o “arcabouço”, mas o próprio governo, algo que o grupelho sequer tem a coragem de afirmar, mas que, no fundo, defende. Vamos ao início:
“Os primeiros meses do ano de 2024 indicam que estamos diante de uma mudança na conjuntura política do país. O segundo ano do governo Lula-Alckmin apresenta mais instabilidade, diminuição da popularidade e percepção em uma parcela ampla da população de que a economia está piorando. “
O segundo apontamento está correto, a situação do governo se agrava, porém, essa não é uma mudança na conjuntura, mas um desenvolvimento lógico e constante da situação econômica estagnada no País, que vem desde o ano passado na mesma toada. Para justificar sua ofensiva, o coletivo caracteriza a situação como um “fim da lua de mel com o governo”.
“O primeiro ano do governo foi marcado pelo 8J, a fracassada ação bolsonarista que permitiu Lula integrar e estabilizar a frente ampla e, portanto, parte considerável do regime político, contra o golpismo da extrema-direita. […] No entanto, 2024 está marcado pela implementação do arcabouço fiscal, reafirmando o compromisso de Lula e Haddad com a velha cartilha neoliberal, aplicando um duro ajuste fiscal que começa a ser sentido por parcelas importantes da população.”
Agora já em falsificação grotesca, o Esquerda Diário aponta a ação bolsonarista de 8 de janeiro de 2023, que logo no início do governo o deixou completamente desmoralizado, como um fracasso. Esse “fracasso”, para o MRT, deixou Lula mais forte, permitindo a ele consolidar uma frente ampla com a direita golpista tradicional, e implementar uma política neoliberal. Lula seria, para o MRT, como um Joe Biden, ou um Michel Temer, que estaria conciliando com a extrema direita. Abordamos a questão da política econômica após mais um breve trecho:
“Nesse sentido, temos de um lado o peso do ajuste contra os trabalhadores, e, por outro lado, a resposta do governo de conciliação e inclusive de pactos com a extrema-direita.”
“Mais do que isso, esse começo de ano também foi marcado pelo aprofundamento das reformas dos governos anteriores. Até então, denunciamos como o governo tem mantido intactas reformas como a trabalhista, previdenciária e o novo ensino médio. A tragédia atual é que em muitos âmbitos o governo não só não as revogou, como vem aprofundando. Um exemplo forte e que está dando a tônica é o arcabouço fiscal, uma espécie de teto de gastos 2.0 e que vai mostrar, ao longo desse ano, sua potencialidade danosa contra direitos dos trabalhadores e verbas para os serviços públicos.”
Para o MRT, o governo que em sua primeira semana permitiu que as sedes dos três poderes fossem invadidas, por sua fraqueza, seria um governo forte! Ora, como um governo forte como esse não atacou de frente todas as medidas adotadas durante os governos golpistas? Segundo essa tese, uma única resposta seria possível: o governo é ele mesmo tal qual aqueles que anteriormente o golpearam (veja o arcabouço fiscal?).
Trata-se novamente de uma falsificação absurda. O arcabouço fiscal, embora por si de caráter neoliberal, é em seu contexto uma diminuição, do ataque neoliberal, ou um aumento da verba para os setores sociais. Ao pintar o projeto de teto de gastos 2.0, o MRT busca apontar o arcabouço como um aprofundamento do teto de gastos de Michel Temer, quando na realidade é justamente o oposto.
Sem força para revogar o teto, o governo apresentou o projeto de um teto menor, o arcabouço, que reduz menos as verbas para as áreas sociais, abre uma margem de respiro orçamentário frente ao teto de gastos, então em vigor. Nesse sentido, o arcabouço deve ser criticado, e não por ser um teto de gastos 2.0, mas por ser uma medida insuficiente. A mudança operada aqui na caracterização desta política econômica, é uma mudança para caracterizar o governo Lula como ele mesmo igual ou pior que a direita golpista, que prendeu o próprio Lula, para justificar uma ofensiva golpista contra ele, como o MRT deixa mais claro adiante.
“Contrapor-se a organização e luta independentes com o argumento de defesa do governo diante da direita […] é o caminho seguro para o abismo político e a incorporação das direções dessas organizações em novas burocracias políticas em defesa do status quo.”
Ora, aqui está explícita a posição do grupo. Se a direita ataca o governo, se ela buscar derrubá-lo, isso pouco importa para o MRT. Restaria juntar-se à direita no ataque ao governo, de maneira “independente”, é claro. Compondo a mesma política “esquerdista” que apoiou o golpe contra Dilma em 2016, com os mesmos argumentos, o MRT não tem qualquer vergonha em reciclá-los, crendo talvez que foi esquecido o feito que ajudou a levar ao poder primeiro Michel Temer e depois Jair Bolsonaro.
É lógico que é preciso se opor às medidas neoliberais colocadas em prática pelo governo, acossado pela direita. O que não quer dizer atacar o governo ou desconsiderar a posição da burguesia, que se mantém oposição a Lula. O MRT se denuncia:
“As batalhas que têm sido feitas na Argentina contra o ultraliberal Milei mostram o caminho, que deve ser de luta e não de conciliação.”
Na Argentina, a luta dos trabalhadores deve ser pela derrubada do governo, e parece ser essa, de maneira reiterada, a bandeira do MRT no Brasil. Aqui, contudo, a política é outra. Nem a esquerda e nem a classe operária brasileira estão dispostas a repetir a farsa golpista de 2016. O MRT não deve tentá-lo.