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Rio de Janeiro

Marielle não foi morta por ser mulher e negra

Marielle foi executada em razão de existir no Brasil a herdeira direta da ditadura, a Polícia Militar

Uma tese corrente no caso Marielle, assassinada em 14 de março de 2018, é que ela teria sido morta por ser mulher e negra. Teria sido um crime racial. Nesse sentido, no que teria sido, como diz uma matéria na Folha de S. Paulo, o resultado da política de que “os corpos negros são matáveis”.

Em primeiro lugar, é impossível dizer que o caso está solucionado e as novas revelações sobre a autoria intelectual do crime e quem, de fato, o praticou, na verdade, devem ser encaradas com muita desconfiança. Casos assim tendem a resultar na prisão de alguém que não foi, de verdade, o responsável pelo assassinato. São os “bois de piranha”, que servem para esconder quem realmente mandou executar Marielle Franco.

A tese apresentada pelo colunista da Folha de S. Paulo diz que o plano de execução de Marielle Franco “também levava em consideração algo crucial para execução: o fato de Marielle ser uma mulher negra e periférica, isto é, não se tratava de um homem branco de classe média, não se tratava de uma figura que, na mentalidade da branquitude, não daria muita repercussão. O plano do crime envolvia justamente a certeza de que corpos negros são descartáveis e que ninguém se importaria”.

Que a violência, de conjunto, tenha como destino a população negra e pobre, isso é indiscutível. Especialmente aquela vinda do Estado, vinda da Polícia Militar e outras forças repressivas. Mas que o caso Marielle Franco tenha a ver com isso, é uma afirmação desprovida de realidade, na verdade, e é mais uma forma de tirar proveito de um caso sinistro para a política identitária, uma forma demagógica de tratar a questão. É certo que quando calcularam sua morte, não levaram em consideração o aspecto biológico da vereadora: ser mulher e negra.

O caso, que está sem solução até o presente momento, só revela que absolutamente ninguém está seguro quando existem órgãos de repressão herdeiros direto da ditadura militar, como é o caso da PM e tudo que a envolve, as secretarias de segurança pública, as delegacias a própria Polícia Civil, enfim, a caixa preta dos órgãos repressivos do Estado só pode resultar em casos como o de Marielle Franco.

“O que os criminosos não contavam era que o caso ganhasse a repercussão que ganhou. Não imaginaram que a morte de uma mulher negra, vereadora, no Rio de Janeiro, fosse ganhar uma proporção planetária”, diz a matéria. Pelo contrário, a conta foi muito bem realizada. Já se passaram seis anos e ninguém sabe, de fato, o que aconteceu. Eles sabiam muito bem o que estavam fazendo, e que daria a exata repercussão que deu. 

“Não imaginaram a mobilização política de movimentos negros e coletivos negros. Não imaginaram que o engajamento de diversos setores da sociedade fosse até as últimas consequências para elucidar o crime”, diz o colunista.

Claro que imaginavam tudo isso. Até porque Marielle foi executada no auge da luta contra o golpe de Estado, em março de 2018, quando uma série de manifestações políticas, especialmente no ano eleitoral, tomavam as ruas para defender a candidatura de Lula e mesmo sua liberdade. Lula foi preso em abril daquele ano. A execução de Marielle teve em conta os possíveis resultados políticos do caso, certamente.

A matéria da Folha de S. Paulo conclui: “É importante que a sociedade tome conhecimento de toda a arquitetura desse crime, pois a resolução desse caso é uma resposta contundente de que corpos negros não são matáveis. Uma resposta grave e categórica de que corpos negros não são descartáveis. Uma resposta definitiva de que nenhuma morte de pessoas negras será esquecida. Nenhuma”.

As colocações demagógicas da conclusão do texto não ajudam em nada no problema do negro e a repressão e a violência. Os “corpos negros” como se diz, estão sendo executados aos montes, basta ver a atuação da PM em São Vicente (SP). Já se foram mais de 50 “almas” despachadas pela ditadura do governo de São Paulo naquela cidade, e não acontece nada. A resolução do caso Marielle, seja a fictícia (a que está sendo apresentada somente agora) seja a real (ao que tudo indica, não virá), não serve para reduzir — mesmo minimamente — a quantidade industrial de negros e pobres mortos pela polícia.

A política identitária, tal como a apresentada na matéria, tem como resultado a mais pura demagogia, a ser exercida por redatores como os da Folha, jornal que colaborou com todos os golpes de Estado, e pelas instituições judiciais, que agora posam de grandes justiceiras quando, na verdade, são também as responsáveis pelo atual estado de coisas.

O caso Marielle e outros tantos somente revelam a necessidade de acabar com a Polícia Militar e os demais órgãos repressivos. Tal como estão constituídos, estes órgãos se prestam aos interesses golpistas, da direita e do imperialismo, como o demonstrou a própria Polícia Federal em seu papel fascista durante a derrubada do PT em 2016 e as ações subsequentes, como a prisão de Lula. Isso por um lado.

Por outro, a necessidade de lutar pelo direito a autodefesa e o armamento do povo negro, pobre e trabalhador. Talvez o único remédio diante dos achaques da segurança da burguesia, a polícia, que, como pode ser visto no caso de São Vicente (SP), é altamente letal, especialmente contra pessoas indefesas. 

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